Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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fundamentalmente pela habilidade <strong>na</strong> composição em um tempo global relativo das estruturas<br />
de alturas-intensidades-durações (sendo que as relações entre os parâmetros destas últimas<br />
são sugeridos pela codificação dos diagramas).<br />
algumas comparações<br />
<strong>Música</strong> para Piano n.º. 1 (Gilberto Mendes, 1962) foi resultado de uma encomenda ao<br />
compositor feita pela rádio A Tribu<strong>na</strong>, de Santos, para ser tocada <strong>na</strong> prova fi<strong>na</strong>l de um<br />
concurso de piano. Gilberto Mendes já havia composto anteriormente uma coleção de Peças<br />
para Piano; resolveu mudar de “peça” para “música” para começar um outro tipo de<br />
composições para piano, escritas de acordo com suas novas preocupações. De fato, foi em fins<br />
da década de 50 que Gilberto Mendes começou a tomar contato com as primeiras partituras de<br />
Boulez e Stockhausen que chegavam ao Brasil, o que foi fazendo com que se voltasse<br />
decisivamente para a música de vanguarda. Após grande viagem pela Europa em 1959, voltou<br />
carregado de partituras e gravações que o influenciariam de forma decisiva, como os primeiros<br />
Klavierstücke e o Kontrapunkte de Stockhausen. <strong>Música</strong> para Piano nº. 1 está próxima de<br />
Klavierstück XI, de Stockhausen. Klavierstück XI é composta por uma grande e única folha de<br />
papel onde estão dispostos dezenove blocos e fragmentos de música escrita, a serem tocados<br />
em qualquer ordem escolhida pelo pianista. Após interpretar um deles o pianista escolhe outro<br />
e o toca de acordo com as indicações de tempo, dinâmica e articulação indicados ao fim do<br />
bloco anterior. São permitidas repetições de fragmentos, bem como a omissão de um ou mais<br />
deles; a peça termi<strong>na</strong>ria no momento em que um dos blocos for tocado pela terceira vez.<br />
<strong>Música</strong> para Piano n º 1 tem uma forma um tanto mais “fechada” nesse sentido, mas a<br />
semelhança de conceitos é evidente: <strong>na</strong> peça de Gilberto Mendes, quatro pequenos blocos são<br />
dispostos ao pianista em uma ordem A, B, C e D. Devem ser tocados uma vez nesta ordem, e<br />
duas outras vezes em qualquer ordem escolhida pelo intérprete. Como cada um dos blocos<br />
possui suas próprias indicações de andamento, dinâmicas e articulações, não há o fator de<br />
interdependência entre os fragmentos como havia em Stockhausen. A busca de novos timbres<br />
do instrumento e a herança da escrita pontilhista e serial também estreitam as semelhanças<br />
entre ambas as músicas. A Troisième So<strong>na</strong>te de Pierre Boulez, comentada em seção anterior