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Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA

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totalmente “randômica”. Um sujeito senta ao piano e faz qualquer coisa. Mas se ele quiser<br />

ouvir, o que ele tem que fazer? Desenhar campos harmônicos, campos de sonoridades, e<br />

assim acaba se repetindo muito mais do que numa peça não improvisada. A improvisação<br />

acaba sendo uma coisa que obriga você a ficar circulando no mesmo lugar. Nas minhas<br />

composições, portanto, há uma distinção entre a improvisação que eu uso para compor e outra<br />

coisa que é o acaso, a indetermi<strong>na</strong>ção <strong>na</strong> composição, que seria deixar, em alguns momentos,<br />

somente planos gerais para que os intérpretes trabalhem. Já usei diversas coisas desse tipo.<br />

Havia uma peça para coral com notação livre em relação ao tempo chamada Algo sobre algo.<br />

Era uma peça para coro baseada num poema de Edgar Braga, que tinha umas imagens, um<br />

poema visual. Cada coralista tinha sua parte e a fazia no seu tempo. O que acontece? Cada um<br />

não tinha ação sobre o resultado total. Tudo era improvisado em relação ao tempo, mas não<br />

em relação a alturas e formas de ataque. Havia “nós” de pontuação onde todos paravam e<br />

começavam de novo. Eu fiquei quebrando a cabeça para poder criar um mecanismo que<br />

permitisse isso, além de fazer com que a textura soasse aquilo que eu estava sonhando<br />

sonoramente. O Hora H, para quarteto de cordas, funcio<strong>na</strong>va do mesmo jeito. Inclusive, havia<br />

momentos em que podia surgir um solo de violoncelo, ou de violino, enfim, porque todos os<br />

outros acabavam suas partes… Então eu usava um acaso fora do controle dos músicos, porém<br />

com um plano harmônico que eu concebia de antemão, e ficava imagi<strong>na</strong>ndo planos que<br />

poderiam se intercalar. Se a porcentagem de pessoas que sobrassem em cima fosse “x”, tudo<br />

aconteceria da maneira “y”. Se sobrar um só, tudo bem, não alteraria a textura geral. Então<br />

eu compus seis texturas, e elas iam se intercalando de maneira totalmente louca. Mas elas<br />

eram bem claras para mim. Isso foi legal porque o grupo com o qual trabalhávamos era um<br />

grupo de amadores, o coral Lasar Segall. Eles liam altura, o problema era trabalhar com ritmos<br />

muito complicados, ataques, conjunções, etc. Em suma, tínhamos uma grande escrita textural,<br />

e as pessoas resolviam isso facilmente. A notação meio aleatória, indetermi<strong>na</strong>da em relação ao<br />

tempo, não alterava o resultado que eu já imagi<strong>na</strong>va. Porque o resultado imagi<strong>na</strong>do era uma<br />

gama de resultados esperados. Aí sim eu trabalhei com a não determi<strong>na</strong>ção do tempo.<br />

Posteriormente continuei trabalhando com indetermi<strong>na</strong>ção, mas das alturas. Sobretudo numa<br />

peça chamada Com, para piano, que tem umas passagens muito rápidas, em que não estão<br />

determi<strong>na</strong>das as alturas. É uma escrita por regiões e a duração está determi<strong>na</strong>da. Mas

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