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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1203<br />
A escolha pelo corpus foi feita levando em consideração os contos que apresentam maior<br />
evidencia do mito do duplo. Inicialmente, estudamos o tema da dualidade em obras clássicas como<br />
O Banquete e República de Platão, e Metamorfoses de Ovídio; no decorrer de nossa investigação,<br />
também foram importantes os conceitos sobre o narcisismo formulados por Freud, dentre outras<br />
concepções sobre o duplo. Após o estudo da teoria, investigou-se a presença do duplo em contos de<br />
Guimarães Rosa.<br />
Na leitura pretendida, procuramos identificar metáforas que indiciam a temática do<br />
desdobramento do eu como o espelho, a sombra, a máscara, dentre outros. Sistematizando o<br />
trabalho em partes, as atividades foram assim desenvolvidas: 1) seleção de textos teóricos, literários<br />
e de crítica que nos ajudaram a ter uma visão ampliada dos contos eleitos; 2) leitura, fichamento e<br />
discussão do material teórico escolhido; 3) Análise e interpretação dos contos. Nessa etapa,<br />
iniciamos a produção de textos para a apresentação em sessão de comunicação em Congressos e<br />
publicação em <strong>Anais</strong> de eventos. Por fim, organizamos os resultados da pesquisa tendo em vista a<br />
elaboração do Relatório final.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Sagarana (1946) foi seu primeiro livro publicado. Nessa coletânea de contos,<br />
Guimarães mostra sua personalidade estilística e literária, deixando claro sua preferência por temas<br />
ligados ao universo do sertão e, sobretudo, às questões humanas. A primeira versão da obra contava<br />
com doze contos e aproximadamente quinhentas páginas, reescrito e publicado dez anos depois,<br />
figurava com apenas nove contos e cerca de trezentas páginas. Quanto ao título, é constituído da<br />
fusão de “Saga” – do germânico, significando “conjunto de estórias orais” – com o sufixo “-rana” –<br />
do tupi, “à maneira de”, ou seja, o livro é composto por contos narrados à maneira de histórias orais.<br />
Dentre os contos de Sagarana, o que é visto com maior relevância é “A hora e vez de<br />
Augusto Matraga”. Ao compor o personagem Augusto Matraga, Guimarães Rosa cria dois<br />
personagens distintos dentro de um só, sendo um deles o Nhô Augusto Esteves das Pindaíbas,<br />
homem temido e prepotente, e o outro Nhô Augusto, homem criado sob a religiosidade da avó, que<br />
trocam de lugar em determinadas passagens de suas vidas. Esse é apenas um dos personagens que<br />
demonstra a sutileza e habilidade de Rosa como escritor.<br />
Com a publicação de Primeiras Estórias em 1962, Guimarães Rosa mais uma vez<br />
surpreende os críticos literários pelo investimento poético e formal na composição de suas<br />
narrativas curtas. Os vinte e um contos desta coletânea tematizam, de um modo geral, problemas<br />
inerentes à condição humana. Uma das características rosianas, observada nos contos de Primeiras<br />
Estórias e tida como marca recorrente em sua ficção, chamando a atenção do leitor, é o modo como<br />
ele enfoca a fala de seus personagens como pontos centrais de suas tramas.<br />
Primeiras Estórias é marcado pelas simbologias expressas no discurso narrativo,<br />
observadas desde as figuras que aparecem no índice da obra. É o teor simbólico observado no<br />
decorrer do conto “O Espelho” que cria uma atmosfera de experiência fantástica, provocando à<br />
sensibilidade dos leitores atentos e propiciando fascinantes reflexões sobre a essência humana. A<br />
obra faz jus à mestria de Guimarães Rosa, figurando como um de seus grandes legados.<br />
Sobre o conto “A hora e vez de Augusto Matraga”<br />
No conto “A hora e vez de Augusto Matraga” o personagem central, Nhô Augusto é o<br />
signo do duplo, sujeito dividido entre o bem e o mal, que experimenta o sabor do poder e do<br />
desamparo, contra tudo e contra todos até o desfecho narrativo que acontece após ele perder seus<br />
bens, família e honra, quando um major rival manda matá-lo. Porém é numa trajetória de vida que o<br />
personagem Nhô Augusto, destronado de sua condição de fazendeiro, num exercício de negação de<br />
suas atitudes demoníacas, consegue sobreviver e reconstruir sua vida através da caridade e do<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3