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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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compositor que só trabalha “duro”. O que que o outro improvisou? Um Alban Berg e não<br />

parava mais… [risos], não respirava, não interagia, não ouvia o outro, não repetia frases. Ficou<br />

tocando sozinho durante horas [risos]. A primeira improvisação de todo mundo é sempre ruim.<br />

Ela é sempre óbvia. É diferente de uma improvisação de um compositor que passou por<br />

diversas coisas. Eu gosto bastante do meu trabalho com Fer<strong>na</strong>ndo Iazzetta, que aliás é<br />

totalmente de improvisação. A bailari<strong>na</strong> dança e a nós tocamos. Nós dois temos o mesmo<br />

idioma de música contemporânea. Ele foi percussionista de um grupo de música nova, tocou<br />

Cage, todas essas coisas. E eu um compositor dessas coisas. Por isso, as formas de articulação<br />

são muito parecidas, um consegue entender o que o outro está querendo fazer. Por quê?<br />

Porque nós temos esse repertório <strong>na</strong> cabeça, um repertório amplo. Na improvisação o<br />

repertório deve ser cada vez maior. Alguém com um pequeno repertório improvisa muito mal.<br />

Se você der uma caneta como essa [mostra a caneta] para o Fer<strong>na</strong>ndo Iazzetta ou o John<br />

Boudler improvisar, eles vão fazer loucuras. Já alguém como o Hermeto [Pascoal] vai fazer<br />

baião. Por mais que ele fique cinqüenta horas com a caneta, ele continuará fazendo o ritmo<br />

característico, uma escala mixolídia com sétima etc. Ele vai colocar dentro do idioma dele uma<br />

sonoridade estranha. Ele pega um treco qualquer e faz… mas sempre a música do idioma dele.<br />

Já com essa formação de música contemporânea, você acaba tendo idiomas os mais<br />

disparatados <strong>na</strong> mesma improvisação. Isso é uma coisa importante.<br />

Qual o papel da improvisação diante da composição? Qual o diálogo e como uma<br />

alimenta a outra?<br />

SILVIO: Beethoven é o compositor que vai fi<strong>na</strong>lmente dar o passo para que a composição<br />

como escritura surgisse com maior força frente à composição de improvisação, e depois vamos<br />

ter Chopin, que é o compositor por improvisação novamente. Chopin improvisava. Tanto<br />

improvisava que cada vez que refazia um estudo, ele ficava diferente. E escrevia Prelúdios e<br />

Estudos. Por quê? Para repetir a mesma frase durante um tempo, modulando, expandindo,<br />

etc. Acho que a relação entre improvisação e escritura é essa. O Beethoven fala, em uma de<br />

suas cartas, em ter um piano e ao lado uma mesa. Algumas idéias devem ser desenvolvidas<br />

<strong>na</strong> mesa, outras devem ser trabalhadas ao piano. Todos os gestos, as sonoridades, só

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