25.08.2013 Views

No. 50/1986

No. 50/1986

No. 50/1986

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Encontrou-o na tenda de oxigenio e lhe dis-<br />

se preocupado: "Adiei a minha viagem". E<br />

Mangabeira. "Eu tambem". Na Camara dos<br />

Deputados, relator por varios anos do orca-<br />

mento do Ministerio da Marinha, foi convi-<br />

dado num gesto de gentileza tradicional~ein<br />

nossa Marinha, para assistir, a um exercicio<br />

naval. Ao troar dos primeiros disparos, o<br />

Almirante, ao ve-lo estremecer coin o<br />

ruido do canhoneiro, bateu-lhe no ombro e<br />

perguntou-lhe atenciosamente: "Deputado,<br />

esta se sentido inseguro?" E Mangabeira,<br />

ainda atordoado, respondeu : "E verdade,<br />

seguro mesmo eu estaria se estivesse no<br />

alvo". E logo apos, produzido o efeito da<br />

frase de espirito, felicitou o Almirante pelo<br />

exito cios exercicios e agradeceu o dia<br />

inagnlfico que lhe propiciara. Homem vivi-<br />

do e cauteloso, a um reporter que lhe pedia<br />

uma entrevista avisou: "Meu caro, nao me<br />

faco de rogado, porque nao adianta. Nao<br />

brinco com jornalistas, mesmo porque se a<br />

gente nao fala, eles falam por nos."<br />

Quanto a placas e medalhoes de bronze,<br />

deixemos que ele inesino faca correr, aqui,<br />

o seu humor ainda mais quando o fato tam-<br />

bem se liga, com muita graca, ao Itainarati<br />

"Quando ha tres dias, me comunicaram que<br />

iam colocar neste recinto (Hotel da Bahial<br />

uina placa, e soube que nesta placa havia<br />

um medalhao coin a minha ef igie, assustei-<br />

me seriamente.<br />

Tenho a respeito de placas uina recordacao<br />

interessante. Quando estava no Ministerio<br />

do Exterior, e procurei restaurar o Palacio<br />

Itainarati, dei com uina sala fechada, escu-<br />

ra, empoeirada, desarrumada, que nao ti-<br />

nha nenhuma aplicacao. Perguntei que sala<br />

era aquela e porque estava naquelas condi-<br />

coes. Explicaram-me que era a sala onde<br />

trabalhou, morou e morreu o Barao do Rio<br />

Branco. Julguei estranha a homenagem que<br />

se prestava ao Barao, abandonando-lhe a<br />

sala, a pretexto de reverencia. Resolvi entao<br />

transforma-la em salao inagnlfico, que iria<br />

ser precisamente, e pelos tempos em fora,<br />

a sala de trabalho dos Ministros, para que<br />

estes trabalhassem com o pensamento na<br />

patria, sob a inspiracao do grande esplrito<br />

que por ali pairava. Assim se fez e assim se<br />

vai cumprindo, acredito que para sempre.<br />

Mas, em dado momento tivemos que resol-<br />

ver o problema de deixar assinalado que ali<br />

tinha trabalhado e morrido o grande brasi-<br />

leiro. Surgiu a ideia da placa. Uma placa de<br />

marmore. Mas, se considerou que uma pla-<br />

ca de marmore na parede, onde houvesse a<br />

palavra "faleceu" ou "falecimento" pode-<br />

ria dar a impressao de que o barao estava<br />

enterrado ali. Imaginou-se uma placa de<br />

bronze; depois uina placa de prata; final-<br />

mente, uina placa de ouro. Acabou-se por<br />

fazer uina grande inscricao, em letras dou-<br />

radas, em torno da sala, porque um dos pre-<br />

sentes, conhecido homem de espirito, de-<br />

pois de tres ou quatro. palestras, sem que se<br />

chegasse a solucao, me ponderou: Senhor<br />

Ministro, eu, se fosse o senhor, desistiria da<br />

placa; porque os fatos estao demonstrando<br />

que se trata de um caso implacavel. Ora,<br />

por uina associacao de ideias, parece-me iin-<br />

placavel aqui um bronze com o meu re-<br />

tra-to. E que corro, de hoje por diante, o ris-<br />

co de um hospede, principalmente estran-<br />

geiro, que nao saiba ler a inscricao, ao depa-<br />

rar com este bronze, concluir logicainente<br />

que eu sou o dono do hotel! E talvez ainda<br />

pior: um dono que ja morreu! ".<br />

Certa vez, e o episodio me foi contado pelo<br />

proprio Presidente Castelo Branco, o ilustre<br />

brasileiro, entao General de Divisao, apos<br />

muito argumentar e cansado da insistencia<br />

de Otavio Mangabeira na tentativa de atrai-<br />

lo para o movimento que visava A derruba-<br />

da de Juscelino Kubitschek, lhe indagou:<br />

"Muito bem, mas retirado o Presidente,<br />

quem se coloca no lugar dele?" Mangabeira<br />

respondeu rapidamente: "Qualquer- um, o<br />

senhor inesino serve".<br />

Otavio Mangabeira foi grande em todas as<br />

suas atividades e em todos os seus aspectos,<br />

configurando o homem publico de qualida-<br />

des invejaveis e a quem nem a inveja ou o<br />

rancor, no carrossel do despeito, poderiam<br />

sugerir rotulos que depreciassem uma res-<br />

peitavel biografia. Parlamentar, Ministro,<br />

ou Governador, foi sempre um vitorioso,<br />

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!