Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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A partir do século XIV estabeleceu-se uma notação visual precisa, permitindo a<br />
manipulação de estruturas complexas que só poderiam ser trabalhadas através da escrita,<br />
como no moteto isorrítmico, por exemplo. Desde então, a dependência <strong>na</strong> notação para<br />
compor música assim como para preservá-la se tornou um dos atributos mais marcantes da<br />
cultura musical ocidental, e logo, a composição escrita seria o fundamento prioritário da<br />
performance.<br />
Entretanto, a música improvisada permaneceu um elemento importante por vários<br />
séculos, e a interação entre estas formas diferenciadas de fazer música foram frutíferas. A<br />
influência da música improvisada <strong>na</strong> música composta é vista <strong>na</strong> inserção do estilo<br />
fauxbourdon <strong>na</strong> música dos compositores borgonheses como Dufay e Binchois, por exemplo.<br />
Muito ainda se especula sobre que teria sido essa técnica. Dois casos seriam vinculados à<br />
palavra fauxbourdon (“falso bordão”?). Se o cantochão era a linha central, adicio<strong>na</strong>va-se, sem<br />
que fosse necessariamente escrita, uma outra linha paralela quarta acima e uma linha paralela<br />
terça abaixo. Ou então em uma acepção que se vincula ainda mais à improvisação, o<br />
fauxbourdon indicaria simplesmente a linha inferior que não era escrita, <strong>na</strong>s peças em que o<br />
cantus firmus se encontrava no topo da textura 53 .<br />
A or<strong>na</strong>mentação foi outro aspecto “contagiado” pela improvisação. Um contraponto<br />
florido surge da elaboração experimental melódica e rítmica sobre uma linha pré-composta. O<br />
nome desse procedimento era “diminuição”, uma vez que uma nota longa era “reduzida”, ou<br />
convertida, em várias notas mais curtas. Em geral, esta atividade inter<strong>na</strong> de notas contidas<br />
numa porção de tempo era operada pelo performer e não costumava ser composta, embora<br />
ocasio<strong>na</strong>lmente fosse descrita, a título de demonstração, em manuais de execução. Mas esta<br />
peque<strong>na</strong> liberdade era bem balizada pelo eixo melódico das notas longas. A primeira e última<br />
nota de tais diminuições costumavam coincidir com a linha pré-estabelecida ou então chegava-<br />
se a alguma nota próxima, gerando um movimento de continuidade particular através da<br />
dissonância. Todo um cuidado extremo era tomado para evitar confusão no contraponto; o<br />
momento exato da or<strong>na</strong>mentação de cada participante para não haver choques de<br />
or<strong>na</strong>mentação; uma dosagem em relação ao baixo, cujo uso de or<strong>na</strong>mentos teria que ser mais<br />
cauteloso. Silvestro Ga<strong>na</strong>ssi chegou a publicar em 1535 um manual de improvisação de tais