Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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definir novos limites para o fazer artístico onde uma obra possa ter um máximo de<br />
ambigüidade, permitindo um número muito amplo de leituras, e podendo inclusive depender<br />
da interatividade do consumidor/receptor, sem, contudo, deixar de ser obra.<br />
Esclarecendo as linhas metodológicas gerais de sua pesquisa, Umberto Eco afirma que a<br />
noção de obra aberta não implica em querer dividir o mundo entre obras abertas ('boas') e<br />
fechadas ('ruins'). Como já foi dito, abertura e ambigüidade são elementos constantes em<br />
qualquer obra de arte em qualquer tempo. Uma obra aberta, portanto, não seria uma<br />
categoria artística, mas um modelo hipotético (não existe obra aberta 'real', concreta). Um<br />
modelo seria uma forma comum a diversos fenômenos, por mais diferentes que estes sejam.<br />
Eco diz ainda que é necessário comparar a estrutura de uma obra aberta à de outros<br />
fenômenos culturais. O esquema produção-obra-fruição apresentaria uma estrutura similar em<br />
casos diferentes. Se uma obra é uma forma, pode-se entendê-la como um todo orgânico que<br />
<strong>na</strong>sce da fusão de diversos níveis de experiência anterior; uma forma é uma obra realizada, é<br />
"o ponto de chegada de uma produção e ponto de partida de uma consumação que –<br />
articulando-se – volta a dar vida, sempre e de novo, à forma inicial, e de formas diversas; (…)<br />
A estrutura de uma obra é o que ela tem em comum com outras obras; (…) assim, a 'estrutura<br />
de um obra aberta' não será a estrutura isolada de várias obras, mas o modelo geral que<br />
descreve não ape<strong>na</strong>s um grupo de obras, mas um grupo de obras enquanto postas em uma<br />
determi<strong>na</strong>da relação fruitiva com seus receptores" 14 .<br />
Mais adiante, o autor procura deixar claro que sua pesquisa não tem <strong>na</strong>da a ver com o<br />
estruturalismo, entendendo por estruturalismo a análise da obra de arte como um cristal,<br />
“pura estrutura significante”, aquém da história de suas interpretações; para Umberto Eco, é<br />
impossível abstrair-se de nossa situação de intérpretes, situados historicamente, para tentar<br />
enxergar a obra como um cristal. E conclui com o seguinte questio<strong>na</strong>mento: "Quando Lévi-<br />
Strauss e Jakobson a<strong>na</strong>lisam Baudelaire, focalizam: a) uma estrutura que está aquém de suas<br />
leituras possíveis; ou b) nos dão dela uma execução, possível somente hoje, à luz das<br />
aquisições culturais do nosso século? Nessa suspeita baseia-se toda a Obra Aberta" 15 .<br />
No capítulo A Poética Da Obra Aberta, são abordados diversos exemplos da criação<br />
musical contemporânea, a partir de compositores como Stockhausen, Berio, Pousser, Boulez,<br />
considerando os aspectos de abertura e indetermi<strong>na</strong>ção. Sobre as obras musicais que