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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1197<br />
ainda era criança. Tal passagem é mostrada no filme através do recurso cinematográfico<br />
flashback, utilizado para melhor apresentar a quem assiste a compreensão da cena mostrada<br />
A música de abertura que acompanha os letreiros de cor dourada, mencionados<br />
anteriormente, simula a imersão na água. A utilização do referido som remete ao próprio<br />
conteúdo do filme, e aponta para o que será narrado. O mistério, o mar e o medo são então, os<br />
elementos principais que rondam os segredos que ocorrem durante toda a trama do filme,<br />
onde personagem Paul e nós espectadores, ansiamos em desvendar. Muitos são os mistérios,<br />
mas nenhum é tão estranho quanto os poucos nativos de Imboca. Como descrito e já analisado<br />
no conto A sombra sobre Innsmouth, de H. P. Lovecraft, os sujeitos eram muito esquisitos,<br />
aparentavam aspectos estranhos, pouco comuns. Não diferente do conto, no filme, os nativos<br />
de Imboca também eram mal encarados, de pele asquerosa, olhos arregalados que não<br />
piscavam, andar estranho, como se estivessem sempre mancando ou se rastejando.<br />
A passagem da descrição feita dos nativos no conto A sombra sobre Innsmouth,<br />
assim é montada e adaptada no filme, através de outras interpretações. Por exemplo, no conto<br />
quem vive o terror ao ver os nativos pela primeira vez ao chegar a Innsmouth é o personagem<br />
narrador, enquanto no filme Dagon, é a namorada de Paul, Bárbara, que presencia pela<br />
primeira vez algo de estranho na aparência dos habitantes de Imboca. Tal passagem no filme é<br />
assim uma tradução do conto A sombra sobre Innsmouth, de Lovecraft, que enfatiza o medo<br />
do personagem narrador quando ver e descreve a aparência física desses nativos, como já<br />
analisado anteriormente. No filme a cena é então montada, e é através do olhar de Bárbara,<br />
que a representação da tensão do medo da personagem é traduzida por uso de uns dos<br />
recursos cinematográficos, o travelling. É pelo uso dos movimentos de câmera, seguido do<br />
travelling enquadrado em primeiro plano no rosto de Bárbara, rapidamente aproximando na<br />
tela, que a cena traduzirá o “realce dramático de um personagem ou de um objeto que vão<br />
desempenhar um papel importante na sequência da ação” (MARTIN, 2009, p. 45). Tal cena<br />
então representa a tensão provocada pelo medo ao ver barbatanas nas mãos do padre,<br />
características incomuns para um ser humano. A barbatana é assim interpretada como um<br />
signo simbólico, reconhecido convencionalmente como pertencente ao universo marinho. Seu<br />
poder referencial se dá a partir de sua semelhança (inconicidade com o objeto que ele<br />
representa), ou seja, a própria seita aos adoradores do deus Dagon. A história apresenta um<br />
deus e um povoado totalmente ligados a água, ou seja, ao universo marinho, onde são comuns<br />
os seres desse habitar possuir características de um corpo fusiforme, com barbatanas, guelras<br />
e escamas.<br />
Assim, como já analisado nos dois contos de Lovecraft, o medo é a principal<br />
manifestação do horror presenciado, tanto quando os personagens entram em contato com o<br />
ambiente desconhecido, como quando eles vêem os nativos de tal lugar. Não diferente dos<br />
contos, mas sim traduzidas às obras literárias, já que se trata de uma adaptação fílmica, a<br />
interpretação do medo e do espanto nos personagens em contato com o desconhecido, não<br />
deixa de ser perceptível e assustadora, ao vermos através da interpretação e do trabalho da<br />
atriz e do ator, o medo estampado em seus rostos. O efeito desse signo na trama traduz e<br />
mostra as manifestações e transformações que os nativos de Imboca sofrem com o passar dos<br />
anos, por sua relação e adoração ao deus Dagon. Tal signo ainda influencia os horrores e<br />
espantos vividos pelos personagens turistas, quando entram em contato com os habitantes e<br />
todo o ambiente hostil da pacata Imboca.<br />
Outro fato de grande significação no filme é a aparição da mulher sereia, princesa<br />
Ushia, que Paul encontra, sem querer, em um quarto, deitada na cama sob cobertores (a<br />
mesma mulher sereia vista sempre em seus sonhos, o atraindo para as profundezas do<br />
misterioso mar). Tal sonho, assim realiza-se com tais acontecimentos descritos anteriormente,<br />
no presente, parecendo se manifestar como no sonho (primeiro passado). O sonho de Paul<br />
deste modo pode assim ser interpretado como um signo, de caráter indicial, já que ele<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3