Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
111<br />
tendências. Seria necessário alguém com uma visão um pouco mais ampla que consiga<br />
também integrar esse tipo de atividade.<br />
Gostaríamos que você nos falasse um pouco sobre a parte pedagógica e sua<br />
importância para os intrumentistas, seja em nível iniciante, médio ou avançado.<br />
Como é que você instiga alguém a improvisar, o que você acha importante… mesmo<br />
para instrumentistas que não tenham esse impulso?<br />
PAULO: Para mim, o mais importante numa fase inicial é trei<strong>na</strong>r esse impulso. As<br />
pessoas que não tem o hábito de improvisar, é preciso que elas se encontrem em um meio em<br />
que isso seja propício. Claro que, da minha parte, essa fase inicial não é domi<strong>na</strong>dora. Eu,<br />
como professor/orientador, deixo uma pessoa improvisar, e para mim o mais interessante é<br />
que esse fluxo esteja desbloqueado. Depois… a gente faz um pressãozinha! [Risos]<br />
Mas esse momento inicial é muito importante, e às vezes a minha classe está um pouco<br />
heterogênea. Tem gente com três anos de prática e tem gente que começa. Eu dou aula em<br />
master-class, ou seja, todo mundo está lá. Eu já falei, “Gente, tem gente demais”, mas todo<br />
mundo quer ouvir os outros improvisando porque aprendem… Então as vezes há intérpretes<br />
um pouco ingênuos que começam a improvisar, e eu deixo livre. Os que já estão mais<br />
trei<strong>na</strong>dinhos já querem dar palpite e eu falo: “não senhor, quando você chegou também<br />
estava uma porcaria” [Risos]. É importante você deixar a pessoa se soltar. Acho que,<br />
pedagogicamente, isso é uma das coisas mais importantes, porque existe uma certa inibição<br />
nessa atividade, ainda mais numa escola tradicio<strong>na</strong>l. A pessoa se sente culpada logo <strong>na</strong><br />
primeira nota, toca e já está errada. Então é importante se soltar. E depois de um certo<br />
tempo, você vai introduzindo literatura, material, gestos. Quem começou a improvisar comigo<br />
é um contrabaxista de São Paulo chamado Gustavo Langefontes, que foi aluno da USP. Chegou<br />
lá com algumas peças de música contemporânea, começou a trabalhar comigo e hoje, após<br />
um ano, é excelente… Mas é um aprendizado, a pessoa tem que trei<strong>na</strong>r. A gente a<strong>na</strong>lisa o<br />
instrumento, descobre novas fontes sonoras, novos meios de atuação instrumental, literatura…<br />
Você vai dando meios para as pessoas começarem a manipular diferentes objetos musicais.<br />
Mas o impulso é vital, depois vai-se ampliando esse impulso. Depois vêm as práticas coletivas.<br />
Por exemplo, no caso do contrabaxista: para tocar com um conjunto de instrumentos de