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Anais VII SIC - UERN

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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1176<br />

Em certo momento da produção fílmica The Call of Cthulhu, (dirigida por Andrew<br />

Leman) em que o tio-avô Angell entrega uma chave ao sobrinho, percebe-se que a maquiagem<br />

trabalhada não só no professor de línguas semíticas, mas também em seu sobrinho é<br />

predominantemente pálida. O pavor sentido pelas personagens na obra escrita foi traduzido pela<br />

brancura da maquiagem associada aos olhos pretos.<br />

Nesse caso, o signo branco representa seu objeto (o medo) ao mesmo tempo<br />

simbolicamente e indicialmente. O índice representa seu objeto fortemente porque há uma ligação<br />

concreta entre eles, ou seja, eles estão ligados diretamente um ao outro por meio de relações<br />

concretas: o signo branco traduz o medo, pavor sentido pelas personagens, uma vez que,<br />

cientificamente, um dos sintomas do medo é a palidez. Todavia, há de se acrescentar que, além de<br />

ser uma tradução indicial, essa representação se fez de maneira simbólica.<br />

O símbolo concretiza essa tradução de maneira ainda mais forte porque é<br />

convencionado, elegido por senso comum. Assim, os efeitos de tal tradução são bastante<br />

perceptíveis a qualquer indivíduo, já que não dependem muito das experiências subjetivas de cada<br />

um. Quando se sente acuado ou tomado por qualquer pavor, o ser humano em geral fica pálido ou,<br />

segundo o senso comum: “branco de medo”. Embora o filme seja em preto e branco, o uso de<br />

maquiagem pálida ao longo do filme é bastante perceptível.<br />

Em uma das passagens da película, na qual os policiais vão de encontro a um possível<br />

ritual de vudu em um pântano de Nova Orleans e encontram um dos cultos ao Grande Cthulhu, o<br />

horror presenciado pelo inspetor Legrasse e seus companheiros é tão imenso que, em suas faces, o<br />

branco da palidez é claramente perceptível.<br />

Em outra cena, o próprio narrador-personagem vivencia o horror fruto de uma estatueta<br />

encontrada no ritual acima citado. Neste ponto sua face também se encontra bastante pálida,<br />

reforçando a característica amedrontada presente em todas as personagens que entram em contato<br />

com o horror ao longo do filme.<br />

O mesmo acontece com a questão dos olhos e pálpebras negras. Os olhos negros, nesse<br />

caso, as olheiras, expressam as noites mal dormidas, noites em claro as quais foram perturbadas por<br />

um motivo maior: o medo, terror.<br />

O uso desse tipo de maquiagem foi uma das opções do diretor da película para traduzir<br />

tais sentimentos e efeitos. O preto nos olhos também traduz de maneira simbólica e indicial. A cor<br />

negra representa as olheiras concretamente por fazer parte delas (se o indivíduo tem olheiras, ao<br />

redor dos seus olhos, a pigmentação escura é aparente) e simbolicamente por ser convencionado<br />

culturalmente (se uma pessoa não dorme há dias, além da aparência exausta, as olheiras são<br />

facilmente reconhecidas). Vale salientar os efeitos dessa representação. O efeito indicial,<br />

especialmente quando associado ao simbólico, aproxima o receptor por haver uma relação concreta<br />

entre signo e objeto. O espectador vê determinada tradução e prontamente associa tal relação.<br />

O uso de planos aproximados (nos quais temos uma grande aproximação entre a câmera<br />

e o objeto, focalizando-o) são em sua maioria aplicados nas personagens em momentos dramáticos,<br />

destacando o pavor. Já afirma Martin (2007, p. 37) que o “tamanho do plano aumenta conforme a<br />

sua importância dramática ou sua significação ideológica”. O plano geral por outro lado aplicado ao<br />

cenário ciclópico não possui somente caráter descritivo, mas, sobretudo, um “significado<br />

psicológico preciso” (MARTIN, 2007, p.38), ao sugerir um cenário tão grandioso que as<br />

personagens parecem ser engolidas diante de tamanha imensidão, simbolizando a fragilidade da<br />

raça humana.<br />

Na produção fílmica, o momento em que a tripulação de um navio chamado Emma<br />

aporta em uma possível ilha por demais estranha, o uso do plano geral associado ao cenário<br />

ciclópico sugere a superioridade dos seres horrendos, e em contraposição, a inferioridade da raça<br />

humana diante dos imensos monólitos.<br />

Essas opções do diretor da película são responsáveis por criar uma unidade de horror e<br />

conferir o pavor Lovecraftiano em sua obra, todavia, acredita-se ainda que o cineasta se prendeu<br />

ISBN: 978-85-7621-031-3

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