No. 50/1986
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que conduziu a vitoria as forcas da liberda-<br />
de", que opunha "ao totalitarismo a ban-<br />
deira das quatro liberdades".<br />
Na inao de General Eisenhower, beijava a<br />
inao de todos aqueles que concorreraih<br />
para evitar a morte da democracia em parte<br />
consideravel do universo. "Se existe e fun-<br />
ciona esta assembleia, dizia ele, se estamos<br />
aqui reunidos como delegados do povo para<br />
o fim de elaborar uina lei fundamental que<br />
assegure ao pais a vigencia de instituicoes<br />
livres; se o inundo, por estas horas, nao se<br />
acha reduzido a uina situacao de ignominia,<br />
como que transformado, todo ele em uina<br />
vasta senzala; se nao subiu aos altares,<br />
afrontando D proprio Cristo, a divindade<br />
paga da forca tonitroante; se a vida, no<br />
planeta que habitamos, nao passou a ser<br />
alguma coisa que nao valesse a pena viver, e<br />
indiscut lvel que o devemos ao fato de, na<br />
guerra, a fortuna das armas ter sorrido aos<br />
palses que nela se bateram (...I para afastar<br />
que sobre a humanidade um dos maiores<br />
perigos que jamais a ameacaram atraves das<br />
idades e dos seculos".<br />
O gesto tao comentado na epoca pode ficar<br />
na inao do General Eisenhower, como ficou<br />
na Historia do Brasil, slinbolo de uina cons-<br />
ciencia universal, que ama a liberdade e<br />
dela nao prescinde e nao quer prescindir<br />
para viver.<br />
Jovem deputado, na ocasiao colega de Vos-<br />
sa Excelencia, Senhor Presidente, assisti,<br />
comovido, na Cl lnica Sao Vicente, aos ulti-<br />
mos dias da vida do grande brasileiro, fragil<br />
e crepuscular, mas sempre inteligente ei<br />
perspicaz, narrador envolvente de episodios<br />
que povoaram sua biografia rica de expe-<br />
riencia e saber.<br />
Eram longas conversas, e o tempo passava<br />
sem que percebesse a fuga apressada das<br />
horas. E como se tornara importante, para<br />
o novico parlamentar, ouvir a voz de quem<br />
era o verdadeiro eco de um longo tempo da<br />
vida nacional.<br />
Muito teria, aqui, a dizer e a recordar. Ren-<br />
do-lhe, portanto, a minha homenagem e a<br />
de tantos congressistas da epoca, inclusive<br />
Vossa Excelencia, repetindo neste momen-<br />
to, o paragrafo final do seu ultimo discur-<br />
so, proferido no Senado da Republica, em<br />
1 Q de dezembro de 1959: "Que o Brasil<br />
triunfara das suas atuais vicissitudes, nao<br />
haja, nem possa haver, a menor duvida.<br />
Que, todavia para que triunfe, tera que sub-<br />
meter-se a algumas medidas drasticas, admi-<br />
nistrativas e politicas, que so creio se<br />
ponham em pratica - e necessariamente se<br />
terao de por - quando a dureza dos fatos,<br />
na sua realidade, abrindo os olhos a todos,<br />
despertar o civismo de todos, civis e milita-<br />
res, de modo que contribua cada qual com<br />
a quota de sacriflcio que lhe caiba, que<br />
nao pode deixar de caber-lhe para que a<br />
Nacao se desafogue, e o que estou conven-<br />
cido, sincera e profundamente convencido.<br />
Confesso, Senhor Presidente, anseio pela<br />
vinda desse dia em que todos, tambem eu,<br />
tenhamos que pagar esse tributo que ja vai<br />
tardando".<br />
Otavio Mangabeira, "o homem, a ultima<br />
das coisas efeineras", atravessou o dantes-<br />
co rio. E, como nos versos d poeta, "re<br />
gressou a noite, tranquila e ca ma, como a<br />
paisagem ao morrer do dia".<br />
Senhor Presidente:<br />
Vossa Excelencia, com a sua honrosa pre-<br />
senca, homenageia ein nome do Brasil, a<br />
memoria de Otavio Mangabeira. Como<br />
Vossa Excelencia que hoje, nesta luta po-<br />
Iltica, encarna as caracterlsticas louvaveis<br />
do nosso povo, o eminente baiano foi de-<br />
putado, foi senador, foi governador, per-<br />
tenceu a Academia Brasileira de Letras, e o<br />
destino, vale recordar, para uni-los, ainda<br />
mais, em suas coincidencias, permitiu fos-<br />
sem hospedes do mesmo hotel, por muito<br />
,tempo.<br />
Assim, ao termo das minhas palavras, tenho<br />
a conviccao de que se Otavio Mangabeira,<br />
ainda vivo estivesse, nao estaria frequentan-<br />
do o extenso currlculo dos exllios ou a<br />
confidencia das conspiracoes. Nao estaria,<br />
Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).<br />
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