Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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instrumentos diferentes” 47 . Ainda dentro da questão da indetermi<strong>na</strong>ção instrumental, a<br />
partitura nos explica que instrumentos de percussão podem ser acrescentados a qualquer uma<br />
das versões mencio<strong>na</strong>das; a utilização de um tape para acompanhamento ao vivo, gravado por<br />
um único instrumentista, também é uma possibilidade para a realização das versões a) e b).<br />
Em uma primeira observação da partitura nota-se logo que, <strong>na</strong> verdade, não há<br />
partitura. São sete pági<strong>na</strong>s de explicações escritas, onde o compositor detalha,<br />
paradoxalmente, cada um dos procedimentos a serem seguidos para a realização da música<br />
que, em essência, é uma grande improvisação dirigida. Por exemplo, ao mesmo tempo em que<br />
o ponteiro de um relógio situado ao lado do instrumentista determi<strong>na</strong>rá com precisão os<br />
grupos de notas a serem tocadas, de acordo com convenção explicada <strong>na</strong> partitura-bula, o<br />
próprio instrumentista tem a liberdade de acrescentar aos grupos determi<strong>na</strong>dos uma outra<br />
nota de sua livre escolha, ou mesmo tocar um outro grupo de notas não determi<strong>na</strong>do pelo<br />
ponteiro. Esses mesmos procedimentos de liberdade, porém, são por sua vez limitados através<br />
de regras próprias. Tudo isso acaba por conferir ao próprio ato de preparação e execução um<br />
caráter de jogo e desafio inimagináveis até então dentro dos moldes da tradição musical<br />
Ocidental. Um acúmulo de tensão do intérprete <strong>na</strong> tentativa de seguir rigorosamente as regras<br />
colocadas pode ser subitamente rompido por um fragmento de colagem ou improvisação<br />
(“liberdade descontrolada, completa”), como solução para uma dificuldade de coorde<strong>na</strong>ção<br />
muito prolongada.<br />
Não vamos aqui explicar em minúcias todo o complicado “regulamento” desse jogo<br />
musical, por fugir aos propósitos desta pesquisa. O trabalho de um intérprete sobre esta peça<br />
exige uma leitura exaustiva e compreensão de toda a bula, além da preparação de um<br />
material de apoio à execução, como folhas de caderno com notações variadas sobre ritmos,<br />
dinâmicas e registros a serem utilizados.<br />
Vamos, porém, a título de ilustração, resumir aqui algumas das principais indicações de<br />
realização para Blirium C-9.<br />
Plano das Alturas - da organização das sucessões de notas em diferentes registros. Os<br />
registros do instrumento devem ser quase que serializados, orde<strong>na</strong>dos em uma seqüência de<br />
combi<strong>na</strong>ções a ser seguida rigorosamente. Um desenho explica ao intérprete a relação entre<br />
as indicações de um ponteiro de relógio (segundos) e determi<strong>na</strong>dos grupos de notas a serem<br />
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