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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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uma idéia bastante do século XIX, o artista “ilumi<strong>na</strong>do por Deus”, do qual brotam idéias, e<br />

aquele nome significa uma obra única… não é como muito antigamente, quando a autoria não<br />

importava, nem todo mundo assi<strong>na</strong>va as obras etc. Essas idéias atrapalham o<br />

desenvolvimento da música improvisada, idéias tipicamente românticas, do artista enquanto<br />

“divindade”. E isso ainda é ensi<strong>na</strong>do nos conservatórios.<br />

E sobre processos criativos “híbridos”, entre a improvisação livre e a música<br />

mais determi<strong>na</strong>da?<br />

IGNACIO: No In Sanum chegamos a fazer algumas coisas assim. Elaborávamos tanto,<br />

tanto, que tínhamos que ensaiar muito tempo para reproduzir aquela idéia, daquele jeito,<br />

embora não houvesse <strong>na</strong>da escrito. Chegamos verbalmente à idéia de tentar improvisar de tal<br />

maneira que algum ouvinte “culto” não pudesse distinguir se a músia fosse escrita ou<br />

improvisada. Criávamos determi<strong>na</strong>dos motivos, variações sobre eles, elaborações texturais,<br />

concate<strong>na</strong>ções, ápices, intenções, clímax e anticlímax, tensões e relaxamentos… pensávamos<br />

<strong>na</strong> composição sob vários aspectos, mas sempre era tudo improvisado, <strong>na</strong>da escrito. Às vezes<br />

havia um motivo melódico de três ou quatro notas, às vezes um motivo rítmico… o motivo<br />

rítmico podia ser simplesmente “ter um ritmo” [risos]. Cada um ia trabalhando isso de uma<br />

maneira própria, transformando ou interferindo no motivo rítmico do outro etc. Mas tudo isso<br />

ainda se mantém longe da escrita. Considero esses processos como híbridos, e são mesmo<br />

processos muito diferentes, porque muitas coisas eram elaboradas tocando. Sem nenhuma<br />

grande idéia a priori, percebíamos que o próprio ato de tocar dava origem a muitas idéias.<br />

Também é interessante dizer para tudo isso é preciso técnica; nós buscávamos elaborar<br />

técnicas de improvisação, fazer estudos de improvisação; dias, sema<strong>na</strong>s e meses estudando<br />

somente alguns aspectos. Encontrar outras formas de improvisar, testar alguns limites, buscar<br />

“esgotar” as possibilidades… é claro que “esgotar” em um sentido figurado, jamais isso será<br />

possível. Nós nos esgotaríamos antes… [risos]. Mas a idéia era essa. Por exemplo, certa vez<br />

resolvemos pegar uma série dodecafônica, decorá-la e improvisarmos sobre ela, com suas<br />

transposições, retrógrados, inversões… é claro que isso é um travamento, de certa forma…

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