No. 50/1986
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Encontrou-o na tenda de oxigenio e lhe dis-<br />
se preocupado: "Adiei a minha viagem". E<br />
Mangabeira. "Eu tambem". Na Camara dos<br />
Deputados, relator por varios anos do orca-<br />
mento do Ministerio da Marinha, foi convi-<br />
dado num gesto de gentileza tradicional~ein<br />
nossa Marinha, para assistir, a um exercicio<br />
naval. Ao troar dos primeiros disparos, o<br />
Almirante, ao ve-lo estremecer coin o<br />
ruido do canhoneiro, bateu-lhe no ombro e<br />
perguntou-lhe atenciosamente: "Deputado,<br />
esta se sentido inseguro?" E Mangabeira,<br />
ainda atordoado, respondeu : "E verdade,<br />
seguro mesmo eu estaria se estivesse no<br />
alvo". E logo apos, produzido o efeito da<br />
frase de espirito, felicitou o Almirante pelo<br />
exito cios exercicios e agradeceu o dia<br />
inagnlfico que lhe propiciara. Homem vivi-<br />
do e cauteloso, a um reporter que lhe pedia<br />
uma entrevista avisou: "Meu caro, nao me<br />
faco de rogado, porque nao adianta. Nao<br />
brinco com jornalistas, mesmo porque se a<br />
gente nao fala, eles falam por nos."<br />
Quanto a placas e medalhoes de bronze,<br />
deixemos que ele inesino faca correr, aqui,<br />
o seu humor ainda mais quando o fato tam-<br />
bem se liga, com muita graca, ao Itainarati<br />
"Quando ha tres dias, me comunicaram que<br />
iam colocar neste recinto (Hotel da Bahial<br />
uina placa, e soube que nesta placa havia<br />
um medalhao coin a minha ef igie, assustei-<br />
me seriamente.<br />
Tenho a respeito de placas uina recordacao<br />
interessante. Quando estava no Ministerio<br />
do Exterior, e procurei restaurar o Palacio<br />
Itainarati, dei com uina sala fechada, escu-<br />
ra, empoeirada, desarrumada, que nao ti-<br />
nha nenhuma aplicacao. Perguntei que sala<br />
era aquela e porque estava naquelas condi-<br />
coes. Explicaram-me que era a sala onde<br />
trabalhou, morou e morreu o Barao do Rio<br />
Branco. Julguei estranha a homenagem que<br />
se prestava ao Barao, abandonando-lhe a<br />
sala, a pretexto de reverencia. Resolvi entao<br />
transforma-la em salao inagnlfico, que iria<br />
ser precisamente, e pelos tempos em fora,<br />
a sala de trabalho dos Ministros, para que<br />
estes trabalhassem com o pensamento na<br />
patria, sob a inspiracao do grande esplrito<br />
que por ali pairava. Assim se fez e assim se<br />
vai cumprindo, acredito que para sempre.<br />
Mas, em dado momento tivemos que resol-<br />
ver o problema de deixar assinalado que ali<br />
tinha trabalhado e morrido o grande brasi-<br />
leiro. Surgiu a ideia da placa. Uma placa de<br />
marmore. Mas, se considerou que uma pla-<br />
ca de marmore na parede, onde houvesse a<br />
palavra "faleceu" ou "falecimento" pode-<br />
ria dar a impressao de que o barao estava<br />
enterrado ali. Imaginou-se uma placa de<br />
bronze; depois uina placa de prata; final-<br />
mente, uina placa de ouro. Acabou-se por<br />
fazer uina grande inscricao, em letras dou-<br />
radas, em torno da sala, porque um dos pre-<br />
sentes, conhecido homem de espirito, de-<br />
pois de tres ou quatro. palestras, sem que se<br />
chegasse a solucao, me ponderou: Senhor<br />
Ministro, eu, se fosse o senhor, desistiria da<br />
placa; porque os fatos estao demonstrando<br />
que se trata de um caso implacavel. Ora,<br />
por uina associacao de ideias, parece-me iin-<br />
placavel aqui um bronze com o meu re-<br />
tra-to. E que corro, de hoje por diante, o ris-<br />
co de um hospede, principalmente estran-<br />
geiro, que nao saiba ler a inscricao, ao depa-<br />
rar com este bronze, concluir logicainente<br />
que eu sou o dono do hotel! E talvez ainda<br />
pior: um dono que ja morreu! ".<br />
Certa vez, e o episodio me foi contado pelo<br />
proprio Presidente Castelo Branco, o ilustre<br />
brasileiro, entao General de Divisao, apos<br />
muito argumentar e cansado da insistencia<br />
de Otavio Mangabeira na tentativa de atrai-<br />
lo para o movimento que visava A derruba-<br />
da de Juscelino Kubitschek, lhe indagou:<br />
"Muito bem, mas retirado o Presidente,<br />
quem se coloca no lugar dele?" Mangabeira<br />
respondeu rapidamente: "Qualquer- um, o<br />
senhor inesino serve".<br />
Otavio Mangabeira foi grande em todas as<br />
suas atividades e em todos os seus aspectos,<br />
configurando o homem publico de qualida-<br />
des invejaveis e a quem nem a inveja ou o<br />
rancor, no carrossel do despeito, poderiam<br />
sugerir rotulos que depreciassem uma res-<br />
peitavel biografia. Parlamentar, Ministro,<br />
ou Governador, foi sempre um vitorioso,<br />
Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).