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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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percebe que existe uma comunhão muito grande entre o movimento, a coreografia e a idéia<br />

musical, e isso falta muito a determi<strong>na</strong>dos compositores que não tocam, que não têm a<br />

experiência de improvisação, não têm a experiência do gesto musical em si, vívido… isso<br />

frustra determi<strong>na</strong>dos momentos <strong>na</strong> composição, você percebe imediatamente quando isso<br />

“escorrega”, e aí vira uma coisa escrita, mais forçada. Por outro lado, a composição, pelo fato<br />

de ter mais tempo de decisão no processo de estruturação, tem sem dúvida uma vantagem,<br />

porque ela organiza as coisas de uma maneira mais calma. Na improvisação não há tempo: o<br />

tempo está correndo, você está tocando. É uma coisa muito localizada, enquanto <strong>na</strong><br />

composição você organiza os materiais com um espaço de tempo muito maior. Pode-se<br />

trabalhar meses em uma composição, alterar detalhes etc. Esse processo de organização é<br />

mais “profundo”, por assim dizer. Essa é a vantagem da composição. Aí você tem que explorar<br />

elementos que serão passados a um grupo, e eles vão seguir a sua partitura, e então depende<br />

do tipo de trabalho que você vai fazer. Se você tiver um excelente intérprete, que seja um<br />

excelente improvisador mas também trabalhe com partitura, você pode criar uma obra<br />

[especialmente] para ele, sabendo usar toda a capacidade do intérprete de se libertar e de se<br />

movimentar. Depende do tipo de trabalho. Para uma orquestra, é difícil fazer um trabalho<br />

totalmente improvisado, coorde<strong>na</strong>r cem músicos… depende da proposta. Porém, não se deve<br />

também pecar pelo outro lado e dizer que a composição rígida [não é boa]… é só compreender<br />

como funcio<strong>na</strong>m os processos, e usar de maneira harmônica uma e outra. É claro que existe<br />

entre uma e outra o problema da autoria do compositor, e isso é uma coisa um pouco já…<br />

anquilosada, como é que se diz? Não é “esclerosada”, “anquilosada” é onde se depositam<br />

calcários [risos], é um problema meio difícil. Isso é extremamente oriundo da nossa civilização<br />

ocidental: a questão da autoria… e a improvisação provoca isso, porque [nela] essa autoria se<br />

dissolve. Os compositores se sentem um pouco atacados e… [risos] bem, existe o mau<br />

improvisador, existe o mau compositor, enfim, isso depende do ser musical e de até que ponto<br />

ele é refi<strong>na</strong>do em si mesmo para enunciar materiais musicais. Esse seria o meu ponto de vista.<br />

Eu acho que, mesmo <strong>na</strong> intuição, você descobre toda uma organização inter<strong>na</strong>, ainda que seja<br />

rapsódica, turbulenta, caótica; você pode encontrar uma grande riqueza como pode também<br />

encontrar uma pobreza terrível.

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