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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1115<br />
<strong>VII</strong> Salão de Iniciação Científica da <strong>UERN</strong> de 17 a 18 de outubro de 2011<br />
construída e custo. Ou seja, reduções na área da edificação não necessariamente acarretam redução<br />
proporcional nos custos. (ACE07, p. 71-72).<br />
Neste fragmento, o autor inicia uma discussão sobre redução de custos na construção de<br />
edifícios, citando Otero para mostrar que não há proporcionalidade direta entre o custo e a área<br />
construída. Em seguida, o autor retoma o discurso de Otero apresentando um comentário – no caso,<br />
uma explicação – sobre o conteúdo do discurso citado. O uso da expressão Ou seja já nos remete à<br />
uma ideia de algo que foi dito anteriormente e de que se vai comentar esse dito. Logo após, o autor<br />
do texto faz um comentário que é constituído por uma afirmação genérica, que procura esclarecer o<br />
conteúdo do discurso citado. Assim, o discurso do outro não é citado no texto de modo aleatório,<br />
mas tem uma funcionalidade e faz parte da trama textual do artigo científico em análise, já que ao<br />
retomar o discurso citado, o autor do texto tenta manter o diálogo e construir sentidos para o<br />
discurso que ele cita. No próximo fragmento, apresentamos um exemplo de retomada por meio da<br />
inserção de um discurso citado para reforçar um outro discurso citado:<br />
Como explicita Fairclough (2001: 136), o termo intertextualidade foi criado por J. Kristeva retomando o<br />
pensamento de Mikhail Bakhtin e se refere à configuração de textos e a proferimentos anteriores. Nas<br />
palavras do autor, “a intertextualidade do texto pode ser considerada como incorporando as relações<br />
potencialmente complexas, que tem com as convenções (gêneros, discursos, estilos, tipos de atividades) que estão<br />
estruturadas juntas e constituem uma ordem do discurso.”<br />
Por isso, “a intertextualidade manifesta é o caso em que se recorre explicitamente a outros textos específicos em um<br />
texto, enquanto a interdiscursividade é uma questão de como um tipo de discurso é constituído por meio de uma<br />
combinação de elementos de ordens do discurso” (Fairclough, 2001: 152). (ACE05, p. 27).<br />
Neste fragmento, procurando apresentar a origem do termo intertextualidade, o autor<br />
cita uma afirmação de Fairclough em modalização em discurso segundo: o termo intertextualidade<br />
foi criado por J. Kristeva retomando o pensamento de Mikhail Bakhtin e se refere à configuração<br />
de textos e a proferimentos anteriores. Para retomar e reforçar o discurso citado, o autor cita um<br />
outro discurso de Fairclough, desta vez em discurso direto, introduzido pela expressão Nas palavras<br />
do autor. É interessante observar que o autor usa um discurso citado direto para reforçar o discurso<br />
citado indireto porque, neste primeiro modo, o locutor procura reproduzir fielmente (tal e qual) as<br />
palavras do outro, conservando a integridade e a autenticidade do discurso alheio, assegurando,<br />
portanto, a veracidade do que é dito. Além disso, ao final do fragmento, o autor utiliza, mais uma<br />
vez, um outro discurso citado direto, desta feita para retomar e reforçar o conteúdo do discurso<br />
citado direto anterior. Portanto, ao retomar o discurso citado por meio de outro discurso citado que<br />
reforça seu conteúdo, o autor consegue estabelecer um diálogo em seu texto com vários outros<br />
discursos, construindo uma rede de sentidos entre esses vários discursos.<br />
Diante dos dados acima apresentados e das considerações realizadas sobre eles,<br />
percebemos que a referência ao discurso do outro em artigos produzidos por pesquisadores<br />
especialistas se dá através de vários modos de discurso citado, o que revela uma certa semelhança<br />
entre as áreas de Letras e Engenharia no que diz respeito a mobilização desses modos. O mesmo<br />
parece ocorrer com as formas de introdução e as formas de retomada do discurso citado nos artigos<br />
analisados, já que as mesmas formas foram mobilizadas – com maior ou menor recorrência – nas<br />
duas áreas. Entretanto, apesar das semelhanças, essas áreas apresentam algumas especificidades na<br />
mobilização do discurso do outro nos artigos científicos analisados, que são ressaltadas na<br />
conclusão deste trabalho.<br />
CONCLUSÃO<br />
Esta pesquisa buscou investigar como pesquisadores especialistas (doutores) de áreas<br />
diferentes do conhecimento (Letras e Engenharia) mobilizam o recurso ao discurso do outro na<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3