No. 50/1986
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consciencia de que sein a a seguranca de um<br />
crescimento econoinico equitativo, cujos<br />
benef (cios possam ser aproveitados pela so-<br />
ciedade como um todo, sera inais diflcil<br />
preservar liberdades democraticas tao<br />
arduamente conquistadas.<br />
Nao tem sido facil, porem, a tarefa de cori-<br />
seguir no ambito externo condicoes razoa-<br />
velmente satisfatorias para o cresciinento<br />
econoinico. Enfrentamos, coino pals em<br />
desenvolviinento, situacoes adversas, so-<br />
frendo as consequencias indiretas de deci-<br />
soes tomadas no ambito interno das econo-<br />
mias centrais, concertadas e iinpleinentadas<br />
na maioria das vezes a revelia de nossos in-<br />
teresses e preocupacoes. Sobre nos recai in-<br />
variavelmente o onus dos ajustes considera-<br />
dos necessarios para o melhor ordenamento<br />
da economia mundial. Os paises industrial i-<br />
zados raramente correspondem a esses nos-<br />
sos ajustes que fazemos coin inegavel sacri-<br />
f (cio.<br />
Para podermos atender os comproinissos f i-<br />
nanceiros internacionais, somos obrigados a<br />
inanter superavits de balanco de contas cor-<br />
rentes, o que muitas vezes s6 consequimos<br />
fazer atraves de uma contracao drastica de<br />
importacoes. Saldos favoraveis sobretudo<br />
de ngssa balanca comercial tendem, assiin,<br />
a se transformar em um objetivo em si<br />
mesmo, nao necessariamente ein sintonia<br />
coin as necessidades globais de desenvolvi-<br />
mento de nossos paises. Paradoxalmente,<br />
quando com as dificuldades conhecidas<br />
conseguimos inanter nossas balancas supe-<br />
ravitarias, somos objeto de criticas em<br />
nome de postulados livre-cambistas, mais<br />
apregoados do que seguidos.<br />
A divida externa - para a qual ainda nao se<br />
vislumbra uma solucao satisfatoria - cons-<br />
titui-se inegavelmente na questao central<br />
para a maioria dos paises em desenvolvi-<br />
mento. Mantidas as taxas de juros vigentes<br />
ate a metade da decada, o Brasil, a cada<br />
sete anos pagaria o equivalente a totalidade<br />
do principal de sua divida, sein conseguir<br />
livrar-se desse pesado Onus que afeta tanto<br />
sua economia, quanto a sociedade brasileira<br />
coino um todo. Um dos aspeclos mais per-<br />
versos do atual cenario economico interna-<br />
cional consiste no fato dos paises em desen-<br />
volvimento terem-se transformado em ex-<br />
portadores Ilquidos de capital. <strong>No</strong>s ultimos<br />
quatro anos, a America Latina transferiu<br />
cerca de 100 bilhoes de dolares para o ex-<br />
terior. Se considerarmos as profundas ca-<br />
rencias da regiao em setores basicos, como<br />
saude, alimentacao, transporte, habitacao e<br />
educacao, nos damos conta do absurdo nao<br />
apenas econoinico, mas tambem moral de<br />
regras e praticas que prevalecem na econo-<br />
mia mundial dos nossos dias. Tem razao<br />
nosso colega Ministro das Relacoes Ex terio-<br />
res da Argentina quando nos alerta para<br />
a insensatez que tende a predominar nas<br />
relacoes internacionais.<br />
Insistiinos, assiin, na necessidade. de um<br />
tratamento polftico para a questao da di-<br />
vida externa. O cumprimento das obriga-<br />
coes financeiras internacionais nos paises<br />
em desenvolviinento exige coino pre-requi-<br />
sito condicoes seguras para seu cresciinen-<br />
to. Sem esse crescimento, estariamos con-<br />
denados a pagar a divida externa coin a in i-<br />
seria e a fome de nossos povo& E isso ja-<br />
mais faremos.<br />
Senhor Presidente.<br />
As dificuldades e incoinpreensoes encontra-<br />
das com os nossos parceiros desenvolvidos<br />
nao tem esmorecido o nosso empenho em<br />
busca de um ordenamento econoinico inun-<br />
dia1 inais justo e eficaz. Procuramos ha al-<br />
guns anos engajar os paises desenvolvidos<br />
num exame das questoes relacionadas com<br />
o comercio, moeda e financas. Esse exame,<br />
temos certeza, ensejara uma compreensao<br />
mais clara da interacao entre a expansao<br />
das nossas exportacoes, a capacidade de sal-<br />
dar a divida externa e a imperiosa necessi-<br />
dade de crescimento economico. Lamenta-<br />
mos que respostas negativas ou protelato-<br />
rias a estas e outras iniciativas tenham leva-<br />
do a inacao da Assembleia Geral e de ou-<br />
tros orgaos da Carta de Sao Francisco, co-<br />
mo o ECOSOC.<br />
Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).