Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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podemos situar a obra LIFE: Madrigal, de Willy Corrêa de Oliveira. Sintomaticamente, são<br />
todas obras posteriores a 1970; podemos entender que cada um dos compositores assimilou,<br />
de uma forma ou de outra, os resultados das radicais experiências com o acaso que marcaram<br />
a década de 60, retomando posteriormente pesquisas formais próprias e menos abertas ao<br />
acaso – é preciso reconhecer a dificuldade prática de se obter resultados musicais satisfatórios<br />
quando depende-se de grupos de músicos não familiarizados com as mais diversas pesquisas<br />
sonoras contemporâneas, ou mesmos músicos desinteressados e descrentes quanto à<br />
improvisação ou à “música intuitiva”.<br />
Os compositores brasileiros a<strong>na</strong>lisados parecem tender a realizar sínteses, em sua prática<br />
composicio<strong>na</strong>l, entre o acaso consciente e a determi<strong>na</strong>ção, buscando um compromisso entre<br />
os espaços de abertura ao intérprete e as definições maiores que dão um rosto às “obras”.<br />
Sínteses, assim, que buscam soluções pessoais para a mistura de um acaso pleno como em<br />
John Cage com o delírio organizado como em Pierre Boulez. Parece-nos que os compositores<br />
brasileiros estudados trataram com seriedade e independência os mais diversos pontos de<br />
vista, o que teria possibilitado certa mistura antropofágica no resultado fi<strong>na</strong>l de cada um.<br />
Assim, Jorge Antunes e Willy Corrêa de Oliveira, <strong>na</strong>s obras estudadas, apontam para uma<br />
sintonia com uma preocupação predomi<strong>na</strong>ntemente estrutural que os aproxima de Boulez e<br />
Stockhausen; Gilberto Mendes e Aylton Escobar apontam também nesta direção, mas têm, <strong>na</strong>s<br />
obras a<strong>na</strong>lisadas, traços muito mais marcantes de uma postura cagea<strong>na</strong>, desmistificadora e<br />
bem-humorada do fazer musical. Koellreutter, por sua vez, trilha um caminho extremamente<br />
pessoal que parece fundir de alguma forma sua constante preocupação estrutural<br />
(desenvolvida desde sua juventude) com a incorporação profunda do acaso como em John<br />
Cage 50 . O musicólogo José Maria Neves, neste sentido, afirma que a influência de John Cage<br />
<strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong> deixou marcas muito mais fortes do que as influências européias, apesar da<br />
importância destas últimas. O uso de todas as possibilidades do mundo sonoro e de diferentes<br />
maneiras de orde<strong>na</strong>ção do ato musical caracterizará esta estética aleatória, ou estética da<br />
ambigüidade. A equivalência de todos os fenômenos acústicos, sem hierarquia, estava<br />
presente <strong>na</strong> idéia do happening, por exemplo, que busca mudar a visão do próprio<br />
acontecimento musical: não mais um entretenimento de uma elite, mas uma aceitação de