Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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meio da música contemporânea, há uma certa resistência <strong>na</strong> assimilação de propostas de<br />
criação baseadas em improvisação.<br />
Tanto a música escrita em partitura como a música eletroacústica são modos de<br />
composição que chegam a um produto fi<strong>na</strong>l fixado, com status de documento e de obra mais<br />
ou menos acabada. É possível abordar um compositor, sua obra e seu pensamento<br />
composicio<strong>na</strong>l através de suas partituras, das gravações de suas músicas instrumentais, e<br />
ainda através de tapes ou CDs com sua música eletroacústica (neste caso, o próprio suporte,<br />
como por exemplo o CD, assume o papel de “documento”). Tanto o tape eletroacústico como a<br />
partitura determi<strong>na</strong>da “inscrevem” <strong>na</strong> história uma proposta fechada e reprodutível de uma<br />
manifestação musical específica. Neste momento estamos desconsiderando propositalmente a<br />
eventual existência de algum tipo de indetermi<strong>na</strong>ção em etapas anteriores do processo criativo<br />
para considerar ape<strong>na</strong>s a sua apresentação fi<strong>na</strong>l enquanto obra. Mesmo que, por exemplo, o<br />
compositor Ber<strong>na</strong>rd Parmegiani tenha “improvisado” em grande parte do processo de<br />
composição de suas obras eletroacústicas, o resultado fi<strong>na</strong>l existe de forma acabada,<br />
virtualmente “imutável”, e se impondo dessa forma enquanto obra. Mesmo não havendo<br />
partitura escrita, uma obra eletroacústica “x” existe concretamente sobre o suporte<br />
tecnológico, e pode ser repetidas em concertos musicais sem deixar de ser ouvida enquanto<br />
obra “x”.<br />
Por outro lado, a música improvisada não tem esse mesmo poder de “institucio<strong>na</strong>lização”<br />
através de alguma fixação documental; afi<strong>na</strong>l, uma música improvisada prescinde de partitura<br />
e, ainda mais, não permite que a toquemos duas vezes “da mesma forma”, ao menos não<br />
idênticas o bastante para que sejam percebidas enquanto uma “mesma obra” 61 .<br />
No caso da música escrita, a partitura garante um certo poder instaurador da obra,<br />
representando a “fala” própria de determi<strong>na</strong>do autor 62 . As gravações de diferentes<br />
interpretações dessa música fixada contribuem para esse mesmo reconhecimento social da<br />
obra, assim como todos os escritos teóricos do próprio compositor e de outros musicólogos. A<br />
importância social do falar e teorizar sobre a música venho ganhando importância sobretudo<br />
após Beethoven, e enraizou-se fortemente <strong>na</strong> música do século XX. A música eletroacústica,<br />
ou acusmática 63 , dispõe, igualmente, de seus escritos teóricos, de CDs, e das figuras dos<br />
compositores, só se diferenciando da música instrumental por prescindir de partitura escrita e