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<strong>Anais</strong> do <strong>VII</strong> <strong>SIC</strong> 1105<br />
homens; pois que eles não podem alegar outra superioridade que a força do corpo,<br />
para justificar o cuidado que têm de arrogar a si toda autoridade e prerrogativas e<br />
que não provam outra incapacidade nas mulheres, que possa privá-las de seu<br />
direito, senão a que resulta da injusta opressão dos homens, que é fácil refutar.<br />
(FLORESTA, 1989, p. 86).<br />
Dessa forma, Nísia Floresta segue em todos os capítulos questionando a posição social<br />
ocupada pela mulher, sua condição estereotipada e inferiorizada em relação aos homens e a<br />
dificuldade/privação das mulheres de terem acesso às ciências, fato que as deixa fora do mercado de<br />
trabalho.<br />
Nossa segunda autora, Zila Mamede, além de pertencer a uma época diferente da vivida<br />
por Nísia Floresta, apresenta também uma forma de escrita distinta, e temas variados são abordados<br />
em seus versos e poemas. Os quais têm quase sempre a paisagem do sertão nordestino como<br />
moldura das cenas resgatadas em sua memória e vividas em suas lembranças.<br />
Zila Mamede lançou seus primeiros livros na década de 50. O primeiro deles foi: “Rosa<br />
de pedra”, em 1953, “Salinas”, em 1958, “O arado”, em 1959, a que se seguem outros dois:<br />
“Exercício da palavra”, em 1975 e “Corpo a corpo”, em 1978. Neste mesmo ano estes cinco livros<br />
foram reunidos em um único volume intitulado de “Navegos”, que é a junção em uma única edição<br />
dos livros citados. Nos quais Zila Mamede aborda variados temas, desde: infância, memorialismo, a<br />
família e o sertão. Nestas obras também encontramos com saliência alguns retratos da figura<br />
feminina. E quando ela aborda a questão do feminino em seus poemas apresenta uma mulher<br />
vivendo um dilema. Por um lado estagnada, encerrada em um estado de contenção, ocultação, mas<br />
que por outro revela uma mulher com vontade de doação e de entrega, todas elas emolduradas na<br />
paisagem do sertão nordestino.<br />
O livro “Navegos” é uma reunião homogênea de partes heterogêneas. Como as obras<br />
individuais foram produzidas em épocas diferentes elas apresentam diferença desde sua forma<br />
estrutural como em relação aos conteúdos temáticos. E o primeiro livro deste conjunto é “Rosa de<br />
Pedra”, o qual é composto quase que todo ele por sonetos, revelando uma tendência estrutural e<br />
uma estética fechada. Mas, ao longo do livro Zila Mamede oscila em sua escrita formal, revelando<br />
forte lirismo em seus poemas e apresentado novas propostas para a poesia como uma construção<br />
formal.<br />
No livro “Rosa de pedra” o mar aparece constantemente, o qual Zila Mamede recorre<br />
frequentemente como um elemento de fuga e libertação, tenebroso, mas que ao mesmo tempo<br />
alimenta os sonhos e as ilusões dos que ficam na praia a observar o que ele vem lhes trazer. O mar<br />
é, pois, elemento simbólico dos seus poemas, é como a moldura de um retrato do seu tempo de<br />
criança. Criança ingênua e sonhadora, a qual em alguns poemas parece alimentar um amor<br />
platônico típico de adolescente. Assim, se constrói uma imagem idealizada, frágil e sonhadora da<br />
mulher, colocando-a como musa, mas incerta, incompleta e que alimenta um amor platônico,<br />
sobretudo pelo fascínio que a grandiosidade e mistérios que a imensidão do mar produz nas pessoas.<br />
Assim, Zila Mamede pinta sua infância com areia da praia e a colore com a água salobra<br />
do mar. E mostra às vezes uma infância triste sofrida: “[...] nessa infância de medos tatuada, /<br />
querendo-me em beber de inacabada / procura que, em meu ser, superaria / a minha triste infância<br />
renegada.” (MAMEDE, 1978, p. 186). Assim, ela revela uma infância cheia de tristezas, angustias e<br />
incertezas.<br />
O livro seguinte, “Salinas” de 1958, dá seqüência ao canto lírico ensaiado em “Rosa de<br />
pedra” para posteriormente desabrochar com toda força em “O arado”. Assim, “Salinas” é visto<br />
como “um livro de transição”. De modo que os elementos presentes que são temáticos em seus<br />
poemas como o mar, o rio, a rua e a natureza apresentam-se bem mais objetivos e concretos.<br />
Contudo, “Salinas” mostra uma mulher assustada diante dos problemas, mas que luta,<br />
sobretudo para sobreviver. Sem contato eliminar as incertezas e questionamentos que pairam a<br />
ISBN: 978-85-7621-031-3