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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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acaso “absoluto”<br />

Até aqui pudemos ter contato com algumas abordagens possíveis disso que chamamos<br />

de acaso, indetermi<strong>na</strong>ção e aleatoriedade. É evidente que existem muitas outras teorias e<br />

interpretações para os mesmos problemas, tanto em outros campos de conhecimento da<br />

cultura ocidental quanto em outras culturas e civilizações. Os aspectos estudados até aqui são<br />

úteis e, por ora, suficientes para nossos estudos posteriores sobre a indetermi<strong>na</strong>ção em<br />

música.<br />

Mas vale a pe<strong>na</strong> falar rapidamente de algumas abordagens diferentes, provocadoras, que<br />

tratam do acaso como algo absoluto. Como assim? Trata-se de pensar o acaso como algo em<br />

si, acreditando <strong>na</strong> absoluta ausência de causas no universo. É a crença de que algo possa ser<br />

gerado a partir do <strong>na</strong>da.<br />

Uma das base deste tipo de filosofia está no poeta e filósofo romano Lucrécio (I a.C.), e<br />

seu conceito de cli<strong>na</strong>men (incli<strong>na</strong>ção, desvio). Tudo o que existe seria feito de peque<strong>na</strong>s<br />

partículas – átomos – em constante movimento vertical, devido a seu peso. Choques e desvios<br />

dessas partículas provocariam incli<strong>na</strong>ções que, ao acaso, dariam origem às coisas da <strong>na</strong>tureza.<br />

O fato de o acaso estar <strong>na</strong> origem de tudo seria a justificativa para o livre arbítrio e a liberdade<br />

do homem, mais importante do que qualquer tipo de determi<strong>na</strong>ção. Saltando ilustrativamente<br />

para outro pensador antigo, encontramos em As Leis, de Platão, o acaso origi<strong>na</strong>do pelos<br />

deuses: "Os jogos inevitáveis do acaso engendraram assim, e sem outro recurso, todo o céu e<br />

tudo o que ele contém; em seguida, todos os animais e todas as plantas (…) e essa criação se<br />

fez sem nenhuma intervenção da inteligência nem de qualquer deus que seja, e nem da arte<br />

[arte entendida, aqui, como qualquer produto do trabalho humano]; simplesmente, como foi<br />

colocado, pela <strong>na</strong>tureza e pelo acaso" 11 .<br />

Realizando um último salto ilustrativo: segundo o que se chama de filosofia trágica 12 , o<br />

acaso absoluto existiria como recusa à própria idéia de <strong>na</strong>tureza. As coisas que existem seriam<br />

fruto de circunstâncias casuais e instáveis, felizes (ou infelizes) coincidências. O acaso não<br />

seria uma exceção dentro da <strong>na</strong>tureza, mas sim o contrário. Só perceberíamos o 'mundo' e a<br />

'<strong>na</strong>tureza' como conjuntos de coisas estáveis devido à brevidade da existência huma<strong>na</strong>.<br />

14

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