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40 Anos de Acrobacia no Ar - Aeroclube de Bebedouro

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Pousei com o trem recolhido numa roça cheia <strong>de</strong> tocos e um <strong>de</strong>les cortou a secção central <strong>de</strong> uma das<br />

asas <strong>de</strong>baixo do meu banco. Lembro-me que an<strong>de</strong>i glissado uma porção tempo, custou para sair a<br />

tendência, po<strong>de</strong> ter sido nessa que a bacia pifou. Terminado o raio-x, me levaram para um quarto. O<br />

gesso me incomodava <strong>de</strong>mais, o médico me recomendou que se sentisse formigar as pernas, <strong>de</strong>sse o<br />

alarme o mais breve possível. Eu senti formigar mesmo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> foi lá <strong>no</strong> meio do mato em cima<br />

<strong>de</strong>las, aqui não vai formigar nada. Eu não tinha dúvidas que tinha uma vértebra trincada, mas me sentia<br />

bem, a vértebra vai soldar como soldou a bacia, não tem problema nenhum. Eu queria era dormir, mas<br />

aquele maldito gesso me atrapalhava, não conseguia respirar, estava muito apertado, começava a pegar <strong>no</strong><br />

so<strong>no</strong>, sonhava que estava enfiado num bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> óleo, acordava apavorado, <strong>no</strong>ite sem fim. Não amanhece<br />

nunca, vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir <strong>no</strong> banheiro, não sei on<strong>de</strong> é, a campainha para chamar alguém era na cabeceira da<br />

cama, puxei a mesma uma porção <strong>de</strong> vezes e não apareceu ninguém, puxei mais forte, a cordinha saiu na<br />

minha mão, preciso ir já para o banheiro, senão fica pior a emenda que o soneto. Com sacrifício danado<br />

eu me ponho em pé, as costas doem bastante, meu giroscópio parece que não está funcionando, tenho<br />

dificulda<strong>de</strong> s em ficar <strong>de</strong> pé, vou me agarrando nas coisas até o fim do corredor. È sempre <strong>no</strong>s fins dos<br />

corredores o banheiro, este para não fugir à regra também era. Retor<strong>no</strong> para o quarto, com esse esforço a<br />

dor aumentou, amanhece o dia, os médicos aparecem, peço que tirem o gesso, não agüento mais, não<br />

posso respirar, sinto falta <strong>de</strong> ar, o médico disse que não po<strong>de</strong> tirar todo o gesso, mas vai tirar uns pedaços<br />

que incomodam mais. Aparece uma serra elétrica com serrinha rotativa na ponta e começa a cortar o<br />

gesso, a serrinha ronca e entra <strong>no</strong> gesso, começo a ficar apavorado, esta serra vai me cortar o corpo, o<br />

médico vê que estou apavorado, me explica, não em perigo, a serra não gira, ela corta por vibração.<br />

Diminui bastante o gesso, mas ainda incomodava. Jornais e televisão tinham feito um carnaval com o<br />

meu aci<strong>de</strong>nte, aparece gente <strong>de</strong>sse Brasil inteiro a querer saber como estou passando, minha família se<br />

<strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> Registro, o DAC manda um funcionário para ficar <strong>no</strong> meu quarto à minha disposição, gesto<br />

muito bacana dos meus amigos do DAC. Começava a Copa do Mundo, arranjaram televisão para eu<br />

assistir aos jogos. Os médicos eram muito bacanas, um <strong>de</strong>les era piloto, ia sempre um papo comprido<br />

sobre aviação, ele tinha sofrido um aci<strong>de</strong>nte <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> Congonhas com avião GLOSTER Meteor e teve<br />

também problemas com a coluna. Chega o Chefe Braga apavorado, ele tinha ido para Barra Mansa atrás<br />

<strong>de</strong> mim logo que soube do aci<strong>de</strong>nte, mas <strong>de</strong>sencontramos. Faz uma porção <strong>de</strong> perguntas, dá bronca<br />

porque eu não fico quieto na cama, quer saber tudo como foi, <strong>de</strong>pois diz, “você largou o caminho das<br />

pedras por alguns instantes e se estrepou”. Um papo comprido sobre a festa <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, falei sobre a<br />

irmã do Dudu que me presenteou com o isqueiro que pertencia ao irmão <strong>de</strong>la, o mesmo isqueiro estava<br />

sobre o criado mudo, peguei o mesmo e disse, Chefe eu estou satisfeito <strong>de</strong>le, pegue você. Ele fez menção<br />

<strong>de</strong> pegar, mas antes que o isqueiro chegasse às mãos <strong>de</strong>le, ele puxou a mão <strong>de</strong> volt, “eu também não<br />

quero”, esfregou uma mão na outra como se estivesse livrando-se <strong>de</strong> alguma coisa... “Dudu, dizem que<br />

há alma, espírito e algumas coisas mais, tomara que tenha mesmo e que você esteja vendo e ouvindo as<br />

gozações. Você que era o maior gozador do mudo, sei que você vai ficar zangado, e que se for verda<strong>de</strong><br />

tudo isso, mais dia me<strong>no</strong>s dia, mais a<strong>no</strong>s me<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s, você vai tirar a forra.”<br />

O Chefe lembra o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>le com o T-6 na festa do Campo dos Afonsos. Começamos a<br />

recapitular a história. Estávamos em Guará, um dia antes tinha casado sua filha, e eu tinha feito acrobacia<br />

em cima da igreja na hora do casamento. No campo <strong>de</strong> Guará chovia, um mau tempo danado, íamos<br />

todos para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itú. Tempo melhora um pouco, me apronto para a <strong>de</strong>colagem, o Chefe me ajuda a<br />

amarrar os cintos, tudo pronto diz ele, “vai quebrar a cara por aí nesse tempo, véio”. Decolo rumo Itú,<br />

visibilida<strong>de</strong> ruim, chuvisco, <strong>no</strong> cisca até São Paul. Por incrível que apreça céu azul até São Paulo, toco<br />

para frente, o tempo arruína outra vez, checo o relógio, 4 horas, me agarro <strong>no</strong> Rio Tietê, passo por <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> umas grotas entre Parnaíba e Pirapora, chuva que Deus me livre, <strong>no</strong> cisca pulando árvores e linhas <strong>de</strong><br />

alta tensão, uma cida<strong>de</strong>zinha, reconheço logo – Cabreúva, para frente não dava mais, a chuva aumentou e<br />

o teto estava zero, circulo Cabreúva, olho o relógio, marca 4 horas, impossível, eram 4 horas em São<br />

Paulo. No cisca e naquele tempo eu não tinha condição <strong>de</strong> me concentrar <strong>no</strong> relógio e procuro localizar a<br />

estrada que vai <strong>de</strong> Cabreúva até Jundiaí, que passa por trás da Serra do Japi. A estrada aparece, me agarro<br />

nela, o tempo melhora um pouco, agora tenho condições <strong>de</strong> olhar o relógio que continua marcando 4<br />

horas, o <strong>de</strong>sgraçado tinha parado, aí começou a impressão que fazia uma eternida<strong>de</strong> que eu estava<br />

voando. O nível <strong>de</strong> gasolina estava me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> meio, tirei Itú completamente fora e cogitações, agora só<br />

quero encontrar a Rodovia Anhanguera , me agarrar nela e chegar em Rio Claro. A rodovia apareceu, o<br />

tempo melhorou bastante, agora rumo 349°, Rio Claro, pouso então. O pessoal do hangar me informa<br />

que o Braga bateu <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e está <strong>no</strong> Hospital. Procuro telefonar para o Rio, me informam que<br />

ele está bem, mas está na sala <strong>de</strong> recuperação. Bem, mas na sala <strong>de</strong> recuperação ? Não gostei. Pego meu<br />

carro toco direto para o Rio. Já é <strong>no</strong>ite, tanque <strong>de</strong> gasolina do caro cheio, rumo Rio <strong>de</strong> Janeiro. A<br />

maldição dos oitentinha por hora, não há cristão que consiga ficar acordado <strong>no</strong> volante <strong>de</strong> um carro nesta<br />

velocida<strong>de</strong>, aumentava a velocida<strong>de</strong> para disfarçar o so<strong>no</strong>, em seguida era importunado pelos guardas.

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