Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
138<br />
No Brasil, qual o panorama da improvisação nos últimos tempos? Quais os<br />
grupos que trabalham ou trabalharam com o assunto e em quais direções? Como<br />
você vê a prática da improvisação <strong>na</strong> história recente do Brasil?<br />
SILVIO: A primeira história que me vem a cabeça sobre improvisação é a do Choro n. 3,<br />
para clarinete e flauta [De Villa-Lobos]. Dois “capiaus” se encontram numa encruzilhada e um<br />
segue o seguinte diálogo: – O que você está carregando? – Uma flauta.– Você toca? – Não. E<br />
isso aí, o que é?– Um clarinete.– Você toca?- Não.– Então vamos tentar alguma coisa juntos.<br />
Os dois ficam tocando e o que um faz não tem <strong>na</strong>da a ver com o que o outro faz. São<br />
totalmente independentes. Talvez o Villa-Lobos tenha improvisado alguma coisa. Acho que a<br />
improvisação <strong>na</strong> história mais recente pode ser considerada a partir do Gilberto Mendes e Willy<br />
Corrêa de Oliveira. A improvisação <strong>na</strong> música concreta, que se caracterizava em criar grandes<br />
blocos de som. Uma das razões era o fato deles trabalharem com um grupo de músicos<br />
amadores, o madrigal Ars Viva. O Life-Madrigal do Willy é um exemplo. Uma escrita com<br />
alguns momentos livres. E é claro que haviam os ventos que sopravam da Europa e dos<br />
Estados Unidos sobre improvisação. Não sei ao certo o título, mas havia uma ‘música para<br />
trecos’ do [Jorge] Antunes, que envolvia improvisação livre. Os trabalhos da Jocy de Oliveira<br />
são de improvisação ou ao menos muita coisa era improvisada, ainda que dirigida. O<br />
Koellreutter, com aquela bola transparente… Aquilo é improvisação. Outro dia um colega meu<br />
me explicou o que é planimetria. Realmente é muito interessante. Ela é uma maneira de você<br />
pensar um livre que não é livre. Qualquer caminho que você toma está previsto pelo<br />
compositor. Ela é uma composição em rede, embora a metáfora “rede” seja mais recente. O<br />
Carlos Kater teve um grupo de improvisação. Mas eu não conheço nenhum compositor<br />
brasileiro que trabalhe exatamente pensando a improvisação. Um ou outro usa, mas ninguém<br />
pensa nela. Usa, ousa, deixa espaço aberto, mas não vejo um pensamento propriamente sobre<br />
improvisação. Podemos dizer que Koellreutter pensa a improvisação. Tato Taborda tinha<br />
trabalhos de improvisação, hoje em dia tem trabalhos escritos. Talvez o grupo de improvisação<br />
mais atuante no Brasil tenha sido a banda performática do Aguilar. Era um artista plástica,<br />
bailarinos, instrumentistas, pintores, era uma balbúrdia gigantesca. Mas também faziam<br />
música popular, se não me engano. Era free, música experimental.