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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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Mas isso não tem importância, pois adoro o mar e também as praias, por elas eu fui ser piloto peixeiro por<br />

dois a<strong>no</strong>s, não ganhei dinheiro, mas satisfiz o meu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aterrar nas praias e estar em contato com o<br />

mar, com a natureza ru<strong>de</strong> e bela. Duas horas e cacetadas. Um lugarzinho lá na frente é Mucuri, minha<br />

resultante <strong>de</strong>ve estar por volta <strong>de</strong> 120 quilômetros. Não tem importância, não tenho pressa. O BUCKER me<br />

transmite uma confiança cega. Tenho sete dias pela frente para chegar em São Luiz (Maranhão) ponto <strong>de</strong><br />

encontro com a Esquadrilha. Duas horas e meia <strong>de</strong> vôo. Uma ilha à vista, a orla marítima faz uma<br />

pequena curva, <strong>de</strong>ve ser Caravelas, vou me aproximando, já vejo o aeroporto, todo pavimentado, umas<br />

e<strong>no</strong>rmes pistas, vejo a biruta e estou em cima do campo. Não há sinal nenhum <strong>de</strong> luz da torre, sou muito<br />

estranho aqui, penso eu para fazer acrobacia logo <strong>de</strong> cara. Mas o tráfego <strong>de</strong> dorso não escapa. Na perna<br />

do vento viro para o dorso, completo o resto do tráfego em vôo invertido, reta final. Aqui é nível do mar,<br />

pista cumprida, vou chegar bem <strong>no</strong> rasante em vôo invertido, para <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>svirar e pousar. Aterragem<br />

tranqüila taxio para a bomba <strong>de</strong> gasolina. Uma porção <strong>de</strong> sargentos aparecem, cumprimento a todos,<br />

percebendo que estão um pouco atrapalhados, porque estou com uniforme da FAB. Explico a situação, já<br />

estão todos meus amigos. Enquanto reabasteço, vou ao DAC, faço um lanche rápido, volto logo em<br />

seguida, pois não quero per<strong>de</strong>r tempo.<br />

Pergunto quem sabe dar hélice, ninguém se habilita. Não faz mal, pois já estava esperando por isso.<br />

Sargento mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> não sabe dar hélice. Coloco um <strong>de</strong>les <strong>no</strong> comando do BUCKER explico tudo e vou eu<br />

mesmo girar a hélice. O motor pega logo na primeira, o sargento <strong>de</strong>sce, eu embarco, amarrando os cintos<br />

e já na cabeceira da pista dou a checada costumeira e tudo em or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>colo rumo a Ilhéus, mais 3<strong>40</strong><br />

quilômetros. O tempo não está mais bom, chuva na frente, nuvens baixas e isto me cheira coisa boa. O<br />

motor do BUCKER não tem blindagem <strong>no</strong>s fios das velas e quando chove forte o motor falha. A chuva está<br />

lá longe, quando chegar lá, penso com meus botões, resolvo como vai ser. Vejo uma cida<strong>de</strong>zinha lá em<br />

baixo, é Alcobaça. Observo logo a frente outro lugarejo, é Prado e lá longe na esquerda está Monte<br />

Pascoal. Continua a chuva forte <strong>de</strong> frente. Viro rumo mais para <strong>de</strong>ntro do mar, que está mais limpo.<br />

Chove forte em cima da praia. Mantenho-me <strong>de</strong>ntro do mar, mas paralelo à praia, pois um pouco mais a<br />

frente a coisa se inverte e começa a chover <strong>no</strong> mar e a praia está limpa, sou obrigado a voltar <strong>no</strong>vamente<br />

para cima da praia. Estou voando 20 ou 30 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. A maré está baixando, agora está bom,<br />

tenho um campo contínuo embaixo. Mas as praias do <strong>no</strong>rte não são como as praias do sul que é sempre<br />

areia. O mar aqui acaba às vezes num barranco e tem pedras nas praias. Há recifes para <strong>de</strong>ntro do mar.<br />

Nem todos os lugares são bons para um pouso <strong>de</strong> emergência. A chuva aumenta. Uma hora e pouco <strong>de</strong><br />

vôo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Caravelas, vejo uma cida<strong>de</strong>, é Porto Seguro e lá tem campo <strong>de</strong> aviação.<br />

Chove forte agora. Naquela angústia <strong>de</strong> ver melhor, olho por fora do pára-brisa, a chuva castiga<br />

meus olhos, parece pedregulho, guardo o rosto outra vez atrás do pára-brisa, isso se repete sempre. A<br />

chuva persiste e eu estou já <strong>no</strong> rasante rente à praia. O lugar é pouco conhecido para mim, tenho receio<br />

que surja um obstáculo na frente.<br />

Vou fazendo pequenas curvas para a direita e esquerda para enxergar um pouco mais na frente, vez<br />

outra tomo pedregulhadas <strong>no</strong>s olhos. No BUCKER chove mais <strong>de</strong>ntro do que fora já me encontro todo<br />

molhado, procuro salvar o mapa escon<strong>de</strong>ndo-o atrás do painel. É preciso fazer isso para não molhá-lo.<br />

Não posso <strong>de</strong>sprezar a atenção que tenho quedar ao lado <strong>de</strong> forra Estou muito baixo sobre a praia. Os<br />

coqueiros na minha esquerda estão mais alto que eu. O motor do BECKER já começa a dar bronca com<br />

alguns espirros afirma outra vez, é a água, já esperava por isso. Dou uma checada rápida <strong>no</strong>s magnetos,<br />

os dois estão ruins. Uma hora e <strong>40</strong> <strong>de</strong> vôo, a chuva diminui, a visibilida<strong>de</strong> aumenta, e logo vejo uma<br />

cida<strong>de</strong> a frente. Agora chove pouco. Circulo a cida<strong>de</strong>, encontro um campo, está escrito <strong>no</strong> hangar<br />

“Belmonte”, a pista está cheia <strong>de</strong> poças d’água. Entro na reta final, <strong>de</strong>sconfio que vou errar o pouso se<br />

continuar em vôo <strong>no</strong>rmal e ato contínuo viro para o dorso para fazer o restinho da reta final, <strong>de</strong>svirando<br />

para pousar rente ao chão. Na corrida na pista vou <strong>de</strong>sviando das poças d’água e taxiando para um<br />

barzinho. Não paro o motor, para não ter problemas com a partida. Pergunto se há gasolina, e logo fico<br />

sabendo que não tem. Isso só em Canavieiras me respon<strong>de</strong>m uns rapazes que estão <strong>no</strong> bar, os quais<br />

estavam discutindo ou conversando sobre o meu pouso, pois me informaram que nunca viram um avião<br />

pousar se aproximando <strong>de</strong> cabeça para baixo. Foi um show para eles. Decolo rumo a Canavieiras que é<br />

pertinho dalí. A chuva persiste com a mesma intensida<strong>de</strong>. Logo na frente Canavieiras, o campo está<br />

alagado, consulto o medidor <strong>de</strong> gasolina, tem bastante, vou para frente, penso eu, Ilhéus é o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>. O<br />

motor já está firme a água secou, já estou acostumado com ele, já sei <strong>de</strong> todas as suas manhas. Lá vamos<br />

nós rumo a Ilhéus, coqueiro que não tem fim. Meia hora <strong>de</strong> vôo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Belmonte aparece uma chuva<br />

que aperta <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo. Não tenho para on<strong>de</strong> fugir, enfrento a bicha, mais uma pedregulhadas <strong>no</strong>s olhos,<br />

mais um banho.

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