Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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Já no século dezenove, um outro fator de cunho social foi importante. O salão do<br />
palácio dava lugar às grandes salas de concerto. Muitas atividades improvisatórias em recintos<br />
pequenos não faziam sentido em grandes espetáculos. A crescente formalidade da idéia de<br />
concerto tendia a deixar a improvisação de for a, apesar de a improvisação estar mais viva do<br />
que nunca em Liszt ou Chopin, por exemplo. A improvisação se vinculava cada vez mais a uma<br />
atividade caseira, um exercício de descoberta e uma prática diária que foi deixando de fazer<br />
parte das apresentações públicas. Os Estudos e Prelúdios de Chopin partiam de improvisações,<br />
o que explica, em geral, a duração curta das peças; suas texturas melódicas são, em boa<br />
parte, produto da atividade experimental dos dedos. Entretanto, o impulso criativo da<br />
improvisação foi deixando de se fazer presente no cotidiano dos instrumentistas; assim,<br />
começa a decli<strong>na</strong>r a figura do compositor-performer, e mesmo o mito do criador como aquele<br />
que “sai tocando”, embora tenha perdurado até o início do século XX em músicos como Busoni<br />
e, ainda hoje, em um certo sentido, no meio jazzístico.<br />
No fi<strong>na</strong>l do século XIX e início do século XX, a improvisação continuou também a existir<br />
<strong>na</strong>s práticas litúrgicas como parte da atividade dos organistas. Músicos como Marcel Dupré<br />
praticavam improvisações bastante variadas e chegaram a relatar estas práticas em livro. Uma<br />
série de improvisadores se destacam <strong>na</strong> França desde Franck até músicos como Widor e<br />
Messiaen, por exemplo. Tal atividade não ape<strong>na</strong>s alimentava a composição mas também era<br />
praticada em público, ainda que não fosse em sala de concerto.<br />
VI. A IMPROVISAÇÃO HOJE<br />
Em um trabalho bastante peculiar de 1949, Kalkbrenner chegou a questio<strong>na</strong>r: ”Quantos<br />
de nossos melhores pianistas são capazes de ‘preludiar’, mesmo que de maneira insatisfatória?<br />
E entre os estudantes não há um em mil que faça de suas improvisações algo mais que uma<br />
cadência” 57 .<br />
Embora tal afirmação seja pertinente para retratar a imensa maioria dos<br />
instrumentistas de formação erudita tradicio<strong>na</strong>l, <strong>na</strong> segunda metade do século XX vimos<br />
re<strong>na</strong>scer práticas improvisatórias ligadas à música nova. A criação musical contemporânea<br />
baseada <strong>na</strong> improvisação instrumental expressa uma maneira peculiar de pensamento