Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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Eu vejo <strong>na</strong> obra fechada tanta possibilidade quanto <strong>na</strong> obra aberta ou <strong>na</strong> improvisada.<br />
Temos um grupo agora que se chama Akronon, eu, Edson e Rogério. Nós não determi<strong>na</strong>mos<br />
<strong>na</strong>da. Vamos interagindo no caminho. Nenhum compositor deixaria isso. “Junte um grupo de<br />
sete pessoas e faça música e chame isso de minha música”. Nenhum compositor aceitaria isso.<br />
Mas nem a música para trecos do Jorge Antunes. “Cate qualquer treco, leve para o palco com<br />
mais outras dez pessoas com trecos e toque”. Nem essa música era tão indetermi<strong>na</strong>da. Não há<br />
indetermi<strong>na</strong>ção. Há sempre um compositor que está guiando as pessoas, e você improvisa<br />
dentro daqueles limites. Acho que não tem diferença nenhuma escrever exatamente o que que<br />
deve ser tocado. Quando Stockhausen escreveu aquelas coisas malucas nos Klavierstücke, ele<br />
inventou um novo gesto de piano que não existia. Quando Boulez escreveu coisas para voz<br />
com aqueles saltos, ele inventou um novo gesto vocal. Stravinski inventou um gesto<br />
instrumental. E o compositor que pede improvisação não inventa gesto nenhum. Ele usa os<br />
gestos que outros compositores inventaram, às vezes através de cálculos totalmente travados,<br />
de uma coisa rígida, dura. Eu vejo tanto <strong>na</strong> composição autoral escrita quanto <strong>na</strong> de<br />
improvisação o mesmo nível de “aprisio<strong>na</strong>mento” do instrumentista. Esse aprisio<strong>na</strong>mento é <strong>na</strong><br />
verdade o grande barato também. Porque também é legal tocarmos a nota no lugar onde ela<br />
está. É delicioso tocar Webern e acertar aquela nota certinha e “gelada”. É bom tocar Mozart e<br />
tocar certo os ataques. É gostoso, ao tocar piano, sentir o acorde soando juntinho. Como em<br />
Brahms, por exemplo, ouvir os acordes mais abertos sem arpejar. Há um gosto por isso. Deve<br />
ser muito bom para um flautista tocar Brian Ferneyhough. Deve ser bom tocar, senão ninguém<br />
estaria tocando. Então eu vejo esta questão da autoria e da improvisação hoje em dia como<br />
um falso problema. Agora, <strong>na</strong> década de cinqüenta, sessenta era uma coisa importante a<br />
música sem autor. Era dizer: “Está vendo toda esta técnica? É besteira. Nós podemos tocar<br />
isso com pessoas que nunca tocaram instrumento nenhum”. Isso era uma posição<br />
revolucionária. Hoje em dia, há diversos grupos de improvisação, mesmo em educação. O que<br />
é pior, no caso da educação, é que junta-se dez alunos que nunca tocaram <strong>na</strong>da e o que eles<br />
fazem? Plum, plum, plum, toda música óbvia possível <strong>na</strong> face da terra de uma vez só.<br />
<strong>Improvisação</strong> para quem nunca improvisasou é isso: uma sequência de obviedades de cada<br />
um. Outro dia um colega meu foi improvisar com outro colega numa sessão de improvisação.<br />
Eles nunca tinham improvisado juntos. Um só trabalha com improvisação e o outro é um