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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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13<br />

Se a<strong>na</strong>lisadas com mais calma, podemos relativizar nosso deslumbramento diante de tais<br />

situações “fantásticas”. Esses acasos só existem, <strong>na</strong> verdade, devido à percepção huma<strong>na</strong> dos<br />

fatos. Considerando a infinidade de eventos que ocorrem a cada segundo, e todo o movimento<br />

que é parte integrante da vida dos habitantes do nosso planeta, os acasos estão virtualmente<br />

por toda parte. Entretanto, a imensa maioria dos eventos não atinge a nossa percepção;<br />

grande parte sequer é notado por um único indivíduo. A seletividade da nossa atenção é que<br />

determi<strong>na</strong> a percepção de um fato como 'acaso'. Nossa atenção, que sob um prisma<br />

fenomenológico é também sempre intenção, funcio<strong>na</strong> como um filtro que separa os eventos<br />

para nós significativos, dentre milhões de acontecimentos micro e macroscópicos que se<br />

desenrolam em todo lugar e a todo momento de forma necessariamente aleatória,<br />

considerando que não temos conhecimento de suas milhares de causas. Sendo huma<strong>na</strong>mente<br />

impossível captar a totalidade dos eventos ao nosso redor, permanecemos indiferentes à<br />

maioria deles; dentre os poucos que percebemos existem alguns que chamamos de acasos. Os<br />

nossos “fantásticos” exemplos, o do encontro inesperado de dois amigos e o de tirar o número<br />

seis em todos os dados, são acontecimentos tão igualmente prováveis como tantos outros. A<br />

probabilidade de sair uma dupla de seis nos dados é a mesma de todas as outras combi<strong>na</strong>ções<br />

possíveis. O fato de uma pessoa encontrar-se 'inesperadamente' com outra conhecida, apesar<br />

de abranger variáveis mais complexas, pode ser tão provável quanto essa mesma pessoa<br />

esbarrar em um desconhecido qualquer. A maior significância de cada situação está no valor<br />

subjetivo que conferimos a ela. As chamadas coincidências só são importantes para o ser<br />

humano que as percebe, sendo a surpresa, nesse caso, também ela uma espécie de convenção<br />

social.<br />

E o que é essa significação de um acaso? Todos os dias cente<strong>na</strong>s de pessoas<br />

desconhecidas passam por nós <strong>na</strong> rua, e não prestamos atenção a esses fatos. Entler diz que<br />

"não há surpresas para acasos que não são significativos; do ponto de vista subjetivo, sequer<br />

chega a existir acaso" 10 . Os acontecimentos só significam algo para a pessoa que os percebeu,<br />

para as pessoas envolvidas em uma rede de informações intersubjetivas em comum. Podemos<br />

chegar a dizer que certos acasos que acontecem às pessoas já são de certo modo esperados,<br />

embora não sejam previsíveis nem planejáveis, e isso porque estariam dentro do 'reservatório<br />

de coincidências possíveis' de cada indivíduo.

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