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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1138<br />
O fragmento acima mostra um orador que usa uma voz melodiosa em sua<br />
pregação, unindo-se a este tipo de modulação os movimentos cinéstesicos-corporais<br />
vistos nas figuras 08, 09 e 10, trabalhando claramente no seu público o humor<br />
característico de outros discursos e gêneros e fortemente usado pela publicidade para<br />
envolvimento de seu público.<br />
O estudo dos níveis de análise tele-fílmica mostrando cena e sequência,<br />
juntamente com o estudo da gramática do design visual, em que se observa a postura do<br />
orador em relação ao público, possibilita a compreensão de que estes recursos<br />
publicitários e humorísticos envolvendo posturas da voz e movimento do corpo estão<br />
presentes no discurso religioso.<br />
Para se compreender os motivos que levam o discurso religioso a abrigar<br />
mecanismos da publicidade, recorre-se ao conceito de recontextualização elaborado pela<br />
ACD, aqui compreendido como um processo que pode ser visto como uma relação<br />
dialética entre os vários estilos presentes na sociedade, entendendo que, de um lado uma<br />
entidade externa (em nosso caso, o discurso publicitário) se expande em um novo<br />
espaço e por outro lado, espaços já pré-estabelecidos (como é o caso do discurso<br />
religioso), com suas próprias características são apropriados por outras práticas sociais.<br />
Este processo vai além da colonização das ordens de discursos por apresentar a<br />
relação dialética que se estabelece entre as práticas sociais envolvendo o discurso.<br />
Observa-se aqui um movimento oposto ao da colonização evidenciando que é o<br />
discurso religioso que se apropria de certas práticas sociais da publicidade, podendo<br />
expandir-se e, para muito além de sua manutenção, cria condições de adquirir novos<br />
adeptos em grande escala.<br />
CONCLUSÃO<br />
A análise dos dados revelou que ocorre a recontextualização do discurso<br />
religioso por meio de práticas da publicidade no evento “pregação religiosa” em uma<br />
relação dialética: uma prática constitui a outra sem, no entanto, reduzir-se a esta.<br />
Entende-se assim que a publicidade ganhou proporções onipresentes, pela<br />
necessidade que as instâncias sociais apresentam de produzir mercadorias para o<br />
consumo tal atividade consumidora, passa, portanto, da consideração dos objetos em<br />
seu valor-de-uso determinado pelas propriedades materialmente inerentes à mercadoria<br />
à agregação de um valor-de-troca simbólico. Se o primeiro se pode definir em termos<br />
individuais, este último é estritamente social, por promover o relacionamento entre<br />
diversos produtores.<br />
Fica claro por tanto que a prática do discurso religioso desenvolve determinados<br />
mecanismos tecnológicos e midiáticos para produzir aquilo que ficou conhecido como<br />
proposta única de venda da publicidade, em que o discurso religioso agora se propõe.<br />
Dentre os mecanismos constatou-se a primordialmente a presença, já usada pela<br />
publicidade, do discurso lúdico no evento social “pregação religiosa”, o que se pôde<br />
depreender pelo emprego de movimentos sinestésicos-corporais, próprios de domínios<br />
de outras práticas e eventos sociais, como as práticas teatrais. Dando ênfase a tais<br />
movimentos tem-se o uso de recurso tecnológicos, a exemplo dos jogos de ângulos de<br />
câmera próprios de um evento telefílmicono.<br />
Estas novas tendências do discurso religioso vêm confirmar o que se postula sobre<br />
publicidade, quando esta, por meio da globalização de caráter capitalista e neo-liberal,<br />
tem se tornado cada vez mais não só presente nas práticas sociodiscursivas como<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3