40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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1957 - VENDA DOS DOIS STINSON - O BIMOTOR CASMUNIZ 5-2<br />
Vendi <strong>no</strong>s dois STINSON e comprei o bimotor CASMUNIZ 5-2 , avião <strong>de</strong> 5 lugares, dois motores<br />
CONTINENTAL <strong>de</strong> 6 cilindros <strong>de</strong> 205 HP cada motor, velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cruzeiro 150 milhas. O avião era<br />
protótipo, cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitinhos, os quais eu ia eliminando aos poucos.<br />
Eu me sentia muito seguro voando com ele, dois motores, agora <strong>de</strong> pane não ia morrer, pensava eu,<br />
o sonho do piloto é chegar ao bimotor. Eu tinha realizado o meu sonho, mas em todas as viagens aparecia<br />
um problema. Ora era um motor que vibrava, <strong>de</strong>pois era o outro, nunca baixava o trem certo, sempre<br />
precisava usar o sistema manual. Muitas viagens, estava começando a Rodovia BR-2, hoje BR-116,<br />
muito serviço com os engenheiros do DNER, estava já perto <strong>de</strong> 500 horas <strong>de</strong> vôo com ele.<br />
Decolei <strong>de</strong> São Paulo, Butantã, 3 horas da tar<strong>de</strong>, tempo ruim, chovia e o teto era baixo, para<br />
diminuir o problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida em Registro, eu ia <strong>no</strong> cisca por cima da Serra o mais que pu<strong>de</strong>sse. Assim<br />
proce<strong>de</strong>ndo, eu diminuía o tempo voando instrumento, tornando mais fácil furar em Registro, que não<br />
tem rádio. Usava o radio farol <strong>de</strong> Iguape, <strong>no</strong> rumo 2<strong>40</strong>° quando o gônio sintonizado em Iguape<br />
aparecesse <strong>no</strong> través, Registro estaria em baixo, assim era o procedimento <strong>de</strong> todos os dias. Voando <strong>no</strong><br />
cisca sobre a Serra, cheguei até um lugarejo que eu conhecia: Juquetibá. Visual não dava mais. Meu nível<br />
raspando as árvores era 30, dalí para frente a Serra subia, não podia ir mais alto porque ali ainda era<br />
trafego <strong>de</strong> Congonhas <strong>no</strong> nível 50. Precisava subir para o nível <strong>40</strong>, ficando entre a Serra e o tráfego,<br />
atingindo o nível 35. O motor direito vibrava forte; reduzi o mesmo para 1.500 RPM. Com o avião<br />
muito pesado com 5 pessoas, duas peças <strong>de</strong> trator gran<strong>de</strong>s e pesada, tanques <strong>de</strong> gasolinas cheios. Naquela<br />
ocasião o avião não ganhava altura, para trás não dava, tinha <strong>de</strong>ixado tudo fechado, precisei ganhar mais<br />
um pouco <strong>de</strong> altura, não via nada, mas tinha certeza que estava raspando as árvores do alto da Serra.<br />
Apelei para o mor bom, mais polegadas, aumentei o regime <strong>de</strong> rotação, não adiantou nada, o avião não<br />
subia. Apelei para o motor ruim para que ele me ajudasse um pouco e vibrou violentamente, enchendo a<br />
cabine <strong>de</strong> fumaça, parecia que tinha pegado fogo, tentei cortá-lo e não consegui. Com aquela vibração<br />
cortou o comando da manete e da mistura. Cortei o contato, mesmo assim ele virava e vibrava<br />
<strong>de</strong>sesperadamente. No meio <strong>de</strong>ssa bagunça o avião começou a girar em cima do motor morto, pé <strong>no</strong><br />
fundo, não consegui tirar o avião da curva, cheguei até a pensar que os instrumentos também estavam em<br />
pane. Prestei atenção a todos os instrumentos que eram em Double, todos indicam curva para a direita, já<br />
estava <strong>no</strong> nível 30, o tabe direcional era gran<strong>de</strong> e o comando era elétrico, acionei o mesmo, todo para o<br />
ouro lado para aumentar a área do leme <strong>de</strong> direção, o pedal ficou duro <strong>de</strong>mais para um só pé, coloquei os<br />
dois pés em cima do pedal esquerdo, consegui tirar o avião da curva. O nível agora era me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 30.<br />
Segurei o nariz para cima, voando <strong>no</strong> pré-estol, ia bater mas eu queria bater <strong>de</strong>vagar, não se via um palmo<br />
adiante do pára-brisa. O motor direito continuava girando e vibrando, eu torcia para ele cair fora , o<br />
comando da hélice também havia quebrado e a mesma estava <strong>no</strong> passo mínimo, a carenagem do motor<br />
estava aberta, nível 2,5, a Serra tinha #1/3, não sei como ainda não tinha batido. Se eu tirasse o avião do<br />
pré-estol a condição <strong>de</strong> vôo melhorava, mas eu não podia fazer isso, não via nada, esperava bater a<br />
qualquer momento. Dividia o tem tempo rapidamente mantendo os instrumentos mais ou me<strong>no</strong>s certos e<br />
procurava ver à frente, puxar o nariz para cima, isto se aparecesse alguma coisa na frente, não estava mais<br />
com medo e sim com raiva, tinha acumulado um monte <strong>de</strong> coisas numa só vez, eu lidava com o avião às<br />
brutas, pensando: “Você quer me matar, e eu te mato primeiro”. O nível era agora <strong>de</strong> 1 ½, estou <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> uma Serra que tem 900 metros e estou a 450 metros, não bateu ainda porque, pensava eu, a luta era<br />
feia, o motor estava a ple<strong>no</strong> regime, voando <strong>no</strong> pré-estol, a refrigeração era pouca, os termômetros do<br />
óleo e da cabeça do cilindro já estavam na linha vermelha. Naquelas Condições continuei per<strong>de</strong>ndo<br />
altura, 300 metros, 600 metros <strong>de</strong> Serra eu tinha contra mim. O passageiro que estava na frente comigo<br />
era o que mais sofria, ele tinha dado baixa da FAB a pouco tempo e tinha conhecimento <strong>de</strong> tudo o que<br />
estava se passando, ele me acompanhava em tudo mas não tinha o que fazer, 200 metros <strong>de</strong> altura, não<br />
entendia mais nada, só milagre estava <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sviando dos morros, me doíam as pernas <strong>de</strong> tanto fazer força<br />
<strong>no</strong> pedal esquerdo para manter a reta, luta terrível para voar instrumento com avião <strong>no</strong> pré-estol, 100<br />
metros, eu dava não sei o que para ver na frente aon<strong>de</strong> ia enfiar a cara, me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 100 metros, dá um<br />
começo <strong>de</strong> abrir, mais uns segundos <strong>de</strong> angústia, um buraquinho estou sobre um riozinho, afrouxo um<br />
pouquinho o manche e o avião per<strong>de</strong> uma porção <strong>de</strong> metros preciosos, mas sai embaixo das nuvens.