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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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Logo na frente vejo outro avião, me aproximo é um Cherokee que também vai para o campo, em<br />

seguida passando sobre a pista que ainda escorre água por todos os lados, aumento a velocida<strong>de</strong> do<br />

BUCKER e viro <strong>no</strong> dorso, fazendo o tráfego <strong>no</strong> dorso e reta fina, <strong>de</strong>sviro baixinho e pouso. AS boas vindas<br />

daquele povo amigo e os comentários <strong>de</strong> praxe sobre o tempo, eu fiquei sabendo que alguém lá nas<br />

proximida<strong>de</strong>s do campo velho havia telefonado que um avião <strong>de</strong> duas asas estava tentando um pouso lá,<br />

eles mandaram o Cherokee á minha procura. Já era meio tar<strong>de</strong> e u estava cansado. Hangaramos o<br />

BUCKER e fui para o hotel <strong>de</strong>scansar, que <strong>no</strong> dia seguinte era festa e eu sabia que ia sobrar muita coisa<br />

para mim. Acordo <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite várias vezes com barulho <strong>de</strong> chuva, será que vai haver festa, mas isso não é<br />

problema meu, obe<strong>de</strong>ço as or<strong>de</strong>ns se me mandarem voar com chuva, com sol ou com vento, eu já voei<br />

numa festa que chovia granizo,. Uma vozinha meiga que vinha lá do fundo, não sei on<strong>de</strong>, diz, durma e<br />

<strong>de</strong>scansa a “carcaça” que é a única coisa que você precisa, <strong>de</strong>ixe a idéia <strong>de</strong> machão porque amanhã vai ser<br />

outro dia e os problemas estarão resolvidos.<br />

Acordo <strong>de</strong> manhã, um café reforçado, encontro Portugal Mota que está bravo com o tempo, lá fora<br />

chove muidinho e o teto está baixo, uma viatura aparece e lá vamos nós para o campo apesar do mau<br />

tempo. Já estava cheio <strong>de</strong> gente por todos os lados. Chuvisco, teto <strong>de</strong> 100 metros, o T-6 do Portugal está<br />

com o pneu murcho, a cara <strong>de</strong>le ficou mais feio que o pneu, com aquele tempo ruim gran<strong>de</strong> parte do<br />

programa estava prejudicada. Xavantes que viriam <strong>de</strong> São Paulo, pára-quedismo, outros T-6 que viriam<br />

do Rio, inclusive o Chefe Braga, nada ia aparecer por causa do mau tempo, o povão não quer saber<br />

“quem esticou o pescoço da girafa”, eles querem ver o circo pegar fogo, dizem eles, “os aviadores que<br />

vão voar são todos cobras, machões”, o relógio anda, a hora passa, a turma da organização da festa olha<br />

para mim, já sei tenho que voar, fazer qualquer coisa, mesmo com o tempo ruim, para entreter o povo.<br />

Empurramos o BUCKER para fora do hangar, colocamos um pouco <strong>de</strong> gasolina, me apronto na nacele,<br />

ajeito o pára-quedas, amarro o cinto, alguém lá na frente pe<strong>de</strong> contato, confirmo, contato. O motor<br />

funciona <strong>no</strong> primeiro lance da hélice, dou sinal para tirar os calços, vou aquecer taxiando até o final da<br />

pista, o motor não dispõe <strong>de</strong> indicador <strong>de</strong> temperatura, já vem assim <strong>de</strong> fábrica, ele <strong>de</strong>ve funcionar <strong>de</strong> 5 a<br />

7 minutos <strong>no</strong> solo e já está pronto para <strong>de</strong>colar, fim da pista, pra 90° com a mesma, um rápido cheque<br />

geral, tudo em or<strong>de</strong>m, olho a reta final para entrar na pista, livre, alinho o BUCKER para a <strong>de</strong>colagem,<br />

chuvisco leve, o teto baixo <strong>de</strong>ve estar <strong>no</strong> máximo a 100 metros, Manet a fundo, começa correr ergo a<br />

cauda, um pouco mais <strong>de</strong> visibilida<strong>de</strong>, tiro as rodas do chão, seguro nivelado rente à pista para ganhar<br />

velocida<strong>de</strong>, o fim da pista se aproxima, uma olhada rápida <strong>no</strong> velocímetro, 1<strong>40</strong> km/h. Nariz para cima, pé<br />

e mão para direita, o avião começa a girar, espero chegar <strong>no</strong> dorso para nivelar, o morro lá na frente vem<br />

se aproximando, curva para a esquerda em vôo <strong>de</strong> dorso para <strong>de</strong>sviar do morro, <strong>de</strong>sviro para o vôo <strong>no</strong>rmal<br />

ganhando altura, flocos <strong>de</strong> nuvens baixas, estou meio visual e meio cego, <strong>de</strong>sisto <strong>de</strong> subir, ma é preciso<br />

fazer qualquer coisa, o povão está lá esperando, vou apelar para o rasante e curvas baixas em vôo<br />

invertido, não há o que fazer mais, a não ser repetir, vou para o pouso em vôo invertido, <strong>de</strong>sviro rente à<br />

pista e pouso. Portugal já tinha consertado o pneu do T-6, mas não tinha condição <strong>de</strong> fazer apresentação<br />

com aquele teto. A festa para outra vez. Adivinho o pensamento da turma, sou eu outra vez, vôo do<br />

bêbado <strong>no</strong> P-56, lá vou eu dar uma entortadas <strong>no</strong> Paulistinha, 5 ou 6 minutos apenas, a festa está parada<br />

outra vez, mas é hora <strong>de</strong> almoço e todo mundo foi almoçar. Na parte da tar<strong>de</strong> tudo se repete, mas o tempo<br />

<strong>de</strong>u uma melhorada e o Portugal voou com o T-6, já é tar<strong>de</strong> todos para o hotel. Mais uma que se foi.<br />

À <strong>no</strong>ite eu e o Portugal fomos à casa da irmã <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso inesquecível amigo Dudu, <strong>no</strong>meio daquele<br />

papo todo ela aparece com um isqueiro que diz que pertencia ao Dudu, me aposso do mesmo, sinto que<br />

ela se sente feliz com meu gesto <strong>de</strong> ter em minha mão uma coisa que pertenceu ao seu irmão. Já é tar<strong>de</strong><br />

da <strong>no</strong>ite, <strong>no</strong>s <strong>de</strong>spedimos, fomos para o hotel, uma boa <strong>no</strong>ite para o Portugal, não consigo dormir, aquele<br />

contato com a família <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> amigo que tão cedo <strong>de</strong>ixou <strong>no</strong>sso convívio. Dudu você que era<br />

gran<strong>de</strong> piloto, teoria e hora <strong>de</strong> vôo você tinha <strong>de</strong> sobra, nós voamos juntos uma única vez lá em Atibaia<br />

com o Citabria, você fez touneau meio baixo sobre a cida<strong>de</strong> e nós saímos tirando poeira dos telhados das<br />

casas, você se <strong>de</strong>sculpou dizendo que estava <strong>de</strong>streinado, mas não foi não, acrobacia baixa tem muita<br />

coisa que não está escrito em livros e manuais nenhum e eu sempre carreguei comigo a falta <strong>de</strong> chances<br />

<strong>de</strong> não ter voado mais com você e conversado aquilo que não está escrito <strong>no</strong>s manuais. O so<strong>no</strong> não vem,<br />

viro e reviro na cama. As nuvens que eu achava tão lindo quando era criança agora vivem sempre me<br />

atrapalhando. Começa em minha cabeça um retrospecto do último vôo à tar<strong>de</strong>, <strong>no</strong> looping invertido<br />

precisava <strong>de</strong> 350 metros <strong>de</strong> altura <strong>no</strong> mínimo para partir lá <strong>de</strong> cima, mas as nuvens estavam a 250 metros,<br />

ganho altura através <strong>de</strong> furos nas nuvens, lá em cima parto para o looping invertido, atravesso as nuvens<br />

<strong>no</strong> piquê com carga negativa, não se vê nada. Será que vou sair direto em cima da festa ? Frações <strong>de</strong><br />

segundos e a pista aparece, seguro o avião um pouquinho na vertical para ganhar mais velocida<strong>de</strong> para a<br />

subida, empurro o manche mais para frente o G negativo é bravo, a pista está pertinho. Uma olhada <strong>de</strong><br />

relance <strong>no</strong> velocímetro, 250 km/h, nivelo as asas <strong>no</strong> vôo <strong>de</strong> ocaso com o horizonte.

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