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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1152<br />
Diante dos dados mais salientes relativos à mudança semântica e morfossintática na fala e<br />
na escrita da comunidade linguística brasileira, observamos uma tendência de gramaticalização<br />
das conjunções, que segue uma trajetória do CONCRETO > ABSTRATO.<br />
Quanto à direção, a unidirecionalidade foi unânime, com destaque para o esquema<br />
semântico ESPAÇO > (TEMPO) > TEXTO, com 41% das ocorrências, confirmando para o<br />
português do Brasil a escala de abstratização crescente do esquema direcional semântico<br />
proposto por Heine et al.(1991) : PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE > ESPAÇO > TEMPO ><br />
QUALIDADE .<br />
Quanto aos esquemas formais, 61,8% dos estudos tiveram como resultado a trajetória<br />
advérbio > conjunção, tendo o advérbio como categoria fonte. Dentre as conjunções que<br />
resultaram desse percurso, podemos citar: Afinal, agora, agora que, aí, assim, até, contudo, já,<br />
logo, mas, no entanto, onde, por isso, porém e todavia. A segunda maior frequência foi do<br />
esquema nome > conjunção, com 14% dos estudos referentes às construções: no dia em que, na<br />
época em que, de forma que, na hora em que, à medida que, na medida em que, de modo a, de<br />
modo a que, no modo em que e tempo em que. Registramos também a ocorrência do<br />
desenvolvimento da conjunção para marcador discursivo, com o percentual de 14,4% das<br />
trajetórias.<br />
O total de 60,5 % dos estudos mostrou a metáfora como o processo exclusivo envolvido<br />
na gramaticalização das conjunções, e apenas 7,9% dos processos metáfora e a metonímia<br />
juntos, embora 11,8% dos estudos acusem a reanálise (por transformação metonímica) como<br />
mecanismo da mudança.<br />
Em relação à dimensão cronológica, a maioria dos estudos sobre a gramaticalização das<br />
conjunções foram realizados numa perspectiva diacrônica, com o total de 42,8%, seguido de<br />
40,8% de trabalhos sincrônicos, 9,2% pancrônicos e 7,9% estudos numa perspectiva sincrônica<br />
e diacrônica juntas.<br />
CONCLUSÃO<br />
Conforme o corpus estudado, as trajetórias de mudança das conjunções tendem a revelar<br />
a unidirecionalidade como uma propriedade da gramaticalização em fenômenos do português do<br />
Brasil, principalmente por meio da escala de abstratização crescente em um movimento FONTE<br />
> ALVO, resultando no esquema direcional semântico ESPAÇO > TEMPO > TEXTO.<br />
Tanto os estudos diacrônicos como os sincrônicos revelaram a tendência de<br />
gramaticalização por meio do esquema direcional formal advérbio > conjunção.<br />
Acreditamos que essa análise possa gerar novas discussões e esclarecimentos acerca<br />
desse tipo especial de mudança – a gramaticalização, bem como apresentar dados que mostrem<br />
as tendências de unidirecionalidade do processo de gramaticalização no português do Brasil.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BRINTON, L. J.; TRAUGOTT, E. C. Lexicalization and language change. Cambridge:<br />
Cambridge University Press, 2005.<br />
BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of frequency. In JOSEPH, B.<br />
D.; JANDA (eds.) The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell, 2003. p. 602-23.<br />
Reprinted 2007, p.336-57.<br />
_____. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3