40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro
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VOLTANDO AO WACO<br />
Voltando atrás na história do WACO Cabine, um dia que a pesca <strong>de</strong> camarão havia sido muito fraca,<br />
a bordo só 100 quilos <strong>de</strong> camarão, era o dia, como diz o caiçara, a corrida <strong>de</strong> caranguejo, era aquele bicho<br />
por todos os lados, alguém sugeriu levar isso para São Paulo, pensei: eu levar, sim, mas vivos, então<br />
precisava arranjar um meio <strong>de</strong> acomodar o bicho. <strong>Ar</strong>ranjamos uns jacás e cestos, tudo amarrado com<br />
barbante, acomo<strong>de</strong>i-os <strong>de</strong>ntro do avião. Eram mais ou me<strong>no</strong>s 1.000 caranguejos. Tudo pronto, <strong>de</strong>colo.<br />
O tempo não era bom, estratos baixos. Subi para o topo 1.200 metros em cima, superfície lisa não havia<br />
furo algum, rumo 70°, 20 minutos <strong>de</strong> vôo o horizonte lá longe era preto, pensei: quando chegar <strong>no</strong> preto a<br />
camada <strong>de</strong>ve estar aberta e já cevo ter transposto a Serra. <strong>40</strong> minutos, vou me aproximando do pretão, era<br />
um valente CB, raios por todos os lados, a camada <strong>de</strong> estratos ao contrário do que pensei continuava<br />
fechada. A gasolina não dava para alternar, pois havia <strong>de</strong>colado com mesma na conta, com uns 15<br />
minutos <strong>de</strong> sobra, vou me aproximando do CB. São Paulo do outro lado, não havia outra alternativa senão<br />
atravessar o CB. Faço um cheque rápido, pau e bola funcionando, marco o tempo, sou envolvido numa<br />
violenta ascen<strong>de</strong>nte, escureceu tudo, o WACO range todo, concentro-me <strong>no</strong>s instrumentos, o velocímetro<br />
está louco, dá pulos <strong>de</strong> 50 a 60 quilômetros para cima e para baixo, a bolinha sumiu para um lado e o<br />
ponteiro para outro; procuro fazer com que os dois entrem num acordo. O altímetro sobe 200 a 300<br />
metros e <strong>de</strong>spenca <strong>de</strong> volta, as latas <strong>de</strong> camarão que estavam por baixo dos caranguejos batem <strong>no</strong> teto; as<br />
latas tinham bastante gelo miúdo, foi uma chuva <strong>de</strong> gelo <strong>de</strong>ntro da cabine. Uma gran<strong>de</strong> parte entrou pelo<br />
colarinho da camisa (gelo e camarão). Foi uma luta terrível com os instrumentos para agüentar lá em<br />
cima. Com a mudança da posição das latas <strong>de</strong> camarão com os jacás dos caranguejos, os mesmos<br />
abriram-se, aparecendo outro problema; os bichos começaram o ataque. O CB continuava. Raios<br />
riscavam por <strong>de</strong>ntro do pára-brisa, on<strong>de</strong> a briga com os instrumentos era renhida. Consultei o relógio 10<br />
minutos <strong>de</strong>ntro do maldito CB. Tenho dois caranguejos enroscados <strong>no</strong>s cabelos, dou um tapa os mesmos<br />
vão parar <strong>no</strong> pára-brisa, com um pouco <strong>de</strong> cabelo junto. Uma mordida na perna, passo a mão, o sacana<br />
está por baixo da calça subindo. Dou um jeito <strong>de</strong> impedir sua trajetória, para livrar-me do bicho <strong>de</strong>ntro<br />
daquela turbulência, os instrumentos <strong>de</strong>scontrolam-se todos, Se eu tivesse um pára-quedas pulava fora<br />
<strong>de</strong>sta coisa! Já não me <strong>de</strong>fendia mais dos que estavam em cima da roupa, só daqueles que queriam subir<br />
<strong>no</strong> meu rosto. O CB começava a clarear. Conserto o rumo que estava 100° voltando para 70° e como por<br />
encanto o sol! Céu azul ! Estou me aproximando <strong>de</strong> Santo Amaro. São Paulo na frente, limpo. Vou<br />
per<strong>de</strong>ndo altura e me livrando dos caranguejos, agora mais fácil, passei por cima da Praça da Sé.<br />
Aquele povo lá em baixo... pensei em abrir a porta e <strong>de</strong>ixar cair uns caranguejos. Estou avistando o<br />
tráfego, procurando saber qual a pista em uso. Era a pista 11. Aterro sem <strong>no</strong>vida<strong>de</strong>.