Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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com que experimentem terrenos “estrangeiros” a eles até então. O virtuosismo, ou melhor,<br />
uma atividade gestual possivelmente excedente ou transbordante pode instigar a atividade dos<br />
outros participantes, desde que utilizado de forma consciente, sem se perder em si mesma ou<br />
no exagero. Essa atividade gestual exacerbada pode ter a função de despertar territórios<br />
dormentes de outros membros do grupo que não imagi<strong>na</strong>vam poder operar sobre certas<br />
figurações. O lado teatral do improvisador pode também ser explorado, mas no momento em<br />
que o resultado sonoro se entrega ou se tor<strong>na</strong> uma função disso, não é raro obter-se um<br />
resultado musical mais duvidoso ou aberratório.<br />
O amadurecimento gradual de um grupo através de um trabalho sistemático de ensaios,<br />
aperfeiçoamentos e apresentações dá origem a um tipo específico de refi<strong>na</strong>mento sonoro e<br />
elaborativo <strong>na</strong>s suas criações. Por outro lado, isso não quer dizer que devemos desprezar<br />
encontros casuais entre improvisadores que não se conhecem; tais encontros de ocasião (ou<br />
“encontros cegos”, do inglês Blind Date) têm justamente a virtude de colocar em choque<br />
diferentes experiências acumuladas, em busca de potenciais de entrosamento insuspeitados.<br />
Mas o fato de trabalhar e ensaiar com regularidade faz com que os membros de um grupo se<br />
conheçam cada vez mais, permitindo um desenvolvimento de muitos aspectos da prática que<br />
não são obtidos pelo encontro de ocasião.<br />
Evidentemente, um improvisador solista deve desenvolver uma presença mais marcante,<br />
intensificada por variações de caráter e desenvolvimento de materiais. Seu desempenho pode<br />
ser gerenciado por questões mais pessoais, preocupações íntimas ou estéticas de uma<br />
perso<strong>na</strong>lidade mais particular. Sua presença em um grupo deve ser mais dosada e combi<strong>na</strong>da<br />
aos interesses coletivos. Mas o diálogo consigo mesmo e com a opinião dos outros continua<br />
sendo fundamental para a prática solística. Tocar para colegas, revezando-se, a fim de receber<br />
críticas construtivas ou comentários em geral, é uma prática extremamente rica e produtiva<br />
para o improvisador solista. Sua escuta deve estar sempre se transformando para que suas<br />
improvisações evoluam com o passar do tempo, e a escuta dos outros pode lhe indicar<br />
caminhos que não imagi<strong>na</strong>va para sua atividade. A opinião alheia é fundamental para alterar<br />
também determi<strong>na</strong>dos hábitos adquiridos que não são percebidos por quem executa. E seu<br />
corpo deve buscar se confrontar com materiais que não domi<strong>na</strong> e com territórios que não<br />
costuma explorar normalmente.