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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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de criação musical instantânea, baseado em determi<strong>na</strong>dos gestos, padrões e sonoridades<br />

dentro de um repertório adquirido <strong>na</strong> prática do instrumentista – está de fato inserido nesta<br />

peça de Gilberto Mendes. Entretanto, o músico é colocado frente a situações inusitadas que<br />

exigem dele uma nova postura de execução: ao mesmo tempo em que ele é o principal<br />

responsável por grande parte da realização de uma das possibilidades da música, podendo<br />

virtualmente tocar “como quiser”, ele tem que se guiar pelas regras e limites diversos<br />

impostos pela figura do compositor, que paira por trás de tudo mais como um propositor de<br />

uma situação do que como responsável pelos sons que ali serão tocados. Assim, Gilberto<br />

Mendes revela-se aqui muito mais influenciado pela aceitação ple<strong>na</strong> do acaso como John Cage.<br />

Onthos, de Aylton Escobar, e Akronon, de Koellreutter, podem ser vistas de mesma<br />

semelhante: o papel do acaso e da abertura dada aos músicos co-autores atinge um grau<br />

extremamente elevado, aproximando ambas as obras de um questio<strong>na</strong>mento do próprio ato de<br />

criação musical em seu sentido tradicio<strong>na</strong>l, e da existência mesma de uma “obra”, ao menos<br />

segundo a definição de Umberto Eco. Tanto no caso de Onthos como de Blirium C-9 e<br />

Akronon, até que ponto – sonoramente falando – ambas manteriam uma fisionomia mínima<br />

que permitisse reconhecer duas versões diferentes como sendo a “mesma música”? Ou, sob<br />

outro prisma, por que seria ainda hoje necessário esse reconhecimento de uma obra enquanto<br />

uma fixada “mesma música”? Seja como for, as exigências interpretativas colocadas em jogo<br />

em ambas são extremamente interessantes do ângulo de uma ampliação dos horizontes<br />

técnicos e estéticos dos músicos, que precisam realmente mergulhar os ouvidos em uma<br />

prática musical ainda hoje nova e inusitada para muitos, e que pode se revelar como um dos<br />

possíveis caminhos para um estudo aprofundado e consciente das novas propostas estéticas<br />

trazidas pelo século XX.<br />

A Elegia Violeta para Monsenhor Romero de Jorge Antunes é um caso diferente dos<br />

acima a<strong>na</strong>lisados. Dentro de uma preocupação formal muito mais definida e fechada, os<br />

momentos de indetermi<strong>na</strong>ção maior restringem-se aos casos de liberdade relativa aos<br />

intérpretes (liberdade dirigida), com a fi<strong>na</strong>lidade de obtenção de novas sonoridades que<br />

dificilmente seriam conseguidas através de notação tradicio<strong>na</strong>l, mensurada e detalhada. Assim,<br />

glissandos, alturas e ritmos relativos são mecanismos de escrita indetermi<strong>na</strong>da para alcançar<br />

um resultado desejado dentro de uma obra já pré-concebida por inteiro. Na mesma linha

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