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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1156<br />
Nélida sempre viajava no mundos das histórias, desvendava mistérios, conhecia novos<br />
lugares através da sua própria imaginação, sempre foi apaixonada pela leitura, o que mais tarde<br />
viria a auxiliá-la na elaboração de suas obras. Aos dez anos de idade, a menina Nélida vive um<br />
acontecimento que mais tarde viria a servir como enredo de algumas de suas futuras obras, viaja do<br />
Brasil para Borela, uma pequena ilha localizada na Galícia, onde fica durante um período de dois<br />
anos. Lá a menina urbana tem pela primeira vez o contato com uma cultura rudimentar e passa a<br />
conviver com velhos contadores de histórias daquela região, o que lhe despertava grande interesse e<br />
admiração, já que tem a oportunidade de entrar em contato com histórias que lhe chegam pela via<br />
oral.<br />
O interesse pelo conhecimento de novas historias, fossem elas narradas pelos contadores da<br />
região ou lidas nos livros que Nélida ganhava de presente de seu pai, foi sem dúvida um primeiro<br />
passo para futuramente a fértil imaginação da garota complementar esses enredos em algumas de<br />
suas próprias obras, as quais, segundo afirma a própria Nélida, “uma vez iniciadas, não merecem<br />
parágrafo.” E esse gosto pela leitura, apreendido por nossa autora ainda mesmo enquanto criança,<br />
sempre foi muito estimulado por seu pai, figura relevante em sua vida, nem sabia ele que anos mais<br />
tarde a sua querida Nélida viria a ser consagrada como autora renomada não só aqui no Brasil, mas<br />
internacionalmente.<br />
Um fato peculiar em relação aos enredos assinalados por Nélida foi a trajetória vivida por<br />
sua família: em 1910, seu avô materno Daniel migra de Carballedo (Cotobade) para o Brasil, em<br />
busca de melhores condições de vida. Dessa maneira, trazendo na sua própria trajetória familiar a<br />
experiência de migrante, Piñon dará determinada ênfase a esse tipo de personagem em suas<br />
narrativas, dentre elas podemos citar, Fundador e a República dos Sonhos.<br />
Enquanto menina, ela sempre se mostrou deslumbrada com a trajetória do avô, sempre que<br />
podia presenciava cada momento em que o avô se pautava a contar suas aventuras. Avô esse que<br />
mais tarde viria a ser consagrado como personagem inspirador da neta. “Sou uma mulher a quem<br />
meu avô galego emprestou sua memória. Portanto, meu avô é a minha narrativa”.<br />
Sempre muito carinhosa e atenciosa para com a família, mostrava-se como uma fiel<br />
admiradora das histórias vivenciadas pela família, especialmente a parte em que descreviam o<br />
momento da migração para o Brasil. Essas aventuras contadas a Nélida, foram sem dúvida um<br />
marco inicial para seu pensamento enquanto autora, uma vez que suas obras têm um caráter<br />
psicológico, social e cultural.<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3