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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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“pifa”, houve um problema, quer seja <strong>na</strong> improvisação ou <strong>na</strong> composição. Se estivermos<br />

cientes desses problemas, podemos tor<strong>na</strong>r a improvisação cada vez mais rica.<br />

Enfim, existem os “perigos” da improvisação, sem dúvida. Depende do trei<strong>na</strong>mento.<br />

Agora, nesse campo entre a improvisação absolutamente livre e a obra fechada existe a<br />

música aleatória. Nesse terreno bastante amplo há diferentes gradações de liberdade do<br />

intérprete, e isso é fasci<strong>na</strong>nte de ser trabalhado. Até que ponto vamos orientar o intérprete,<br />

até que ponto vamos “prendê-lo” em uma forma em que ele vai ler o que está escrito etc… são<br />

maneiras interessantes de se trabalhar com os músicos. Não essa coisa mística, “pense numa<br />

estrela…” [risos] Não, pelo amor de Deus, eu tenho uma profunda alergia a isso, a todo esse<br />

processo do Stockhausen, textos místicos… não é a minha época. Eu <strong>na</strong>sci em 1960, mas… é<br />

claro que adoro muitas coisas que aconteceram nessa época, acabei de fazer um concerto com<br />

peças conceituais de Yoko Ono, que acho extremamente interessantes. Todo esse caráter<br />

revolucionário desse período é o que mais me interessa; “iconoclasta”, essa é a palavra. Ir<br />

contra as receitas de composição. Na verdade, nessa época, o serialismo foi um momento<br />

bastante infeliz que homogeneizou demais determi<strong>na</strong>das técnicas musicais, perdendo-se muito<br />

a origi<strong>na</strong>lidade da pessoa do compositor em função de um sistema que se dizia<br />

“historicamente presente”. Obras aleatórias de Mauricio Kagel, Pousseur, mesmo Stockhausen,<br />

dependem de como intérprete trabalha. Se o intérprete é ruim, o resultado é uma porcaria,<br />

mas se ele sabe trabalhar de uma maneira coerente com isso, pode resultar em algo muito<br />

interessante. Eu gosto muito desse tipo de obra, porque exatamente temos uma determi<strong>na</strong>da<br />

fronteira estabelecida pelo compositor, mas ele deixa também um campo livre para nossa<br />

atuação. Depende muito do intérprete, alguns podem não se sentir bem, não conseguindo se<br />

movimentar nesse campo.<br />

Nesse diálogo entre composição e improvisação, como é que um compositor<br />

pode se nutrir, ou ser motivado e provocado pela improvisação? Ou vice-versa, o<br />

improvisador compondo? Enfim, como se dá essa relação <strong>na</strong> sua opinião?<br />

PAULO: Sobre esse diálogo entre improvisação e composição, eu realizei um trabalho sob<br />

encomenda que foi um concerto com duas composicões que trabalhavam nessa linha entre

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