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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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26<br />

Deixar um único desses parâmetros 'indetermi<strong>na</strong>do' pode gerar resultados<br />

completamente diferentes a cada execução, dependendo do grau dessa indetermi<strong>na</strong>ção. Na<br />

Europa, a indetermi<strong>na</strong>ção das alturas foi uma das mais difíceis de serem aceitas, somente<br />

sendo mais difundida em torno dos anos 60. Enquanto isso, em 1951 Morton Feldman já havia<br />

escrito Intersection I para orquestra, sem uma única nota de altura definida.<br />

A indetermi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong> forma, comumente chamada de 'forma aberta' ou 'forma-móbile', é<br />

aquela onde as partes de uma música podem ser reorde<strong>na</strong>das ao gosto do intérprete, com ou<br />

sem limitações previstas pelo compositor, previamente ou no ato da execução. As primeiras<br />

incursões de compositores europeus <strong>na</strong> indetermi<strong>na</strong>ção em música foram através dessas<br />

formas, como podemos observar <strong>na</strong>s peças Klavierstück XI (Stockhausen, 1956), Troisième<br />

So<strong>na</strong>te (Boulez, 1957-58) e Zyklus (Stockhausen, 1959), para citar alguns exemplos mais<br />

conhecidos. A grande preocupação dos compositores europeus <strong>na</strong> época era, afi<strong>na</strong>l, o<br />

significado dessa indetermi<strong>na</strong>ção do próprio material musical. Se para Cage a indetermi<strong>na</strong>ção<br />

representava, mais do que uma maneira de pensar e fazer música, parte de uma filosofia de<br />

vida, para os europeus essa aceitação do acaso poderia esconder uma irresponsabilidade ou<br />

um desinteresse quanto à realização sonora fi<strong>na</strong>l de um trabalho.<br />

É interessante a diferenciação que Brindle 26 estabelece entre a indetermi<strong>na</strong>ção que se<br />

propagou <strong>na</strong> música européia e a indetermi<strong>na</strong>ção america<strong>na</strong>. Para tanto, ele compara duas<br />

obras das décadas de 50 e 60: Mixtur (1964), de Stockhausen, e Intersection I (1951), de<br />

Morton Feldman. Ambas as peças trabalham somente com alturas relativas (definição de<br />

regiões agudas, médias e graves), mas cada uma revela diferentes mentalidades <strong>na</strong> sua<br />

relação com a indetermi<strong>na</strong>ção. Para os compositores europeus, a música precisaria ter uma<br />

direção, mover-se para algum lugar, em busca de resultados expressivos. Para os<br />

compositores dos Estados Unidos da época, o que estava em jogo era uma música que<br />

pudesse existir sem essa “onda expressiva”; idealmente, ela embalaria o ouvinte num estado<br />

mental de relaxamento e retiro. Assim, gestos e eventos musicais marcantes e decisivos<br />

deveriam ser evitados (ideais que já antecipam o minimalismo, caminho a ser seguido por<br />

muitos desses compositores americanos).

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