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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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retratar de alguma outra maneira. Quando improvisamos, sinto que há alguma coisa ligando<br />

isso tudo, uma espécie de energia que envolve os improvisadores, e essas pessoas<br />

compartilham uma determi<strong>na</strong>da idéia de corpo, de espírito e de intenção que é facilmente<br />

refletida <strong>na</strong> maneira de tocar, mas é impossível de se escrever e de se descrever. Eu chamo<br />

isso de orgânico porque acho que isso tudo vem do corpo e da maneira de se fazer as coisas.<br />

Como podemos sentir que determi<strong>na</strong>do ritmo ou informação vem <strong>na</strong> hora certa e nos satisfaz?<br />

Uma porção de coisas acontencendo, e no entanto esperamos uma certa informação em um<br />

determi<strong>na</strong>do momento, e quando ela vem e se encaixa precisamente <strong>na</strong>quele momento,<br />

sabemos que não poderia ter sido nem um pouco antes nem um pouco depois. O que é isso?<br />

Como descrever isso? Acho que isso acontece em função do corpo, e de como sentimos as<br />

coisas mais ou menos <strong>na</strong>turais nesse sentido. Algumas das principais características da<br />

improvisação estão ligadas a isso.<br />

Por outro lado, não há tempo hábil para fazermos elaborações muito grandes, em<br />

diversos níveis perceptivos no momento em que estamos fazendo. Pode-se chegar a peças<br />

bastante elaboradas, é claro, mas isso depende da nossa experiência. Juntamos tanta<br />

informação e experiência que conseguimos coorde<strong>na</strong>r muitos pensamentos ao mesmo tempo,<br />

subconscientemente, e isso produz uma música concate<strong>na</strong>da, bem estruturada… mas<br />

normalmente não é assim. Quando se tem tempo, pode-se elaborar uma composição em<br />

diversos níveis diferentes. É como uma partida de xadrez: jogue xadrez com um minuto para<br />

cada jogador pensar, e outra partida com o tempo livre. Uma delas vai ser medíocre,<br />

praticamente. O [pouco] tempo que se tem para pensar leva a coisas mais superficiais. Mas<br />

também não podemos dizer que isso é pior, ou se essas coisas superficiais são as mais óbvias,<br />

pois a decisão não é algo consciente, mas subconsciente ou inconsciente. Não há tempo para<br />

pensar no que se vai fazer em uma improvisação – isso em um tipo de improvisação livre, em<br />

que estamos a todo o tempo elaborando a peça, não em uma coisa mais pré-programada. É<br />

difícil saber se essas poucas coisas que conseguimos elaborar subconscientemente ou<br />

inconscientemente são coisas de níveis “profundos” ou “superficiais”; isso não funcio<strong>na</strong> da<br />

mesma maneira que o racio<strong>na</strong>l, pensado, escrito. Essas são particularidades da improvisação.<br />

Em relação à música escrita, há o problema da notação, do registro, da impossibilidade da<br />

reprodução (reprodutibilidade da obra), da autoria… as pessoas se ligam muito ainda a nomes,

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