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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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Umberto Eco e a Obra Aberta<br />

As próximas pági<strong>na</strong>s serão dedicadas inteiramente ao livro Obra Aberta, do italiano<br />

Umberto Eco, publicado pela primeira vez em 1957, <strong>na</strong> Europa, e que só foi traduzido e<br />

lançado em português no Brasil em 1968. Obra Aberta pode ser considerado um texto chave<br />

no panorama das questões estéticas da obra de arte ocidental <strong>na</strong> segunda metade do século<br />

XX. Vamos aqui comentar algumas das principais idéias abordadas no livro e que tocam<br />

diretamente o problema da indetermi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong> música contemporânea.<br />

De início, Eco explica que a obra aberta à qual o livro se refere não existe <strong>na</strong> prática;<br />

por questões metodológicas, imagi<strong>na</strong>-se <strong>na</strong> verdade um 'modelo teórico de obra aberta', que<br />

não é a estrutura objetiva de certas obras, mas antes a estrutura de uma relação fruitiva entre<br />

os receptores e a própria obra. Discutem-se, ao longo do livro, tendências contemporâneas no<br />

mundo das artes ocidentais surgidas a partir da década de 50 que se aproximam ou se<br />

identificam com essa idéia geral de uma 'estética da obra aberta'.<br />

Definindo obra como "objeto dotado de propriedades estruturais definidas, que<br />

permitam – mas coordenem – o revezamento das interpretações, o deslocar-se das<br />

perspectivas" 13 , encara-se uma obra de arte como uma mensagem fundamentalmente<br />

ambígua; em outras palavras, uma pluralidade de significados coexistindo em um único<br />

significante. Com isso, podemos entender que toda obra de arte, mesmo as do passado, são,<br />

em essência, abertas, uma vez que a cada nova fruição por uma pessoa, seja de um filme, de<br />

um quadro ou de uma música, dará origem a novas relações e interpretações possíveis dentro<br />

dessa experiência estética, em parte devido ao próprio receptor e em parte devido à própria<br />

obra, que delimita um campo de probabilidades. Vale notar que <strong>na</strong> definição de obra acima<br />

citada, Eco já observa que ela deve não só permitir, mas também coorde<strong>na</strong>r a pluralidade de<br />

interpretações, ou seja, organizar os caminhos possíveis, indicando-os ou ao menos<br />

apontando-os.<br />

O que há de novo em uma poética da obra aberta, segundo o autor, é quando<br />

justamente essa ambigüidade é tomada como valor pelos artistas contemporâneos. Voltando-<br />

se à informalidade, à casualidade, à indetermi<strong>na</strong>ção dos resultados, tais artistas procurariam<br />

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