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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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O BUCKER está mole, me obe<strong>de</strong>ce com má vonta<strong>de</strong>, escapo da costela, enfio o nariz para baixo, lá vou eu<br />

para o fundo da barroca, agora tenho velocida<strong>de</strong>, mas não tenho mais saída. Nariz para cima na tentativa<br />

<strong>de</strong> pousar morro acima, o BUCKER sobe, mas o morro sobe mais que ele, o manche na barriga não tinha<br />

mais nada que fazer, o morro cresce violentamente, vou bater do pior jeito, <strong>de</strong> nariz. Me preparo para a<br />

batida, bateu <strong>de</strong> nariz e trem, uma <strong>de</strong>saceleração total da velocida<strong>de</strong> que eu vinha, <strong>de</strong>veria ser pouca, mas<br />

bati voando, alguns segundos <strong>de</strong> bobeira, uma dor violenta nas costas, pensei <strong>no</strong> momento, se perdi o<br />

domínio das pernas vou morrer queimado aqui <strong>de</strong>ntro se pegar fogo, checo as pernas e as mesmas<br />

obe<strong>de</strong>ceram, <strong>de</strong>samarro o cinto e saio o mais rápido possível. Enquanto eu me mexia para sair do avião,<br />

ele também se mexeu dando a impressão que ia rolar morro abaixo, mas sem o trem que ficou <strong>de</strong>stroçado,<br />

o bordo <strong>de</strong> fuga da asa enroscou num arbusto e o avião ficou quieto <strong>no</strong> lugar. Eu com uma dor terrível<br />

nas costas e um ferimento na testa que sangrava muito ainda estava <strong>de</strong> pé agarrado na fuselagem<br />

esperando pelo fogo. O tanque <strong>de</strong> gasolina tinha estourado com a batida e estava com muita gasolina,<br />

aquele cheiro forte. Se pegar fogo me largo por esta barroca abaixo apesar da dor que sentia. Os minutos<br />

passam o fogo não vem mais, procuro <strong>de</strong>itar <strong>no</strong> chão porque não agüento a dor, o morro tinha 80/ <strong>de</strong><br />

inclinação, eu <strong>de</strong>itado parecia estava em pé, resolvi ficar <strong>de</strong>itado ali até aparecer alguém, eu não tinha<br />

condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer aquele morro sozinho, sabia que o que eu sentia nas costas era grave. Tentar <strong>de</strong>scer<br />

aquele morro sozinho podia levar um tombo e piorar mais ainda a minha situação, fico ditado até aparecer<br />

alguém. Na hora da pane eu tinha visto casas dos sítios nas imediações, impossível que ninguém tenha<br />

visto o avião em pane para <strong>de</strong>scer. Estou per<strong>de</strong>ndo muito sangue do ferimento da cabeça, não tenho<br />

<strong>no</strong>ção do tamanho do ferimento, uma vonta<strong>de</strong> louca <strong>de</strong> olhar <strong>no</strong> espelho para ver como ficou a minha<br />

cara, não aparece ninguém, não tenho <strong>no</strong>ção do tempo, meu relógio parou, sou atacado por um bando <strong>de</strong><br />

formigas pretas que picam doído, me sinto fraco, tenho a impressão que vou <strong>de</strong>smaiar, procuro me<br />

enroscar nus arbustos, uma rama <strong>de</strong> abóboras, me agarro nela e vou puxando a mesma para me afirmar,<br />

aparece uma abóbora perto <strong>de</strong> mim e quebra o talo. A abóbora <strong>de</strong>spenca morro abaixo acompanho a<br />

mesma com a vista até <strong>de</strong>saparecer morro abaixo, pensei, se eu escapar daqui vou atrás da abóbora. As<br />

formigas me atacam, meu macacão está preto <strong>de</strong> formigas, este macacão é contra fogo, <strong>de</strong>veria ser<br />

também contra formigas, penso eu. O tempo passa, parece uma eternida<strong>de</strong>, não aparece ninguém. O<br />

sangue escorre pela testa, as costas doem dada vez mais, o sangue não para porque minha cara está<br />

sempre cheia <strong>de</strong> formigas e fico constantemente mexendo <strong>no</strong> ferimento, passa um avião muito alto eles<br />

não têm condição <strong>de</strong> me ver da altura que estão. Uma briga íntima comigo mesmo como que toda minha<br />

experiência vou bater <strong>de</strong> nariz <strong>no</strong> chão, burrice e da grossa, tenho raiva <strong>de</strong> mim mesmo, bem feito que<br />

agora seja comido pelas formigas para apren<strong>de</strong>r a não ser burro, outro ser <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim me <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>,<br />

mas não tinha jeito,a coisa foi brava, se nós tivéssemos tentado o pouso lá na crista do morro ia ser muito<br />

pior ia tocar o chão, arrebentar o trem e <strong>de</strong>spencar morro abaixo, sei lá qual seriam as conseqüências,<br />

acho que dos males esse ainda foi o me<strong>no</strong>r, agora não adianta lamúrias o que tinha que acontecer<br />

aconteceu, nada volta mais para atrás. As formigas estão insaciáveis, atacam cada vez mais, calculo o<br />

tempo pelo sol, <strong>de</strong>ve ser três ou quatro horas da tar<strong>de</strong>, as costas doem uma “coisa que presta”. Tenho<br />

<strong>no</strong>valgina em gotas lá na mala, mas não há água, não sei se po<strong>de</strong> tomar isso puro, <strong>de</strong>pois está na mala e lá<br />

<strong>de</strong>ntro do porta-malas do BUCKER, não tenho condições <strong>de</strong> fazer este esforço, me lembro <strong>de</strong> água e<br />

começa ame dar se<strong>de</strong>. Por que não fiz acrobacias em Vota Redonda ? Assim essa coisa tinha estourado<br />

em cima da pista, pior que aqui nunca po<strong>de</strong>ria ser, agora preciso ir para um hospital, sei lá por quanto<br />

tempo, esta coisa <strong>de</strong> mexer com o chassis da gente não é brinca<strong>de</strong>ira, todos que tiveram esses problemas<br />

não se <strong>de</strong>ram bem e eu não vou fugir às regras, vai vencer o meu exame médico, tenho que enfrentar o<br />

C.E.M.A. Outra vez aquela baboseira toda, outra vez o médico vai achar que eu estava sem óculos, com a<br />

cacetada que a cara <strong>de</strong>u <strong>no</strong> painel agora estaria ligeiramente ceguinho, ainda bem que aquela porcaria<br />

estava na mala e francamente não preciso <strong>de</strong>le para voar. Meus olhos passaram a vida inteira a vê as<br />

coisas lá <strong>de</strong> cima, <strong>de</strong> longe, a natureza adaptou meus olhos para essas condições e nessas condições eu<br />

<strong>de</strong>safio qualquer um que enxergue melhor que eu, psicologia, vou ser todas aquelas manchas e inventar<br />

com que elas parecem não posso dizer que parecem sangue, senão vão dizer que estou impressionado com<br />

o <strong>de</strong>sastre, mas já sei toda aquela “xaropada” <strong>de</strong> cor, há mais <strong>de</strong> <strong>40</strong> a<strong>no</strong>s que eu faço isso, eles é que não<br />

chegaram a conclusão se eu sirvo ou não para ser piloto. Avião é bacana, transporta a gente rápido d um<br />

lugar para outro, às vezes acontece isso. Lugar maldito que não tem água só tem formigas que querem<br />

me comer, minhas costas estão doendo cada vez mais, o silêncio é absoluto, estou olhando para o céu<br />

azul, altos cúmulos vagado lá por cima, um barulho <strong>no</strong> mato,, à minha direita uma preta velha vem se<br />

agarrando <strong>no</strong>s arbustos para não rolar morro abaixo, fico olhando para ela, mas ela não me vê <strong>de</strong>itado <strong>no</strong><br />

chão, ela vem com o olhar fixo na nacele do avião, vem se aproximando, continua não me vendo, o olho<br />

está firme <strong>no</strong> avião quando estava quase pisando em cima <strong>de</strong> mim eu falei qualquer coisa, ela levou um<br />

susto que quase rolou morro abaixo, a primeira pergunta que ela fez: “o senhor está vivo ? “ Sim,<br />

respondi.

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