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Anais VII SIC - UERN

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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1195<br />

Ao iniciar o estudo, observamos que apesar do conto Dagon, ser um conto curto,<br />

Lovecraft tece um texto muito detalhado, enfatizando as emoções e dúvidas do personagem,<br />

até a descrição da revelação final de tal horror presenciado por ele, deixando sempre o leitor<br />

em dúvida sobre como seria a real descrição da criatura marinha desconhecida, revelada<br />

somente ao fim do conto, e mesmo assim, com poucos detalhes. Dessa maneira, o conto<br />

contém ainda mais a atmosfera de terror, pavor, suspense e mistério no ar. Sem nenhuma<br />

explicação feita por meios naturais, o desconhecido ou o incomum no conto Dagon pode ser<br />

observado como marcas sempre presentes nos contos de H. P. Lovecraft, como pano de fundo<br />

e características de sua Literatura Fantástica, o que impossibilita àquele que tem acesso aos<br />

relatos maiores explicações sobre o conteúdo. Até então o que se percebe é uma ênfase na<br />

constituição da atmosfera do conto, e nas sensações de pavor do protagonista. Não há ações<br />

em grande parte do conto, pois Lovecraft guarda para o final da história a apresentação da<br />

manifestação do horror. Assim, uma vez que “a atmosfera, e não a ação, é o grande<br />

desideratum da ficção fantástica” (LOVECRAFT, 2010, p.159), o autor opta por não revelar o<br />

horror propriamente dito com detalhes, enfatizando em todo o conto “os efeitos específicos do<br />

horror em relação ao conjunto de condições dadas” (LOVECRAFT, 2010, p.158).<br />

Esse conjunto de condições dadas pela atmosfera da ficção fantástica, através dos<br />

efeitos específicos do horror presenciado pelo narrador, descrito num total estado de incerteza<br />

tanto por parte do leitor quanto por parte do próprio personagem protagonista, atua nos<br />

delírios e ilusões provocadas por tal espanto e horror que nem ele mesmo julga em acreditar<br />

ou lembrar. O conjunto, assim como os efeitos, serão desta maneira condições bem<br />

articuladas nas narrativas de H. P. Lovecraft, provocando por intermédio das tensões do<br />

tempo racional a loucura no indivíduo.<br />

Portanto, é notória a grande criatividade do escritor H. P. Lovecraft em criar um<br />

universo onde criaturas grotescas e marinhas ganham formas e características que parecem<br />

mesmo terem existido. Descrições horripilantes, que aterrorizam os personagens, que mais<br />

parecem loucos, ao ponto de nem querer mais viver, por carregarem consigo a eterna imagem<br />

do medo.<br />

Não diferente, o conto A sombra sobre Innsmouth (1931) apresenta uma história<br />

contada por meio de um relato em primeira pessoa, através de memórias que são relembradas<br />

por usos de falas de indivíduos que participam desse episódio. Tais falas dos indivíduos são<br />

citadas pelo narrador, no próprio corpo do texto, dando ao conto o caráter de algo mais real,<br />

denotando que o personagem narrador parece ter mesmo vivido aqueles acontecimentos. A<br />

história deste modo inicia-se no momento em que o personagem sente-se obrigado a desafiar<br />

o silêncio que se impôs sobre as poucas horas em que passou na pacata e estranha cidade de<br />

Innsmouth, há tempos. Sem ter a “intenção de alertar o leitor sobre horrores inomináveis”<br />

(BEZARIAS, 2010, p. 44), Lovecraft descreve toda a história em forma de relato sugerindo<br />

algo mais real. A primeira vez que o personagem escuta falar sobre Innsmouth, desperta<br />

inesperadamente nele uma curiosidade de conhecer tal lugar.<br />

Podemos perceber, então, que o desconhecido funciona como fator estimulante, e<br />

desperta no personagem um sentimento de curiosidade, “o perigo” torna-se hesitante e<br />

impressionante, fazendo o individuo narrador se motivar através dos poucos vestígios do<br />

passado mencionado. A história obscura torna-se, deste modo, ainda mais merecedora de<br />

interesse, informação e conhecimento.<br />

Encontramos neste ponto uma descrição da atração pelo lugar desconhecido. O<br />

medo, nesse tipo de literatura gótica, atua como chave principal para as narrativas<br />

acontecerem. Ao mesmo tempo, atrelado ao medo está a negação desse sentimento, isto é, não<br />

querer entender ou se aprofundar nesse mistério. Assim, o que percebemos durante toda a<br />

narrativa é o encontro dessas contradições nas citações encontradas no corpo do texto e na<br />

própria fala do narrador, há estimulação e negação do início ao fim da trama. A negação e a<br />

ISBN: 978-85-7621-031-3

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