No. 50/1986
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do movimentado pleito presidencial de<br />
1930, o referido Embaixador, entao Cbn-<br />
sul, compareceu ao seu gabinete para infor-<br />
mar-lhe de que nao poderia viajar no dia<br />
seguinte, conforme determinacao que rece-<br />
bera, a fim de ocupar seu posto no estran-<br />
geiro, porque com isso ficaria privado de<br />
votar no Dr. Getulio Vargas. Desconhecia,<br />
talvez, o homem com quem tratava. Otavio<br />
Mangabeira respondeu-lhe, sereno, sem<br />
qualquer hesitacao: "Nao seja esta a duvida.<br />
Transfere-se a passagem para outro vapor e<br />
o senhor nao deixar6 de exercer o dever<br />
cfvico de votar". Ildefonso Falcao ficou<br />
agradecido aquele estadista que, dirigindo a<br />
nossa pol ftica externa, sabia manter a Casa<br />
de Rio Branco acima das dissensoes da po-<br />
Iltica interna. E quando Otavio Mangabeira,<br />
no curso do segundo exllio, chegou a Cola-<br />
nia, o Consul hasteou a bandeira brasileira<br />
no consulado, para receber e homenagear<br />
o homem de quem se tornara permanente<br />
admirador.<br />
Medida de altivez, exemplo para os poste-<br />
ros, e a resposta que deu a Comissao de<br />
Sindicancia que lhe solicitava esclareciinen-<br />
tos sobre explicacoes prestadas pelo Dr.<br />
Leao Veloso a respeito de certas despesas<br />
reservadas:<br />
"Aos senhores Leopoldo Vossio Brfgido,<br />
Jose Alves de Carvalho e A. de Lima Cam-<br />
pos:<br />
Nao tomo conhecimento dos papeis que<br />
vossas senhorias me enviaram, acoinpanha-<br />
dos de carta de 16 de janeiro, que acabo de<br />
receber, ha um quarto de hora. Nao eviden-<br />
temente, por desatencao pessoal a vossas<br />
senhorias, mas porque seria um contra-sen-<br />
so que Ihes reconhecesse autoridade, para<br />
tomar-me contas.<br />
Proceda a revolucao como entender. Pode<br />
catar a vontade, no meio dos grandes ser-<br />
vicos que, nao me poupando esforco algum,<br />
prestei demonstradamente a minha Patria,<br />
dentro e fora das suas fronteiras, na pasta<br />
das Relacoes Exteriores, essa ou aquela irre-<br />
gularidade, ao menos aparente, que se lhe<br />
afigure mais propfcia h difamacao de adver-<br />
sario, tolhido em sua defesa, primeiro, pela<br />
prisao, em seguida, pelo exflio, e, de modo<br />
geral e permanente, pela supressao da liber-<br />
dade, que tanto representa, no pafs, a ins-<br />
tituicao da ditadura.<br />
Por tudo que se fez, no MinistArio durante<br />
o perlodo em que fui Ministro, sou, inte-<br />
gralmente, o responsavel. Desprezo a mise-<br />
ricordia, sequer a benevolencia da inquisi-<br />
cao vigente. Quando ela estiver saciada em<br />
todos os seus apetites, hei de falar a Na-<br />
cao, que e o so poder, no Brasil, a quem<br />
devo prestar vassalagem. Hei de comparar-<br />
me, face a face, com os meus inquisidores.<br />
'Hei de mostrar-lhe que a nao desonrei, no<br />
posto que exerci.<br />
Deus guarde as Vossas Senhorias"<br />
Otavio Mangabeira, como se ve, foi uma<br />
personalidade admiravel, homem publico<br />
de primorosa biografia, inclusive como in-<br />
telectual, membro da Academia Brasileira<br />
de Letras, estadistas que soube viver o<br />
tema da sua vida e a quem a Patria ofertara<br />
sempre a reverencia de sua gratidao. Mas<br />
ha, em sua vida extraordinaria: duas atitu-<br />
des que se tem prestado a variadas versoes<br />
e, por vezes, a malquerentes interpretacoes.<br />
Isso se da, alias, com os grandes vultos da<br />
historia, acusados de contradicoes ou da<br />
pratica de gestos que nao se filiam a tra-<br />
dicao de uma carreira afortunadamente<br />
exemplar. Talvez, porque seus amigos ou<br />
admiradores nao se disponham ao trabalho<br />
esclarecedor, por julgarem seus Idolos<br />
acima de qualquer suspeita, ou os cronistas<br />
da epoca se atenham as versoes nascidas da<br />
ignor%ncia, ou ma fA, em tempo de apaixo-<br />
nadas disputas polfticas. Ate hoje ainda ha<br />
brasileiros, e especialmente baianos, que<br />
nao compreendem, e por isso o condenam,<br />
porque Otavio Mangabeira nao apoiou Ruy<br />
Barbosa, civilista e baiano, maior figura da<br />
Republica, na sua primeira campanha presi-<br />
dencial, contra o Marechal Hermes da Fon-<br />
seca. Mas assim o fazem por desconhece-<br />
rem a intimidade das razoes hist6ricas da<br />
tpol ftica nacional.<br />
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