40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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Estou outra vez <strong>no</strong> rasante na praia, os coqueiros mais altos que eu. Consulto a mim mesmo, volto<br />
ou prossigo ? Resolvi prosseguir. Chove que <strong>de</strong>us me livre, começo a pensar na hélice, que vaia acabar<br />
<strong>no</strong> meio <strong>de</strong> tanta água. O motor tosse e espirra, funciona mal, só três cilindros. A chuva para como por<br />
encanto. Afasto-me <strong>de</strong> cima da praia par ter mais visibilida<strong>de</strong> da mesma. A maré está baixa, o pouso vai<br />
ser tranqüilo. Nesse preparativo para o pouso, o motor melhora, enxugou a água dos fios <strong>de</strong> velas, tirei o<br />
pouso <strong>de</strong> cogitações e toquei para frente, o motor está arredondando. Chuvas esparsas por todos os lados,<br />
mas o tempo para frente se apresenta bom.<br />
Assim ganho um pouco <strong>de</strong> altura, 100 metros, tudo está tranqüilo, checo os magnetos, jóia, 50<br />
minutos <strong>de</strong> vôo após Belmonte, cida<strong>de</strong> à frente, só po<strong>de</strong> ser Ilhéus., e era. Aparece a pista, muito boa, em<br />
cima da pista dou umas cambalhotas, faço o tradicional tráfego <strong>de</strong> dorso, <strong>de</strong>sviro baixinho para o pouso,<br />
taxio para o estacionamento, o DAC e os sargentos da FAB estão me esperando, mais uma vez o<br />
uniforme da Esquadrilha entra em cena. Um olha para o outro, se olham todos e já se propõem a resolver<br />
todos os meus problemas, que eram poucos,um pouco <strong>de</strong> gasolina e um sanduíche, estava com fome.<br />
Decolei <strong>de</strong> Vitória cedo e ainda não havia comido nada. No aeroporto não havia nada para comer. Saí na<br />
rua que era bem próxima e encontrei um pãozinho que mais parecia uma esponja e já tinha sido apalpado<br />
por não sei quantos, um ovo mal frito, não mal passado, uma COCA-COLA e um café que estava pior que o<br />
ovo e o pão.<br />
Volto para o campo, o BUCKER pronto, pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> vôo e DAC tudo jóia, rumo Salvador (Bahia), mais<br />
300 km direto. Mas o peito na dá para ir direto, 30 km mar a<strong>de</strong>ntro, mo<strong>no</strong>motor, motor <strong>de</strong> <strong>40</strong> a<strong>no</strong>s,<br />
negativo, é pela costa até Itaparica e <strong>de</strong>pois 90° à direita, mesmo assim não é muito mole, tem muita água<br />
para atravessar. 25 minutos <strong>de</strong> vôo após Ilhéus e me encontro em Itacaré, Maraú na frente, o litoral por<br />
esses lados é meio complicado, cheio <strong>de</strong> ilhas e baias, encosto para lado da terra. Deixo a ponta do Mutan<br />
bem mais para a direita, lugar ruim para pouso <strong>de</strong> emergência, o terre<strong>no</strong> é muito irregular, e o mar acaba<br />
sempre nas pedras ou <strong>no</strong> mato. 50 minutos <strong>de</strong> vôo, Ituberá na esquerda, o tempo está bom, céu azul, o<br />
motor secou das chuvas que pegou, agora está redondinho outra vez. À minha direita, Ilha <strong>de</strong> Boipeba,<br />
mais na frente Ilha <strong>de</strong> Tinharé. Uma hora e <strong>de</strong>z minutos <strong>de</strong> vôo Valença na esquerda, o vento é forte para<br />
do mar para a terra, 90° com meu rumo. É preciso segurar mais o BUCKER uns vinte graus para o lado do<br />
mar para permanecer em cima da costa. Uma hora e trinta minutos <strong>de</strong> vôo. Estou voando alto,<br />
1.000metros. Céu azul, tanque cheio, motor jóia, já estou vendo a Bahia lá na frente, Itaparica. O litoral<br />
da Bahia é todo complicado, o vento continua forte. O BUCKER vai caranguejando, com o nariz 30°<br />
voltado para o mar, para me manter sobre a costa. A velocida<strong>de</strong> resultante <strong>de</strong>ve andar às voltas <strong>de</strong> 100<br />
quilômetros por hora. Não me importo muito com isso, não tenho pressa, o tempo está bom e vou chegar<br />
num horário bom, para dar um show completo <strong>no</strong> <strong>Aeroclube</strong> da Bahia.<br />
Estou agora sobre Itaparica, é preciso fazer quase 90° à direita em direção a Salvador. Há água que<br />
Deus me livre para atravessar, confesso que não gosto <strong>de</strong> voar sobre a água. Quando em planeio não<br />
alcanço a terra. Ganho mais altura para atravessar a água. 1500 metros <strong>de</strong> altura, estou em cima daquele<br />
mundo <strong>de</strong> água, meio in<strong>de</strong>ciso. Se o motor parar aqui vou para frente ou vou para trás. Nesses momentos<br />
complicados, o tempo passa e já estou além do meio. Agora é para frente, abaixo o nariz do BUCKER para<br />
aumentar a velocida<strong>de</strong> para sair <strong>de</strong> cima d’água o mais <strong>de</strong>pressa possível. Vou per<strong>de</strong>ndo altura, estou<br />
sobre Salvador praia da Amaralina, praia da <strong>Ar</strong>mação, lá está o campo do <strong>Aeroclube</strong>. Ninguém espera<br />
minha chegada, é surpresa, vou quebrar o pau em cima do campo. Tenho certeza que os baia<strong>no</strong>s nunca<br />
viram um BUCKER voando. Me aproximo da pista, estou com 600 metros <strong>de</strong> altura, comando parafuso,<br />
três voltas, saio com velocida<strong>de</strong> e vou para um oito cuba<strong>no</strong> completo. Ainda estou alto, parto para o<br />
looping invertido <strong>de</strong> cima para baixo, completo o looping e estou na altura do tráfego. Faço o mesmo<br />
fazendo touneau, até a reta final. O restinho da reta final <strong>no</strong> dorso. Tinha pouca gente <strong>no</strong> aeroporto, mas<br />
durante a ma<strong>no</strong>bra eu via todo o povo que ora em volta da pista, fora das casas. Depois <strong>de</strong> meia hora do<br />
pouso, o campo estava cheio <strong>de</strong> gente, parecia uma festa. Recebi daquele povo uma recepção que só<br />
baia<strong>no</strong> sabe dar. Me pediram para repetir o show, o que fiz com muito prazer. Eu nunca pensei que<br />
tivesse tantos amigos na Bahia. Per<strong>no</strong>itei por conta dos baia<strong>no</strong>s. Dia seguinte, é preciso reabastecer o<br />
BUCKER <strong>no</strong> outro aeroporto. O aeroclube estava sem gasolina. Major Branco, presi<strong>de</strong>nte do aeroclube,<br />
vai me esperar <strong>no</strong> aeroporto, diz que não há problema. Decolo do aeroclube, rumo aeroporto, a torre <strong>de</strong>u<br />
luz ver<strong>de</strong>, viro para o vôo invertido e faço o tráfego todo. Na reta final faço o touneau começando <strong>no</strong><br />
dorso e terminando outra vez <strong>no</strong> dorso. A pista se aproxima, arredondo <strong>no</strong> vôo invertido, a velocida<strong>de</strong> é<br />
gran<strong>de</strong>, a pista é comprida, espero a velocida<strong>de</strong> diminuir, rasante <strong>no</strong> dorso, <strong>de</strong>sviro, glisso um pouco, para<br />
diminuir a velocida<strong>de</strong> e pouso sem <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>s. Taxiando <strong>no</strong>to que há um movimento a<strong>no</strong>rmal <strong>no</strong><br />
aeroporto, parei <strong>no</strong> reabastecimento, vem o major Branco. Pergunto a ele, o que que há ? Ele diz:<br />
Acionaram os bombeiros. Gasolina, óleo, um peque<strong>no</strong> cheque em tudo e <strong>de</strong>colo sem fazer pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> vôo.