40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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Reconheço o rio era o São Lourenço, o teto entre mim e o rio era mais ou me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 20 a 30 metros,<br />
os morros em volta estavam todos encobertos, um minuto atrás <strong>de</strong> mim haviam ficado 900 metros <strong>de</strong><br />
altura da Serra, o rumo do rio era o caminho <strong>de</strong> Registro, mas eu tinha para chegar em Registro ainda 20<br />
minutos <strong>de</strong> vôo, o motor esquerdo não ia agüentar até Registro. A 5 minutos para a esquerda eu tinha a<br />
praia <strong>de</strong> Peruíbe, mas tinha que ganhar altura para ir para a praia, não dava. O avião não voava, estava<br />
pendurado <strong>no</strong> motor esquerdo que já estava todo vermelho. O jeito era aterrar antes que ele <strong>de</strong>sse o grito,<br />
mas não havia um pedacinho <strong>de</strong> terre<strong>no</strong> que <strong>de</strong>sse. Vou me arrastando para a frente, o tempo já estava<br />
melhorando, mas não adiantava nada, não consigo ganhar um metro <strong>de</strong> altura , chego na barra do São<br />
Lourencinho com o Rio São Lourenço, este vem do lado da praia, viro para o lado do São Lourenço, a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro <strong>de</strong> Toledo na frente, a cida<strong>de</strong> é muito pequena, não tem uma rua que <strong>de</strong>sse para tentar<br />
pousar, uns eucaliptos altos, <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>les com muita dificulda<strong>de</strong>, estou a 2 minutos da praia, sigo em<br />
frente <strong>de</strong>sviando das árvores, outra cida<strong>de</strong>zinha, Itariri, passo raspando os telhados, na frente um morro<br />
divisor <strong>de</strong> águas, não tem mais jeito, o motor vai estourar a qualquer momento, uma roça morro acima,<br />
está mais alta do que eu, aviso os passageiros que a coisa vai ser lá, peço a eles que assim que tocarmos o<br />
chão eles <strong>de</strong>stravem a porta. Tudo certo, peço confirmação, coloco-me na reta da roça, puxo o nariz para<br />
cima para chegar, a mesma estava mais alta, não sei porque achei que dava com o trem em baixo,<br />
coman<strong>de</strong>i o trem, estava muito perto, a roça chegou primeiro do que o trem, o avião bateu <strong>no</strong> chão com o<br />
trem na meta<strong>de</strong> e com o baque arrancou o trem e correu uns <strong>40</strong> ou 50metros. No fim <strong>de</strong>u um ameaço <strong>de</strong><br />
pilonar e parou, a porta já estava aberta os passageiros já tinham dado o fora, eu continuava sentado, tinha<br />
um galo na cabeça e um extintor na mão. Quando o avião ameaçou pilonar, o extintor que estava em<br />
cima do porta-malas passou pelos passageiros <strong>de</strong> trás e veio na minha cabeça. Cocei a cabeça mais uma<br />
vez e pulei fora do avião. Um passageiro Dr. Maranhão, <strong>de</strong>u um acesso <strong>de</strong> alegria nele, me pegou <strong>no</strong><br />
colo e saiu correndo pelo meio do mato carregando-me, não conseguia me livrar do homem, até que ele<br />
bateu com os joelhos num toco e caiu comigo, aí ele se machucou. O avião, se não fosse a besteira que<br />
fiz tentando por o trem embaixo, não teria acontecido nada, mas mesmo assim o da<strong>no</strong> não era gran<strong>de</strong>.<br />
O problema agora era tirar o avião dali, porque não havia nenhuma estrada. Apareceram uns<br />
caboclos e ensinaram uma picada que ia sair em Itariri. Os passageiros foram embora, o Dr. Maranhão<br />
ia mancando por causa do tombo comigo <strong>no</strong> toco.<br />
Eles iam avisar meu irmão em Registro que eu fiquei, começou a chover logo que escureceu. Entrei<br />
na cabine, fechei a porta, tinha mosquito que Deus me livre. Que <strong>no</strong>ite comprida foi essa, não consegui<br />
dar um cochilo, tinha passado uma prova <strong>de</strong> fogo, meu espírito estava abalado, não tinha bati na Serra,<br />
mas o avião estava quebrado. Como iria tirá-lo dali,os cigarros estavam acabando, outro problema, eu<br />
precisava andar, já que não conseguia dormir, mas andar como se estava chovendo. Era uma escuridão<br />
terrível e por ali tinha muitas onças, quando me lembrei disso, travei aporta da cabine e quando clareou o<br />
dia apareceu <strong>de</strong> Registro o meu irmão e uma porção <strong>de</strong> amigos com ferramentas para <strong>de</strong>smontar o avião.<br />
A retirada do avião <strong>de</strong> lá é outra história que <strong>de</strong>pois contarei.