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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1207<br />
investigação em busca de si mesmo com o propósito de reverter o processo de desfiguração de sua<br />
imagem. Como quem tece seu próprio retrato, questionando a realidade e a ilusão, de forma mágica<br />
ele consegue destruir aquele hediondo e estranho reflexo e passa a contemplar seu rosto<br />
metamorfoseado. Assim, ser e parecer, fora e dentro, medo e revolta são os pares que constituem a<br />
dualidade desta narrativa.<br />
CONCLUSÃO<br />
O duplo é tema recorrente no mito e na literatura e tem conquistado espaço privilegiado<br />
na produção literária contemporânea. No Brasil, Guimarães Rosa pode ser apontado como um dos<br />
nomes que utilizou com esmero o mito do duplo em suas obras, isso se observa não só nas temáticas<br />
de suas tramas, mas na própria estrutura de suas narrativas. Um traço que indica o valor dado ao<br />
duplo em sua ficção pode ser observado no zelo em nomear suas personagens, um aspecto que<br />
indica o esfacelamento de seus heróis.<br />
Nos dois contos analisados, é o jogo ambivalente entre o bom e o mau, o ser e o parecer,<br />
o belo e o feio que põe em cena o tema do duplo. Em “A hora e vez de Augusto Matraga”, a<br />
construção do verdadeiro eu acompanha a trajetória de vida da personagem principal. A formação<br />
da identidade de Augusto Matraga está entrelaçada ao processo de maturidade da personagem, o<br />
que acontece mediante uma série de situações adversas que o leva a sentimentos distintos; as<br />
mudanças no comportamento de Nhô Augusto contribuem para a construção do drama do<br />
personagem representado como um ser cindido, ambíguo e ambivalente.<br />
No que se refere ao caso particular do conto “O Espelho”, de Primeiras Estórias,<br />
observamos que o escritor atualiza metaforicamente o mito de Narciso, pois, na trama o<br />
personagem-narrador, como Narciso, é atraído por seu reflexo num espelho, metáfora indiciadora<br />
do drama do personagem. Ao contemplar a imagem de um ser grotesco, o personagem, não<br />
nomeado, inicia um experimento de ordem psicológica que tem como objetivo encontrar sua<br />
verdadeira imagem. O espelho é o meio pelo qual o “outro” do narrador emerge. O estranho reflexo<br />
no espelho representa alegoricamente seu duplo. Dividido entre a realidade e a ilusão, o personagem<br />
se coloca como investigador de sua própria identidade.<br />
Analisando os personagens protagonistas dos dois contos e buscando analogias com o<br />
mito do duplo, constatamos que ambos são representados como seres esfacelados, em busca de<br />
compreender seu verdadeiro eu. Nos dois contos, Guimarães Rosa põe em discussão a problemática<br />
da dualidade humana, propiciando uma reflexão sobre a condição existencial. Nas obras estudadas,<br />
é possível perceber como o escritor desconstrói a concepção de que o homem é um ser uno,<br />
exemplar dotado de originalidade.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão de<br />
Bolsa de iniciação científica no exercício 2010-2011.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BRAVO, N. F. Duplo. In: BRUNEL, P. Dicionário de mitos literários. 2. ed. Rio de Janeiro: José<br />
Olympio, 1997. p. 261-288.<br />
FANTINI, M. Guimarães Rosa: fronteiras, margens, passagens. – Cotia, SP: Ateliê Editorial; São<br />
Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2003. Disponível em: http://books.google.com.br/b<br />
ooks?hl=ptBR&lr=&id=2rrRDly4odQC&oi=fnd&pg=PA15&dq=Jo%C3%A3o+Guimar%C3%A3e<br />
s+Rosa&ots=92y4YCJVhp&sig=BFgZ2WZhk3LTCw_LolTuXHohr8M#v=onepage&q=Jo%C3%<br />
A3o%20Guimar%C3%A3es%20Rosa&f=false. Acesso em 11 de maio de 2011, às 17:22.<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3