Indeterminação e Improvisação na Música Brasileira ... - CCRMA
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dura, tão rígida, que qualquer um pode improvisar. É uma estrutura de música coletiva <strong>na</strong> qual<br />
há uma grande unidade. Rigidez harmônica, rítmica, e uma estrutura melódica altamente<br />
determi<strong>na</strong>da. Mesmo <strong>na</strong> improvisação, a estrutura melódica está o tempo todo conduzindo a<br />
música. Ela está amarrada com aquelas coisas velhas, por exemplo: salto acima de sexta<br />
resolve com meio tom para baixo, ou hoje em dia, a famosa sequência de quartas que resolve<br />
um tom abaixo. Temos, digamos, as ampliações stravinskia<strong>na</strong>s, como as que o Benny<br />
Goodman utilizou, mas temos uma necessidade maior de estruturação. Então é um grande<br />
paradoxo. A música mais estruturada é a que aceita mais improvisação, sem que ela sofra<br />
grandes calamidades. Isto está <strong>na</strong> música popular. Minha peça para coro era totalmente<br />
estruturada. O tenor poderia cantar sozinho até o fim, sem querer saber do tempo dos outros.<br />
Ela estava estruturada de tal forma que existia uma gama de possibilidades previsíveis. Um<br />
primeiro bloco com tal harmonia, um segundo com tal harmonia, a passagem entre um e outro<br />
é perceptível, mesmo que haja cantores que ainda não passaram. Tem uma questão aí quase<br />
que matemática. No avesso, o outro lado da moeda, é a música onde tudo é maleável. Outro<br />
paradoxo. O chão é tão maleável que a sua organização extrema faz com que surja uma<br />
música extremamente livre. Ouvimos Brian Ferneyhough e vemos como é totalmente<br />
inusitado. Por quê? Porque sua música está estruturada no papel, mas não está estruturada<br />
como prática coletiva. Aquele grupo de jazz “Varèsiano” do Varèse devia ser uma coisa muito<br />
louca. Imagi<strong>na</strong> um baterista… [imita com gestos e sons vocais a percussão das peças de<br />
Varèse] [Risos]. Então o grupo de jazz varesiano resultava <strong>na</strong> música de Varèse. Esse é o<br />
paradoxo que a improvisação vive.<br />
Portanto, no panorama contemporâneo, eu acho que se houver esta tendência de<br />
escolarização da música popular, a improvisação vai ser sempre margi<strong>na</strong>l. Graças a Deus.<br />
Porque o dia em que houver uma escola de improvisação, como há <strong>na</strong> Alemanha, você<br />
aprenderá os idiomas de improvisação e como ser um bom improvisador. Se eu estiver<br />
improvisando com o Tristan Murail, a improvisação será assim. Se eu estiver improvisando<br />
com John Cage, será assado. Por que não escrever então? Eu acho que ela vai ser sempre<br />
margi<strong>na</strong>l. Essa é a força dela, ser margi<strong>na</strong>l.