Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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Se a<strong>na</strong>lisadas com mais calma, podemos relativizar nosso deslumbramento diante de tais<br />
situações “fantásticas”. Esses acasos só existem, <strong>na</strong> verdade, devido à percepção huma<strong>na</strong> dos<br />
fatos. Considerando a infinidade de eventos que ocorrem a cada segundo, e todo o movimento<br />
que é parte integrante da vida dos habitantes do nosso planeta, os acasos estão virtualmente<br />
por toda parte. Entretanto, a imensa maioria dos eventos não atinge a nossa percepção;<br />
grande parte sequer é notado por um único indivíduo. A seletividade da nossa atenção é que<br />
determi<strong>na</strong> a percepção de um fato como 'acaso'. Nossa atenção, que sob um prisma<br />
fenomenológico é também sempre intenção, funcio<strong>na</strong> como um filtro que separa os eventos<br />
para nós significativos, dentre milhões de acontecimentos micro e macroscópicos que se<br />
desenrolam em todo lugar e a todo momento de forma necessariamente aleatória,<br />
considerando que não temos conhecimento de suas milhares de causas. Sendo huma<strong>na</strong>mente<br />
impossível captar a totalidade dos eventos ao nosso redor, permanecemos indiferentes à<br />
maioria deles; dentre os poucos que percebemos existem alguns que chamamos de acasos. Os<br />
nossos “fantásticos” exemplos, o do encontro inesperado de dois amigos e o de tirar o número<br />
seis em todos os dados, são acontecimentos tão igualmente prováveis como tantos outros. A<br />
probabilidade de sair uma dupla de seis nos dados é a mesma de todas as outras combi<strong>na</strong>ções<br />
possíveis. O fato de uma pessoa encontrar-se 'inesperadamente' com outra conhecida, apesar<br />
de abranger variáveis mais complexas, pode ser tão provável quanto essa mesma pessoa<br />
esbarrar em um desconhecido qualquer. A maior significância de cada situação está no valor<br />
subjetivo que conferimos a ela. As chamadas coincidências só são importantes para o ser<br />
humano que as percebe, sendo a surpresa, nesse caso, também ela uma espécie de convenção<br />
social.<br />
E o que é essa significação de um acaso? Todos os dias cente<strong>na</strong>s de pessoas<br />
desconhecidas passam por nós <strong>na</strong> rua, e não prestamos atenção a esses fatos. Entler diz que<br />
"não há surpresas para acasos que não são significativos; do ponto de vista subjetivo, sequer<br />
chega a existir acaso" 10 . Os acontecimentos só significam algo para a pessoa que os percebeu,<br />
para as pessoas envolvidas em uma rede de informações intersubjetivas em comum. Podemos<br />
chegar a dizer que certos acasos que acontecem às pessoas já são de certo modo esperados,<br />
embora não sejam previsíveis nem planejáveis, e isso porque estariam dentro do 'reservatório<br />
de coincidências possíveis' de cada indivíduo.