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No. 50/1986

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Ruy Barbosa, que regressara de Haia, cober-<br />

to de gloria, impugnou a candidatura de<br />

Davi Campista, lancado por Afonso Pena,<br />

nao porque s6j julgasse preterido, mas em<br />

nome do principio, que ja era um dogma da<br />

fe republicana, da nao intervencao dos pre<br />

sidentes na escolha dos seus sucessores. Na<br />

Bahia, figuras mocas da polltica local, entre<br />

as quais Otavio Mangabeira, imbufdas da<br />

inesina conviccao, opuseram-se ao candida-<br />

to oficial ao Governo do Estado, Deputado<br />

Domingos Guimaraes, e lancaram a candi-<br />

datura de Jose Joaquim Seabra, um nome<br />

de projecao nacional, Ilder do grande go-<br />

verno de Campos Sales, Ministro da Justica<br />

do respeitavel Presidente Rodrigues Alves<br />

e figura muito querida em nosso estado.<br />

Pinheiro Machado, influente chefe polltico<br />

da epoca, solidarizou-se com Ruy Barbosa<br />

e, considerando que para fazer face ao po-<br />

der presidencial cumpria opor-lhe forca cor-<br />

respondente quanto a elementos para a lu-<br />

ta, levantou, contra a candidatura do Minis-<br />

tro da Fazenda, a do Ministro da Guerra,<br />

Marechal Herines da Fonseca. Ruy divergiu<br />

de Pinheiro Machado, e contestou a nova<br />

candidatura, nao porque questionasse o di-<br />

reto que assistia aos militares de se candi-<br />

datarem i3 Presidencia, mas porque ela re-<br />

sultava da posicao e do poder militar do<br />

candidato. .E coino impugnara, uina apos<br />

outra, duas candidaturas, julgou-se inoral-<br />

mente incoinpatlvel para ser, ele proprio,<br />

o candidato. Por este motivo, tentou o<br />

Barao do Rio Branco e recorreu a Rodri-<br />

gues Alves, que nao atenderam ao seu ape-<br />

lo. Ruy Barbosa, esgotados os seus recursos<br />

e passados mais de tres meses do lancainen-<br />

to da condidatura de Herines da Fonseca,<br />

em plena campanha no pals, rendeu-se A<br />

evidencia de que ja nao lhe restava outra<br />

alternativa se nao, Aquela altura, a do sacri-<br />

flcio de sua candidatura, lancada pelo Go-<br />

vernador de Sao Paulo, Albuquerque Lins.<br />

Seabra, porem, desde a impugnacao do no-<br />

me de Davi Campista, adotara a candidatu-<br />

ra de 'Herines da Fonseca, que, quando<br />

General, fora seu colaborador no comando<br />

da Pollcia Militar do Distrito Federal. E os<br />

baianos que, como Otavio Mangabeira, es-<br />

tavam comprometidos com o seu candidato<br />

que ja era, inegavelmente, um polltico de<br />

grande prestfgio popular. Otavio Mangabei-<br />

ra, portanto, nao praticou nenhum ato de<br />

lesa-inajestade, nao traiu a Bahia, nem ficou<br />

contra a afeicao nacional. Quando, em<br />

companhia de Seabra, comprometeu-se<br />

com o Marechal Herines da Fonseca, Ruy<br />

Barbosa ainda nao era candidato, e peregri-<br />

nava ao encontro de nomes ilustres, tentan-<br />

do convence-los a disputar a cadeira presi-<br />

dencial. Mangabeira, mais uina vez, dava<br />

uma licao de coerencia e de dignidade,<br />

sendo fiel a si mesmo e aos coinpro~nissos<br />

assumidos em praca publica. Essa e a ver-<br />

dade, embora nao haja "verdade que nao<br />

traga em si o seu ainargor".<br />

Tambem, quanto ao general Dwight Eisen-<br />

hower, Otavio Mangabeira foi vitima dos<br />

conflitos ideologicos e das paixoes que,<br />

ja entao, comecavam a separar novainen-<br />

te aqueles que, circunstancialmente, se uni-<br />

ram para derrotar a besta fera do nazi-nipo-<br />

facisrno. Os reslduos divergentes de filoso-<br />

fias pol lticas contrastantes ja estavam na<br />

trincheira, para ganhar as vantagens de uina<br />

paz que, coino sempre acontece, seria fer-<br />

mento e arauto de novas conflagracoes. Em<br />

geral, a vitoria na guerra e sempre uma cer-<br />

teza. Mas a vitoria na paz nunca deixa de<br />

ser uina duvida.<br />

Quando Otavio Mangabeira encerrou seu<br />

inagnlfico discurso de saudacao ao Gene-<br />

ral Eisenhower, beijandoJhe a mao, "uma<br />

simples referencia, mais eloquente que<br />

quaisquer palavras", nao estava praticando<br />

um gesto de servilismo provinciano ou com-<br />

prometendo a soberania nacional, na casa<br />

do povo. So mesmo o odio preconceituoso<br />

ou a desvairada paixao polltica poderiam<br />

tentar ferir ou ultrajar esse gesto significa-<br />

tivo de expressiva beleza. Mangabeira nao<br />

se curvava, reverente, ante um conquistador<br />

ou um despota. Nao cortejava um vence-<br />

dor, ou sua patria, no fastlgio do triunfo.<br />

Com sua atitude ele prestava uma hoinena-<br />

gem universal ao comandante dos exercitos<br />

"que esmagaram a tirania", beijava "a mao<br />

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

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