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Anais VII SIC - UERN

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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1098<br />

aconteceu também com os primeiros textos daquele período, em que eles eram lidos e os diferentes<br />

tabeliães e escribas escreviam e materializavam aqueles escritos. Narrar é de certa forma uma<br />

viagem imaginária, em que o que ouvimos nos possibilita enxergar com olhos da imaginação. Mas,<br />

nas sociedades ditas modernas, essa prática caiu em desuso, bem como o hábito pela leitura, como<br />

descreve Benjamin (1887, p. 197): “Uma das causas desse fenômeno é óbvia: as ações da<br />

experiência estão em baixa, e todo indica que continuarão caindo até que seu valor desapareça de<br />

todo (...)”<br />

O romance no período moderno vem traçar o fim da narrativa, através da burguesia que<br />

propiciou o êxito do romance e em contrapartida a queda da narrativa que aos poucos foi sendo<br />

esquecida. O que mais distanciava o romance da narrativa é que no romance não há marca da<br />

oralidade e ele é vinculado ao livro. Enquanto que a narrativa parte da tradição oral, como afirma<br />

Benjamin (1987, p. 201): “narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou<br />

a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência de seus ouvintes.”<br />

O verdadeiro narrador é aquele que vive e conta da sua própria experiência seja o<br />

camponês que sempre viveu naquele lugar, seja o navegador que viajou em busca de aventuras.<br />

Ambos, através da oralidade, transmitem as próprias experiências. Se o romance contribuiu para o<br />

declínio da narrativa, a difusão da informação também não foi diferente, ambas ameaçam o pequeno<br />

fio de vida da narrativa, pois o romance não aconselha nem tampouco recebe conselho. Já a<br />

informação mostra uma verificação imediata com prioridade ao novo. Desse modo, todos os fatos<br />

são seguidos de explicações, enquanto que na narrativa as explicações são evitadas. E isso, na<br />

verdade, é o que é fascinante na narração, pois cabe àquele que ouve ou lê interpretar a sua maneira,<br />

permitindo que pensemos, assim, não sermos seres alienados, mas pensantes, capacitados a<br />

estabelecer uma conexão com a ponte da fantasia à sabedoria, como descreve Couto (2007, p. 16):<br />

“A razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte entre<br />

esses dois mundos.”<br />

1.2. A sensibilidade do literário para a realidade moçambicana<br />

"A fantasia não é exatamente uma fuga da realidade. É um modo de a<br />

entender." (Lloyd Alexander)<br />

O menino Muidinga e velho Tuahir são dois personagens da história. Eles vão em busca<br />

da identidade do garoto, que não se recorda de sua infância, muito menos de sua família. Tuahir o<br />

encontrou em um campo de refugiados e cuidou dele até que se curasse, além de ter o ensinado a<br />

pensar, andar e falar.<br />

Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bambolentos como se<br />

caminhar fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão para lá de nenhuma<br />

parte, dando o vindo por não ido, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa<br />

guerra que contaminara toda a sua terra. Vão na ilusão de, mais além, haver um<br />

refúgio tranquilo. Avançam descalços, suas vestes têm a mesma cor do caminho.<br />

(COUTO, 2007. p. 9)<br />

Devido à caminhada longa, ficaram cansados, e encontraram um “machimbombo”<br />

(ônibus) incendiado, que passou a servir de abrigo para os dois, este cheio de corpos carbonizados,<br />

eles enterraram todos os corpos e em seguida encontram uma pessoa morta recentemente a tiro, e<br />

junto a ela uma mala com os cadernos que pertenciam a Kindzu, o corpo em questão. Todas as<br />

noites, o menino Muidinga passou a ler para Tuahir os diários de Kindzu, que falavam de sua<br />

ISBN: 978-85-7621-031-3

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