No. 50/1986

ano o Ano Internacional da Paz, o dia ad-
quire um significado especial. O ano inau-
gurou-se coin uina clara enumeracao dos
elementos de perigo e de proinessa, em face
da situacao internacional atual. Embora
nao fosse realista antecipar solucoes rapidas
e milagrosas aos complexos problemas que
enfrenta a humanidade, era de se esperar,
contudo, que se pudesse dar um primeiro
passo adequado num rumo mais saudavel
e inais seguro para os assuntos internacio-
nais.
Essa esperanca nao se* concretizou. Persis-
tem as tensoes em muitas regioes do mun-
do. Nao se alcancou nenhum progresso
significativo no esforco de controlar a cor-
rida annamentista. O perigo de uma catas-
trofe nuclear paira como uma sombra
ameacadora sobre a existencia humana. A
seguranca continua sendo uma meta cada
vez inais distante e dificil de ser alcancada,
na medida em que e visualizada unicamen-
te em funcao militar. Os incessantes avan-
cos da tecnologia moderna dos armamentos
contribuem perigosamente para criar um
clima de inseguranca perpetua.
Para que a humanidade se livre do medo e
da possibilidade de ser aniquilada, torna-se
prioritaria a concepcao de um tratado geral
de proibicao de experiencias nucleares que
conduza a eliminacao das armas nucleares
Sao necessarios novos esforcos para criar
confianca e reviver o sistema de seguranca
coletiva, sem o qual ate as proprias bases da
paz se tornam precarias.
Nao se pode tainpouco deixar de lado as di-
mensoes economicas e sociais da paz sem
por em perigo uina ordem mundial estavel.
Uma parcela consideravel da raca humana
vive ainda em condicoes de absoluta pobre-
za. A doenca e a desnutricao continuam
consumindo muitas vidas. O apartheid e ou-
tras formas de discriminacao racial persis-
tem todavia, causando muitos sofrimentos,
amarguras e transtornos. A consciencia hu-
mana nao podera estar em paz consigo mes-
ma, nem as relacoes poderao ser seguras,
ate que se ponha fim a essas violacoes, em
grande escala, dos direitos humanos.
O mundo esta em crise. As medidas encami-
nhadas para resolver a crise devem ser am-
plas e integradas. Essas medidas devem ir
alem do tom obvio, porem muitas vezes
superficial, dos pronunciamentos ousados e
de carater geral. Ao largo de sua existencia,
as Nacoes Unidas tem tratado de promover
um espirito de esforco comum e concentra-
do. Porem, na atualidade, a propria organi-
zacao enfrenta desafios quanto a sua viabi-
lidade e eficiencia. E, contudo, poucos po-
derao negar que as Nacoes Unidas conti-
nuam sendo a Unica instituicao mundial
que pode atuar como unificadora para a
paz. A autoridade das Nacoes Unidas deri-
va, em Ultima instancia, da necessidade de
seguranca autentica e do desejo de paz que
transcende todas as dificuldades de nacio-
nalidade e cultura, ideologia e credo, e
constitui uma poderosa fonte de unidade
para os povos de todo o planeta.
Ao observar este Dia Internacional da Paz,
as Nacoes Unidas abrem seus bracos 2s
criancas, que representam nosso compro-
misso mais solene com o futuro. Ao final
deste seculo, 2.500 milhoes de pessbas -
quase a metade da populacao muildial -
tera menos de 20 anos. Esta cifra represen-
ta a populacao total do inundo em 1950.
Para poder viver coin dignidade no seculo
XXI, esses milhoes de pessoas necessitarao
de alimentacao adequada, teto, assistencia
medica e educacao, e, acima de tudo, neces-
sitarao de paz.
Nossa obrigacao, hoje, A de lutar com perse-
veranca, para que o dia de amanha esteja
livre do perigo da guerra nuclear ou con-
vencional e nao se veja assolado pelos
conflitos atuais. Essa e a proinessa que te
mos feito aos jovens. Nas pol iticas que ela-
boremos e nas medidas que adoteinos, essa
promessa nao deve ser traida.
JAVIER P ~REZ DE CUELLAR
Secretario Geral das Nacoes Unidas*
* ': WC~I Notlcia~. pagina 138, uma informa& sobre a comernora@o, no Itamaraty, do Dia e Ano Internacionais da Par
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