Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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deste trabalho, também pode ser situada dentro desse universo de obras, embora o seu grau<br />
de controle sobre a liberdade do intérprete seja um tanto ainda maior. Já Akronon, de<br />
Koellreutter, foge desse universo da liberdade controlada: nela, há somente uma definição<br />
bastante genérica das microestruturas a serem tocadas pelo piano, bem ao contrário do que<br />
ocorre <strong>na</strong> <strong>Música</strong> para Piano n º 1 , no Klavierstück XI e <strong>na</strong> Troisième So<strong>na</strong>te.<br />
Blirium C-9 (Gilberto Mendes, 1965) é um dos caso bastante peculiar de indetermi<strong>na</strong>ção<br />
aqui apresentados, ao lado de Onthos, de Aylton Escobar. De início, já se observa que não há<br />
partitura escrita em formato tradicio<strong>na</strong>l – a maior parte dela é composta por um longo texto<br />
explicativo, com alguns desenhos e gráficos ilustrativos. A própria instrumentação não é<br />
definida, apesar de se situar dentro de um campo delimitado de possibilidades. Tais<br />
características iniciais poderiam nos fazer pensar em uma semelhança com Aus den Sieben<br />
Tagen, de Stockhausen, composta três anos depois (1968), que é o auge da chamada fase de<br />
“música intuitiva” do compositor. Aus den Sieben Tagen também não tem partitura, mas uma<br />
série de textos-poemas que sugerem situações musicais e estados de espírito aos intérpretes.<br />
Uma análise mais cuidadosa, porém, nos mostra que tal semelhança é puramente<br />
superficial, uma vez que conceitualmente ambas são completamente diferentes, senão<br />
opostas. A proposta de “música intuitiva” de Stockhausen é baseada em uma recusa da idéia<br />
comum de “improvisação” (<strong>na</strong> qual os músicos trabalhariam de forma mais ou menos<br />
mecânica sobre modelos muito bem definidos, estruturas harmônicas e melódicas pré-<br />
estudadas, por exemplo). Stockhausen buscava uma máxima liberação das possíveis<br />
estruturas adquiridas em prol de uma atuação musical quase ritualística, onde os<br />
instrumentistas deveriam tocar da maneira mais livre possível – o que não deixa de ser uma<br />
situação paradoxal, já que os músicos do grupo de Stockhausen tinham anos de experiência<br />
em música contemporânea, e em especial um profundo contato com a obra de Stockhausen.<br />
Como esperar, então, que eles se desvencilhassem desse tipo de sonoridade mesma ao qual já<br />
estavam tão habituados? Ainda que, dentro da prática da criação contemporânea, estivessem<br />
todos abertos a uma variedade extremamente mais ampla de possibilidades sonoras, não há<br />
como negar que a sua música “intuitiva” estaria situada dentro de um campo de possibilidades<br />
razoavelmente claro – o meio da produção musical da vanguarda européia dos anos 50 e 60,<br />
incluindo aí seus possíveis “clichês” e procedimentos mais comuns. De outro lado, resta ainda