Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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outro processo de organização musical. É importante saber bem o que deixar aberto para a<br />
escolha e ter a certeza de que isso vai funcio<strong>na</strong>r. Há a liberação, mas estrategicamente<br />
sabem-se as possibilidades. Isso responde sua primeira pergunta.<br />
Como a<strong>na</strong>lisar e pensar a improvisação, isto é, diferentemente de uma<br />
composição? A<strong>na</strong>lisamos composições, mas como funcio<strong>na</strong> a análise de uma<br />
improvisação? Quais as ferramentas e abordagens possíveis?<br />
PAULO: Essa análise pode ser feita por uma pessoa que tenha tocado a improvisação ou<br />
que escutou a improvisação, isso é uma coisa variável. Mas eu recomendo muito a gravação<br />
da improvisação. Gravar é como tirar uma fotografia daquilo. É o que o Bartók fazia. Ele<br />
gravava e depois escrevia todos os quartos de tons, todas as appoggiaturas, todos os sons<br />
guturais… Ele escrevia tudo. O metrônomo, o rubato, o diminuendo, o rallentando. Ele tirava<br />
uma foto da canção que ele escreveu. Claro que canção não é improvisação. É uma variação<br />
permanente de um esquema. Mas <strong>na</strong> improvisação podemos fazer isso. Temos um trio e<br />
vamos a<strong>na</strong>lisar. Vemos o que acontece: uma tentativa de imitação canônica aqui, uma<br />
imitação textural, isso aqui funcio<strong>na</strong> bem etc. A improvisação pode ser um repertório de<br />
possibilidades. Se o grupo trabalha intensivamente, esse momentos que são as luzes da<br />
improvisação podem ser retirados, e trabalhados de uma maneira metódica. Aí existe um<br />
problema muito sério. Há improvisadores que não conseguem fazer isso. Eles não conseguem<br />
se desligar daquele momento intuitivo, a<strong>na</strong>lisar a improvisação e ver o que que aconteceu, o<br />
que está interessante. O violoncelo tocou sul ponticello, notas agurdas, o piano tocou uma<br />
coisa lá dentro com as cordas que funcionou bem… a organização intervalar do motivo do<br />
violão também funcionou muito bem, porque ele tocou terças menores… Tudo isso pode ser<br />
a<strong>na</strong>lisado, buscando-se explicar porque determi<strong>na</strong>do momento funcionou bem. Podemos<br />
também trabalhar somente com associações sonoras, sem pensar em relações harmônicas ou<br />
intervalares. Isso eu acho fundamental para a evolução do trabalho do grupo de improvisação<br />
ou do improvisador. Tiramos um retrato daquilo, gravamos e depois a<strong>na</strong>lisamos. Isolam-se os<br />
momentos melhores: ”agora vamos trabalhar isso aqui. Vamos fazer estudos, exercícios de<br />
improvisação só com esse material… isso funcionou… por que funcionou? Vamos fazer